Oswandil Carlos Quimas tem 85 anos (faz 86 dia 6 de abril próximo). É o tipo de pessoa que se pode chamar de “pau para toda obra”. No entanto, ele prefere o título de técnico agrícola, pois ultimamente tem se dedicado mais à produção de mudas de plantas e flores no horto municipal, situado no Vale dos Pinheiros.
Nesta entrevista, Oswandil fala um pouco de sua dedicação às plantas de um modo geral. Até poda nos eucaliptos da Praça Getúlio Vargas ele já fez. Muitas árvores hoje frondosas no centro da cidade foram plantadas por ele, que garante: se o governo municipal quiser, os jardins das praças podem ficar mais bonitos. Ele providencia as mudas.
A VOZ DA SERRA – O senhor poderia ser chamado de horticultor porque começou trabalhando com hortas, depois mudou para jardins e flores. Quanto tempo o senhor trabalhou com hortas?
OSWANDIL – Junto com a horta a gente trabalhava com outras coisas: milho, inhame, mandioca. Era agricultura geral, na Vargem Grande (Cônego), onde meu pai morava. A horta era a base de tudo.
AVS – O trabalho com a horta durou quanto tempo?
Oswandil – Até 1983, quando eu vim para a Prefeitura. Já vai para 30 anos.
AVS – O que o senhor passou a fazer na Prefeitura?
Oswandil – Nós podamos a praça toda, limpamos, adubamos as plantas todas. Nós a deixamos novinha. Os eucaliptos estavam há muito tempo abandonados, podamos aquilo tudo, tiramos os galhos secos...
AVS – O senhor subia nas árvores?
Oswandil – Eu andei subindo, não lá em cima, mas para tirar os galhos mais baixos. E foi sem os bombeiros, porque tinha muitos técnicos de poda, subiam nas árvores e descia tudo no “paraqueda”: amarrava uma corda e o galho não caía, ia descendo na corda.
AVS – Como o senhor analisou essa poda agora?
Oswandil – Olha, eu não podaria assim. Em 83 eu falei que era para fazer uma poda a cada dez anos. Só que acumulou três podas, ficou perigoso, olha o tamanho dos eucaliptos nesses 30 anos. Agora não foi poda, foi corte baixo. Eu penso diferente. Eu não faria como foi feito. Eu tiraria todos os galhos de cima—eles têm máquina, têm tudo aí—, cortava um bocado das raízes, e puxava, na hora que a árvore caísse inteira já levantaria muitas raízes. Aí não ficaria como está agora, que vai dar muito trabalho para tirar aquele toco. Ficaria muito mais fácil que arrancar o toco agora.
AVS – O senhor chegou a trabalhar com renovação dessas árvores?
Oswandil – Sim. Foi no governo do Paulo [Azevedo]. Eu fiz muitas mudas e plantamos. Estão grossas assim, altas!
AVS – Quer dizer que se quiserem fazer uma renovação dos eucaliptos tem jeito?
Oswandil – Muito fácil. É só produzir a muda. Eu andei semeando na minha casa, apanhei sementes agora, dessa poda aí, mas não sei se já nasceram. Dentro de três anos estarão com mais de cinco metros.
AVS – Este é o seu trabalho atualmente no horto?
Oswandil – É, lá tem muita muda que estou fazendo. As extremosas, por exemplo, estão quase acabando, pois já tem dois anos que não levam galhos para a gente fazer viveiros.
AVS – Mas é possível fazer uma recomposição com extremosas na cidade?
Oswandil – Eu acho que a extremosa é para lugares com calçadas largas, para ela não atrapalhar. Às vezes plantam em calçadas estreitas e não pensam no pedestre, que acabam quebrando tudo. Nossos irmãos não estão pensando no amanhã. Eles nem têm ideia do que é o ambiente. Nosso ambiente aqui, agora, é dentro desta sala, mas o ambiente de todo mundo é lá fora. E o povo parece que não está preparado para viver numa cidade moderna. A gente anda por algumas cidades e elas estão bonitas, arborizadas, ninguém quebra nada...
AVS – O senhor acha que Nova Friburgo tem pouca árvore?
Oswandil – Olha, já teve muitas e podia ter mais. Deveria haver 20 árvores para cada habitante. A criação de condomínios no meio das matas acaba com tudo. Estão invadindo as matas e as nascentes, secando tudo. Na Caledônia não era para ter nenhum morador lá para a água ser pura, mas fazem lotes, os administradores vão autorizando, e a água vem de onde? Da montanha. Quem fez a terra e botou a nascente lá em cima? Era um cara inteligente, né?
AVS – E o que mais tem no horto?
Oswandil – São plantas de jardim: azaleias, camarão-vermelho e amarelo... E estão muito bonitas.
AVS – Por que então essas mudas não são plantadas na cidade?
Oswandil – No dia que falarem para liberar eu sou capaz de fazer isso. Mas o material humano hoje está muito difícil. O pessoal acha que trabalhar com as mãos na terra é falta de vergonha na cara, que a gente tem que trabalhar noutra coisa. No Cônego, onde moro, tem árvore com mais de um metro de grossura que eu plantei. Foi tudo trabalhando com enxada, ferramenta de roceiro. A máquina que eu tive foi um motor para molhar.
AVS – O senhor disse que se saísse do horto hoje não teria um herdeiro?
Oswandil – Não tem. As pessoas não querem aprender porque acham que é um trabalho de segunda, e não é. Na plantação de flores o Brasil está muito lá embaixo. Isso rende muito dinheiro. Nova Friburgo já foi a Cidade dos Cravos. Eu cheguei a plantar muito cravo no horto, muita muda de hortênsia.
AVS – É preciso fazer faculdade para lidar com isso ou não?
Oswandil – Não. Tem que ser técnico, que se aprende nas escolas de tecnologia. São três anos de curso. Eu acho que não tem em Nova Friburgo. Tinha no Ibelga, mas parece que não tem mais.
AVS – E a pessoa que quer aprender a lidar com plantas como deve fazer?
Oswandil - É raro o dia que alguém não me pergunta. E eu digo para ir ao horto, eu mostro com faz o viveiro, como põe o adubo... Nós já demos cursos de jardineiro no horto. Tinha muitos alunos, embora muitos tenham começado e não continuaram.
AVS – Então, quem quiser aprender a lidar com plantas pode te procurar no horto?
Oswandil – Pode. Eu chego às 6h50, dou um pulo em casa, almoço, e fico até 15h50.
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