Os obstáculos de 17 km diários de bicicleta, de casa até o trabalho

Morador de Riograndina, barbeiro Margreick Dutra vai de pedal até seu salão, em Olaria, numa rotina corajosa. Assista ao vídeo
sábado, 17 de agosto de 2019
por Alan Andrade (alan@avozdaserra.com.br)

Nos dias atuais, resiste bravamente a consciência da sociedade de que o uso das bicicletas é de vital importância não apenas para a preservação do meio ambiente, sem uso de combustíveis e emissão de gases poluentes, mas também para a saúde física e mental de seus usuários.

Aqui no Brasil, cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba se destacam pela ciclomobilidade. Em 2014, a cidade de São Paulo experimentou uma enorme expansão de suas ciclovias – em cerca de 7 meses, seu número saltou de 63 para mais de 200 quilômetros de extensão.

Existem exemplos inspiradores de cidades mundo afora, especialmente no eixo dos ditos países desenvolvidos, nos quais existe vontade política para promover tamanho bem-estar, como Copenhague (Dinamarca), Amsterdã e Utrecht (Holanda). Esta última serve como modelo para municípios de médio porte, como Nova Friburgo, na promoção para a cultura cicloviária: mais de 600 mil habitantes da região metropolitana são contemplados por uma grande rede de infraestrutura para este meio de locomoção.

Para se analisar as condições ideais para a implantação de uma “cultura da bicicleta”, além da existência de uma infraestrutura adequada, faz-se necessária a avaliação da sensação de segurança por parte dos ciclistas em relação aos demais meios de transporte. 

Para Margreick Dutra, barbeiro de Nova Friburgo, que utiliza sua bicicleta para percorrer diariamente os 17 km que separam sua casa em Riograndina do seu salão em Olaria, muitos de seus amigos ainda não aderiram ao uso das “magrelas” no seu cotidiano por não desfrutarem de uma infraestrutura segura: “Eles gostariam de fazer este trajeto e não fazem, porque não têm disposição para enfrentar os carros, o trânsito. É perigoso”. 

Vale ressaltar que, segundo o art. 24 do Código de Trânsito Brasileiro, inciso II, “Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição, planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas”.

Planejamento questionável

Dentro do Pacote de Obras publicado pela Prefeitura Municipal de Nova Friburgo em 8 de abril de 2019, encontra-se a implantação de “uma ciclovia às margens do Rio Bengalas, ligando os bairros Duas Pedras ao Paissandu”. Contudo, a execução da obra, que custa aos cofres públicos a vultuosa quantia de R$ 999 mil, tem gerado descontentamento por parte de ciclistas, entre eles Margreick. Segundo ele, a ciclofaixa, que deverá ser compartilhada com pedestres, “não está sendo pensada para o bem-estar do ciclista e do pedestre. Está uma coisa meio tumultuada, o espaço não está legal”.

Como noticiou A VOZ DA SERRA no dia 2 de agosto, a obra de ciclovias ganhou “desvios” de concreto nos trechos onde há postes no meio do caminho. Em entrevista ao nosso repórter Guilherme Alt, o subsecretário de obras, Sérgio El Jaick, deu uma declaração que repercutiu negativamente nas redes sociais: “o projeto inicial da ciclovia já contemplava a manutenção dos postes devido ao fato de sustentarem a rede de alta tensão”. Diante de uma obra com um planejamento questionável, cabe ao ciclista arriscar sua segurança ao dividir o espaço das ruas com os automóveis.

Segundo o art. 38 do Código de Trânsito Brasileiro, parágrafo único, “Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via a qual vai sair, respeitadas as normas de preferência de passagem”. 

Entretanto, numa cidade onde motoristas não cultivam o hábito de dar setas para indicar para qual direção desejam seguir, dificilmente é possível vislumbrar que o ciclista não seja constantemente “fechado” pelos automóveis.

Numa sociedade carente de políticas voltadas para a sustentabilidade, os usuários de bicicleta como meio de locomoção urbana, a exemplo de Margreick, ainda terão muitos obstáculos, postes e falta de educação no trânsito pela frente. Cabe ao poder público apenas a vontade e a criatividade para torná-las possíveis.

 

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