O poeta, ator de teatro e também professor de Língua Portuguesa e Literatura, Irapuan Guimarães, lança amanhã, 21, às 19h, na sede da Banda Euterpe Friburguense, sua oitava publicação, "Descompasso”, uma coletânea de poemas em 94 páginas nos quais o autor permeia pelas muitas idas e vindas da vida. Na obra lançada pela Girlam Editores e com a curadoria do Grupo de Arte, Movimento e Ação (Gama), Irapuan registra com verve aguçada vários momentos e comportamentos observados na sociedade que evidenciam os muitos descompassos da sociedade moderna, como a falta de verdade e sinceridade, a superficialidade nas relações, o pouco contato, enfim, a perda da humanidade e a indiferença.
"A internet é uma ferramenta muito interessante. Ao mesmo tempo que nos conecta a todo o mundo, ela também nos afasta, contribui para a formação de seres cada vez mais frios, que se relacionam apenas virtualmente. Falta contato, apego. Como pode um cartão de crédito ser o melhor presente? O carinho vem se perdendo”, observa Irapuan, que do alto dos seus 66 anos reúne muitas histórias para contar através de boas conversas ou mesmo de suas publicações. Como todo bom poeta, Irapuan é um observador do cotidiano. E dele extrai poesia. E quantas poesias! Muitas delas verdadeiros desabafos.
Quando a inspiração bate à mente Irapuan nunca está desprevenido. Tem sempre um papel e uma caneta à mão para anotar a ideia que surge num repente. "Já rascunhei esboços de poemas ou até mesmo uma ideia para uma nova criação aos garranchos em guardanapos de papel que só eu entendo a letra. No final dá certo. Meus poemas são registros de cada momento, como digo no poema Patrimônio: "Se não digo o que penso e sinto, quem o dirá?”, exemplifica.
Um poeta que escreve para todos. Cada um deve interpretar a seu jeito
Com uma linguagem simples, mas forte, Irapuan se define como um poeta que não escreve para acadêmicos. "O que eu vejo e apuro é para ser escrito no muro, ou seja, lido por todos e interpretado da maneira que quem ler achar melhor. Por isso priorizo poemas curtos, objetivos, bem dosados. Hoje em dia a maioria das pessoas não tem tanto tempo para se dedicar à leitura — uma pena. Textos longos são desprezados. Poeticamente falando, os poemas tem que dizer tudo quando não há mais tempo de dizer nada”, filosofa o escritor, que começou a escrever sem a pretensão de tornar-se um autor publicado.
A primeira criação de Irapuan Guimarães foi ainda no antigo Colégio Rui Barbosa, no extinto curso ginasial. "Abismo” versou sobre os conflitos naturais dos adolescentes, a insatisfação diante das inseguranças naturais do começo da juventude. "Já no Colégio Modelo fui incentivado pela professora Marina Cúrio a escrever textos diversos, sobre qualquer coisa, e ela avaliava, dava toques que muito me edificaram”, diz ele, que antes de enveredar-se pela poesia e as artes, tornou-se professor, sem nunca, obviamente, deixar de escrever.
O cantagalense mas friburguense de coração Irapuan Guimarães teve ainda a façanha de desafiar-se a escrever ao longo da carreira um livro de 60 páginas só com frases sem verbos. A edição de "Por trás das pedras, um caminho de rosas” não foi nada fácil. Aliás, dificuldades estiveram presentes desde o início. Suas primeiras obras foram editadas ainda nos anos de chumbo quando ele, assim como muitos artistas e escritores foram cerceados pela ditadura militar. Seu primeiro livro, "Redemoinho”, por pouco não acabou censurado. Depois vieram duas obras didáticas de Literatura e Gramática, "Desabafo – poema mural”, a antologia "Rituais”, e ainda "O Pio da Jiripoca – o lado avesso de Nova Friburgo”, que descortina um pouco do comportamento da sociedade local.
Agora com "Descompasso” Irapuan se diz realizado por reunir um time de grandes amigos no apoio à conclusão da obra: Giovanni Bizzotto e Arnaldo Miranda, que tecem comentários não só sobre o livro, mas sobre o jeito todo próprio de Irapuan escrever dando vida à vida, sem nunca perder a poesia. A obra tem ainda ilustrações com fotos do acervo de Osmar de Castro e o apoio incondicional de um dos fundadores do Gama, Julio Cézar Seabra Cavalcanti, o Jaburu. "Um grande mestre em minha vida, que muito me ensinou. Feliz de quem tem o privilégio de desfrutar da amizade de Jaburu”, revela Irapuan, que rumou também para as artes estreando em 1964 no Centro de Arte com "Morte sem sepultura”, dirigido por Jorge Saade. Depois vieram mais 28 peças, acumulando premiações.
Irapuan, um poeta multifacetado
Hoje, além de poeta, escritor e artista, Irapuan é também vice-presidente de literatura do Gama e está cheio de ideias para 2014, visando estimular os jovens a não apenas ler, mas também a escrever. Junto a Irapuan, Jaburu, incansável também na divulgação e nos preparativos do lançamento de "Descompasso”, faz um breve balanço deste ano do Gama, tido como um dos mais significativos de sua história, pleno de realizações e com total interação democrática com a comunidade friburguense. "Começamos com a reflexão sobre dos dois anos da tragédia das chuvas, que deixou um legado demonstrando toda a bravura, dignidade e o estoicismo do nosso povo. Um movimento simples, mas que ganhou o mundo através da mídia virtual. Sem dúvida 2013 foi um ano meritório, ofertamos o Troféu Imprensa - A Voz da Serra a destaques da comunicação local, promovemos circuitos de exposições e fechamos em alto nível com o lançamento de ‘Descompasso’”, enumera Jaburu.
Instigado a fazer uma análise de Irapuan, Jaburu não vacila nem poupa considerações: "Irapuan Guimarães é um poeta que tem em suas veias a seiva maior da poesia de versos que alcança as perplexidades, os sonhos e os anseios dos seres humanos. Baudelaire, Carlos Drummond de Andrade, Verlaine, Rimbaud, Manuel Bandeira certamente se extasiariam se tivessem a oportunidade de degustar algum trabalho de Irapuan Guimarães”, sintetiza Jaburu.
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