Os (in)competentes

segunda-feira, 03 de setembro de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Ricardo Lengruber Lobosco

Secretário municipal de Educação

Competência, segundo a Psicologia, é a capacidade para realizar. É fazer com que algo que não exista venha à tona e ser torne real. Competência é a arte de fazer nascer coisas novas. 

Mas, por outro lado, nos termos do Direito e da Administração, competência é a delimitação do poder dado a alguém ou a uma instituição. 

Num caso, competência é o que expande a mente e cria universos novos e cheios de possibilidades. Noutro, é aquilo que determina os limites de ação e responsabilidade. 

Mas, tanto num quanto em outro caso, competência é a determinação do que fazer e do que não fazer. É, em outras palavras, o limiar entre o sim e o não. 

Competente é o que sabe fazer, mas, além disso, sabe o que lhe cabe ou não realizar. O competente conhece limites. 

Na administração pública, o que se espera é que haja indivíduos competentes. Tanto porque saibam realizar aquilo a que foram designados, mas também que conheçam os limites de sua ação e não enveredem por sendas que não lhes cabem. 

Dizer que o bom administrador público deve ser um técnico competente é o mesmo que esperar que todo um oceano caiba num copo d’água. Não há como possuir competência técnica em tudo que demanda a administração da coisa pública. O máximo que se pode esperar—e de tão raro parece utópico—é que o gestor seja movido por um espírito de liderança que seja capaz de fazer emergir o que há de melhor em cada um de seus colaboradores. 

Por outro lado, achar que a administração pública deva ser confiada aos—equivocadamente chamados—políticos também é um erro lastimável. 

Explico: políticos, em si, não deveriam existir. Não há algo específico que seja de competência de um político. Competência é algo que se refere à profissionais em seus ofícios e habilidades. Assim sendo, aqueles a que chamamos de políticos, na verdade, são os que lotearam a máquina pública e dela fizeram seu meio de vida. 

A gestão pública deveria estar sob a competência daqueles que—no exercício de sua profissão—descobriram que, além do quintal de casa, há uma sociedade inteira que reclama serviços e dignidade. E, no ato de olhar para além do próprio umbigo, gente que descobre que tem algo a dar de si em benefício da coletividade. A ação política é, obrigatoriamente, “ação a serviço de”.

Óbvio parece estar que, em qualquer caso, o que deve sobressair não é a capacidade de convencer pelo discurso ou pela aparência, antes a arrojada coragem de realizar. 

A questão não é ser político ou ser técnico. Esse dualismo é artificial. Falso porque polariza faces que devem, necessariamente, coabitar. Políticos não deveriam existir isolados de sua capacidade de realizar. Técnicos não são competentes se não sabem agir coletiva e socialmente. 

Com isso, se descobre que política é algo bem diferente do que se faz nas casas executivas e legislativas por esse país afora. O que há, infelizmente, é uma luta—às vezes imoral—pela tomada e manutenção do poder. 

Se descobre que a verdadeira política é aquela que põe a serviço do grupo a competência dos indivíduos. 

Por tudo isso, vejo que é falsa a dicotomia entre técnicos e políticos. O que há, em verdade, é gente competente e gente incompetente. 

Deus nos proteja desses últimos!

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