(SECOM) Quem os viu pelas ruas, durante o fim de semana, pôde comprovar. Totalmente à vontade, integrados à cena da cidade, os suíços tiveram nesta sua recente estada em Nova Friburgo uma acolhida fraterna. Da fantástica cena natural, na tarde do sábado, 17, em que a imagem da névoa alpina na Fazenda Campestre, em São Lourenço, parecia ter sido encomendada para recepcioná-los e fazê-los se sentir em casa, ao que disse, na noite de domingo, durante a apresentação conjunta com a Campesina, o presidente da fanfarra La Gerinia de Marly, Jacques Newly - “Aqui, realmente, nós encontramos irmãos” - tudo realçava a amizade que une esses dois povos.
Foram dias memoráveis de emoção e amor. Na mescla das cores verde e amarelo e vermelha e branca das bandeiras do Brasil e da Suíça, o resultado foi um colorido vibrante, ressaltando a força da união entre os primos ao mesmo tempo, tão distantes e tão próximos. Foi uma programação intensa, diversificada e empolgante.
Uma festa suíço-brasileira
Dois povos, duas culturas, uma só animação
Os 327 suíços que pousaram no Brasil na madrugada de sexta-feira, 16, e chegaram a Nova Friburgo na manhã do mesmo dia, não poderiam imaginar o espetáculo do qual participariam e ao qual assistiriam no sábado, 17. O cortejo foi muito mais do que um desfile de culturas, mas uma união entre passado e futuro, num elo de história e amizade.
Quem esteve presente à praça Dermeval Barbosa Moreira, na concentração para o cortejo, se impressionou com o número de abraços entre famílias descendentes e seus parentes distantes. Num olhar, um oceano se encurtava e tudo ficava mais próximo, como se a Suíça fosse logo ali. Mas, no sábado, a Suíça mudou-se mesmo para Nova Friburgo e integrou-se à sua cidade irmã. Do Canton de Fribourg para Nova Friburgo: uma viagem de história e amizade. O prefeito Heródoto Bento de Mello contou a bela aventura de seu irmão, Ariosto, em busca das raízes friburguenses.
Em incursão a Suíça, o engenheiro Ariosto Bento de Mello foi visitar o historiador Martin Nicoulin, que havia escrito o livro a La Gênese du Nova Friburgo. Sem encontrá-lo, Ariosto deixou um bilhete, cuja mensagem era simples: “Estou hospedado no hotel (?). Quero lhe falar. Seu amigo, Ariosto”. Ao chegar em casa, e ler o bilhete, Martin respondera consigo mesmo: “Vou até lá. Se a conversa prestar, fico; se não, dou bonjour e vou embora”. Mas no hotel, os dois conversaram até o dia seguinte, nos primeiros e grandes passos para o que seria a Associação de 30 anos de muito sucesso e amizade.
No cortejo, um show de animação
A alegria e simpatia dos visitantes contagiaram o evento desde o seu primeiro dia. A principal avenida da cidade, a Alberto Braune, de repente se transformou, na manhã do sábado, 17, para o cortejo de recepção aos coirmãos suíços do Canton de Fribourg, um dos principais colonizadores do município.
A comitiva, com mais de 300 visitantes, entre eles diversas autoridades, desfilou esbanjando muita simpatia e alegria. Como bons anfitriões, os friburguenses abriram espaço para que os suíços passassem primeiro, saudando as gerações de famílias nascidas do ventre gelado do Canton de Fribourg. A ideia de sisudez que se faz do povo suíço se desfez em sorrisos, quando o friburguense, boquiaberto, assistiu à desenvoltura das bandas suíças, que tocaram até samba.
O desfile teve a participação de grupos artísticos e folclóricos da Suíça e de Nova Friburgo - Brass Band de Treyvaux, La Gérinia de Marly e Guggenmusik Les Trois Canards (grupo de carnaval europeu), além do coral Rosa Nova e do grupo Les Coraules de Bulle - mostrando um pouco da música e da cultura do país colonizador. Os friburguenses não só prestigiaram, como retribuíram com apresentações locais. Era apenas uma prévia do que está por vir, na comemoração das três décadas de intercâmbio.
Cerca de 1.500 alunos da rede municipal de ensino participaram. Na praça Dermeval, a concentração para o cortejo, um coral formado pelas escolas Hermínia Condack e Vivey La Jolie, regido pela professora e musicista Marlene Moreira, deu um toque carinhoso de boas vindas. As crianças cantaram Le vie chalet, canção típica daquele País e ainda Grande alegria em recebê-los, de autoria da professora Marlene, que fazia questão de explicar à imprensa que a preparação das crianças, não se limitou aos ensaios musicais. “Eles tiveram aulas de geografia e história sobre Nova Friburgo e a Suíça, de forma que estivessem totalmente envolvidos”.
Instituições de destaque, como a banda da Sociedade Musical Campesina Friburguense, o Instituto de Esportes e Cultura (Inec) e seu grupo de ginastas; representantes das dez colônias que fundaram o município; a Aliança Francesa e seu coral Allons Chanter; a Fanfarra Municipal, a Oficina Escola de Artes e ginastas da Vila Olímpica da Mangueira também participaram do desfile.
O povo friburguense se integrou à animada festa, desde as bandeirolas da Suíça e de Nova Friburgo, penduradas nas janelas até a curiosidade aguçada. Foi o caso do comerciário Fernando Luis Alves. Da porta do estabelecimento onde trabalha, ele viu “pela primeira vez na minha vida”, a chamada Cor des Alpes, (uma trompa alpina, um instrumento típico de sopro do Século XIV e que pode chegar a ter até 18 metros) que fizeram parte da apresentação do Les Couralles (de Bullet).
No olhar do prefeito Heródoto, empolgado com o que via e, emocionado com a lembrança do irmão Ariosto, via-se ainda a história de toda essa relação de 191 anos, que ganhou mais um capítulo de homenagens em seu livro de saudade e muitos planos para o futuro, enquanto os grupos suíços e locais desfilavam sua cultura no rico e fértil chão friburguense.
Em meio à integração dos dois povos, que, mesmo apartados por um oceano, pareciam pertencer ao espaço comum, duas crianças - Jean, friburguense e Jean, de Fribourg - homônimos e completamente estranhos um ao outro, brincavam como se fossem gêmeos, símbolos de uma distância física, porém próxima ao pensamento e à amizade histórica.
Nos discursos, o futuro
O presidente da seção brasileira da Associação Fribourg-Nova Friburgo, Roberto Wermelinger, descendente direto da linhagem suíça, discursou aos antepassados dessa união, saudando a Martin Nicoulin, Ariosto Bento de Mello, idealizadores do encontro entre os povos, e cumprimentou especialmente ao historiador Carlos Jayme Jaccoud (presidente que o antecedeu na Associação), “Espero, do fundo do coração, que nossa acolhida possa ser apreciada por todos e que nossos laços de amizade possam crescer ainda mais”. – destacou em sua fala.
Raphael Fessler, presidente da Associação Fribourg-Nova Friburgo, na Suíça, prestou um testemunho emocionado do passado de colonizador: “Não esquecemos que, em 1819, éramos, de uma certa maneira, refugiados econômicos. É por isso que temos que agradecer esta terra brasileira, que nos acolheu. Podemos dizer que Nova Friburgo é filha de Fribourg. Mas, com Nova Friburgo queremos relações isentas de paternalismo. Queremos relações iguais, sabendo que cada um traz um valor para o outro”.
O embaixador da Suíça no Brasil, Wilhelm Meier, intitulou seu discurso de Amigos para sempre e trouxe seu abraço da presidência daquele país, ressaltando os laços de amizade entre as duas nações.
“Em nome da autoridade da Confederação Suíça, gostaria de agradecer profundamente pelo empenho deste povo nesta homenagem. A presença dos amigos suíços e brasileiros aqui mostra os fortes laços entre os dois países. Alegro-me que já tenhamos atingido sucesso concreto na economia e espero que possamos nos unir cada vez mais em prol do desenvolvimento mútuo”, disse o embaixador.
O prefeito Heródoto Bento de Mello, com um sorriso de contentamento estampado no rosto, falou do futuro: “É preciso, mais do que do passado, falar do futuro. Vejo sempre a mão de Deus em tudo no que fazemos e a vejo aqui, agora, nos guiando para os nossos duzentos anos de história e amizade. Em 1976, a Associação começou, mas há 191 anos ela está arraigada em nossos costumes e maneira de ser. Agora estamos, mais uma vez, comemorando este intercâmbio de irmãos, rumo ao bicentenário de Nova Friburgo. Eles trouxeram para nós a sua cultura. Com a mesma força que construíram nosso passado, construiremos o futuro”.
E tudo acabou em samba
Quando a última banda suíça passou, ninguém arredou pé do lugar e esperou a delegação friburguense passar, com seus tambores, desportos, bandas musicais, manobras circenses e muito samba. Quando já se esperava o apito final para o evento, um final apoteótico: As cinco escolas de samba de Nova Friburgo, unidas em uma só agremiação, cada uma com uma ala diversa, invadiram a Alberto Braune, quebrando o protocolo e botando friburguenses e suíços para sambar. Os prefeitos Heródoto e Pierre-Alain Clément , o syndic (síndico) de Fribourg, não fizeram charme: desceram do palanque e caíram na folia, contagiando a todos, que estenderam a animação.
Além dos cinco grupos musicais, a caravana suíça também traz autoridades: a conselheira nacional Marie-Thérèse Meyer-Kaelin (sobrinha do padre Pierre Kalein); o chanceler de estado Danielle Gagnaux; o também conselheiro de estado Pascal Corminboeuf e dois prefeitos: Pierre-Alain Clément (Fribourg) e Jean-Claude Schuwey (Bellegarde), além de três conselheiros comunais: Markus Baumer, Charles de Reyff e Madeleine Genoud-Page, cujos cargos correspondem a vereadores.
No Brasil, as autoridades presentes eram do legislativo friburguense: o presidente Sérgio Xavier; o vereador e líder do Governo, Marcelo Verly, além dos vereadores Edson Flávio, Isaque Demani e Manoel Martins; bem como as presenças do secretariado municipal, liderados pelo secretário Geral de Governo, Braulio Rezende e dos deputados federais Marcelo Itagiba e Felipi Pereira. Além do embaixador, e sua mulher, estava também presente o cônsul da Suíça no Rio, Roland Fischer.
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