Menos e mais
Eu não levo nada daqui, apenas as coisas que vivi.
Assim, entre acumular riquezas materiais, escolho cultivar gente. E não há nada melhor do que gente, com suas loucuras, medos, manias ou sem elas.
Há um momento na vida em que concluímos o que realmente importa e o que de fato é importante. Para uns demora mais, para outros menos, mas mais cedo ou mais tarde esse instante vem e te devora. E você, prazerosamente se deixa ser devorado. Você avalia suas escolhas passadas para redefinir os passos futuros.
Com a alma na lua e o coração nas estrelas, pensa: "se soubesse dessas coisas antes". Talvez, teria feito escolhas diferentes, mas no fundo sabe que os erros lhe garantem o acerto certeiro no novo tempo que surge e age com a certeza de um apaixonado que inconsequente revela suas intenções e poesias, ingenuamente. E a ingenuidade é um doce que por mais que se torne amargo lá na frente, ainda assim confere à boca uma perícia incrível para distinguir e desfrutar melhor todos os sabores que a vida pode oferecer. E, então, conclui:
Desabafaria menos, teorizaria menos, arriscaria mais, experimentaria muito mais. Experimentaria aquilo que nunca foi experimentado, conferiria por mim mesmo as filosofias, ciências, artes, jeitos e novos jeitos de fazer e colocaria em prática os sonhos e os desejos. Correria menos, falaria menos, apreciaria mais, ouviria muito mais. Ouviria a todos com a atenção de um terapeuta e absorveria as falas, especialmente aquelas com versos sem rimas que nos ensinam tanto até sobre nós mesmos. Ouviria mais até as músicas que não gosto e ouviria muitas vezes mais as músicas que me fazem dançar, chorar, pensar em alguém... Veria menos TV, ficaria menos na internet, leria mais, escreveria muito mais. Escreveria sobre o que entendo e o que não entendo. Escreveria muito mais poesias, muito mais cartas e colocaria no papel aquilo que sinto acerca de cada um e enviaria minhas doces e estúpidas revelações. Saberia menos, teria menos, estudaria mais, seria muito mais. Ser eu mesmo, ser tudo que posso ser, único, talvez insubstituível, nem sempre estimado ou elogiado, mas ser o que sou sem querer ser outra coisa. Tá bom! De vez em quando até gostaria de ser outra coisa, tipo uma águia, um modelo musculoso, um humorista, uma abelha, Brad Pitt ou um peixe... mas, afinal, é isso que sou: sonhador. Seria mais essa imaginação que flutua no espaço, seria mais esse ser tão perdido que admite que quer se encontrar consigo mesmo. Teria menos medo e seria mais corajoso, assim como seria mais livre ao mesmo passo que mais preso aos ideais que me movem. Me limitaria menos e passaria mais tempo com aqueles que me encantam. Riria mais, muito mais e seria menos sério, menos dramático. Seria mais exagerado e pararia sempre às 5 da tarde, sem me compromissar com as horas posteriores. Olharia mais para os que me rodeiam e esconderia menos o que sinto. Suportaria mais as ausências e deixaria todo o resto para imediatamente ir ao encontro daqueles que sinto falta. Priorizaria mais aquilo e aqueles que me priorizam. Valorizaria mais a arte que emerge do meu trabalho e me esforçaria mais para ser melhor sempre. Cultivaria mais os amores...
As pessoas nos garantem tudo que precisamos: desabafos, teorias, riscos e experiências. Corridas, conversas, olhares e sons. Leituras, escritas e palavras. Conhecimento, abdicações, o que somos e o que queremos ser. Momentos. Não há desperdício de tempo quando se acumula gente. Porque, no final das contas, independente de quem você foi e de como você agiu perante a vida e o que fez com o tempo que lhe foi concedido aqui nessa atmosfera, você não levará nada, absolutamente nada, a não ser as coisas que viveu.
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