Outros lugares na trajetória de Raimundo Perez e Mario Massena

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Outros lugares na trajetória de Raimundo Perez e Mario Massena
Outros lugares na trajetória de Raimundo Perez e Mario Massena

O ocaso das vanguardas e o fim das utopias no século XX levaram muitos críticos a afirmarem que as artes plásticas caminhavam rumo a um colapso. Esqueceram, porém, esses analistas, de ressaltar a capacidade da arte em renovar-se em si mesma. O artista de hoje consegue olhar para trás e nas entrelinhas do modernismo reescrever a própria história da arte.

Por esse caminho a atual mostra Outros Lugares, dos artistas Raimundo Peres e Mario Massena, revela novas facetas nos seus trabalhos. Aquarelista experiente, Raimundo Peres desdobra em cinco pequenos formatos sua visão de uma paisagem urbana silenciosa e fantasmagórica. Colorista por excelência trabalha dessa vez numa escala tonal bastante reduzida, na qual até os azuis são cinzentos. Desses tons insinuam-se as linhas construtivas do desenho agora mais cerebral, calculado, elaborado com sensibilidade. As cores e pinceladas determinam os volumes criando simultaneamente um espaço entre eles, um pequeno resíduo de céu, recorte que o artista registra como janela de escape numa paisagem cinza e desvitalizada. Peres consegue, com concisão e reduzido repertório de elementos, explorar e colocar à disposição do espectador esse tão imenso e pungente sentimento humano que é a solidão. Já nos três desenhos em técnica mista do pintor Mario Massena evidencia-se uma linguagem repleta de informações: referências barrocas, fragmentos de textos, símbolos e resíduos de desenhos que constituem um fundo em movimentado caos. Em contraponto, um jogo de linhas rigorosamente pintadas de preto se cruzam emanando do conjunto uma tensão contida. Percebe-se a busca por uma harmonia, mas sem perder de vista a expressividade. O artista persegue o encontro da totalidade num confronto de valores que se complementam na fusão dos opostos.

Cabe, portanto, ressaltar nesta mostra a capacidade desses artistas em atualizar seus próprios discursos e parâmetros e mesmo às vezes atuando em parâmetros já conhecidos conseguem dar um novo foco às suas percepções.

Vale a pena visitar a exposição que estará até o dia 23 de dezembro na – não menos inusitada – Galeria da Escada, muro de pedra que circunda o belo casarão em estilo chalé francês de fins do século XIX, na Rua Monte Líbano, 44, bem no centro de Nova Friburgo. Aproveite para bater um papo com os artistas!

Rogério Spanzelli

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