Opiniões: a Pátria e a Independência do Brasil

Que sentimentos invadem corações e mentes dos brasileiros no dia em que celebra o nascimento de sua nação?
quarta-feira, 07 de setembro de 2016
por Ana Borges
Opiniões: a Pátria e a Independência do Brasil

Num dia 7 de setembro, há 194 anos, foi proclamada a independência do Brasil do império português, data também conhecida como Dia da Pátria. Desde então, o dia é festejado pela população que comparece em peso às principais avenidas de suas cidades para assistir ao desfile cívico-militar. Passados menos de 200 anos, somos uma jovem República, ainda por completar 127 anos, em 15 de novembro, próximo.  

No regime democrático, entre idas e vindas, avanços e recuos, vivemos, desde 1988, em pleno estado de direito, com os três poderes funcionando. O que nem sempre é sinônimo de paz, estabilidade e segurança. Haja vista os últimos 12 meses, e seus tempos turbulentos, nebulosos, angustiantes. A construção da nação brasileira, trazendo em seu bojo o sentimento de nacionalidade, de patriotismo, de civismo e identidade nacional, foi forjada em um processo lento e confuso. A importância dessa construção demorou a ser percebida pelo povo, oriunda das camadas mais populares. 

Hoje, neste 7 de setembro de 2016 pós-impeachment, em que a operação investigativa denominada Lava-Jato garantiu mais um ano de intensa atividade policial, se estendendo até setembro de 2017, o povo brasileiro se divide entre a apatia e a fúria em relação às questões relacionadas à corrupção política e a roubalheira que um dia sim e outro também, vêm à tona. Afinal, essa onda digna de ser chamada tsunami, de frustração, descrença, desesperança, interfere no respeito que o brasileiro sente pela bandeira de seu país? A julgar pelos depoimentos dados ao jornal A Voz Da Serra, o momento, mais do que nunca, é de união e fortalecimento das instituições que sustentam a democracia. É a mensagem que mandam nossos entrevistados.  

Qual seria a resposta do povo brasileiro?


“Quando a data da independência reflete uma realidade histórica, a atração que ela exerce sobre os cidadãos é muito forte. Nossa independência foi mais teórica que prática. O regime não mudou e o acerto foi entre pai e filho. Hoje, temos mais independência política que econômica, apesar dos fatos recentes terem demonstrado muitas restrições aos políticos, à política e até à democracia. Isto pode influenciar o cidadão brasileiro em relação ao seu ânimo patriótico, haja vista pesquisas recentes que apontam um apoio à democracia abaixo dos 40% da população. Vê-se, claramente, que as campanhas municipais não empolgam. Os índices negativos de desemprego e de inflação também corroboram com um desânimo cívico. E, mesmo que parte deste desânimo tenha sido forjado pelos meios de comunicação, ele colabora, sem dúvida, com as névoas que pairam sobre o 7 de Setembro. Qual seria a resposta do povo brasileiro à convocação feita no hino da Independência: ‘Brava gente brasileira, longe vá temor servil, ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil’. Qual seria a resposta do povo brasileiro?”
Hamilton Werneck, professor e conferencista

... ainda me orgulhando de ser brasileiro...


“Dois aniversários da Independência me parecem marcantes: o atual e o de 47 anos atrás. Naquela época, em 1969, o embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, encontrava-se em poder de um grupo de revolucionários, a espera de ser trocado por 15 presos políticos do regime. A grande tensão gerava enorme insegurança a respeito do futuro. Esta é a semelhança com a atualidade. Neste Sete de Setembro de 2016, ninguém sabe muito bem o que vai acontecer. Apesar de nossa independência, em 1822, ter sido precipitada por desavença entre nobres portugueses e de todas as confusões nacionais, fico com os versos de Gonzaguinha, ainda me orgulhando de ser brasileiro, e gostando de imaginar que às margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.” 
Maurício Siaines, sociólogo

Ser patriota é valorizar a sua história

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“O brasileiro normalmente não dá importância à independência oficial do seu país. Afirmam alguns historiadores que o sentimento de nacionalidade, no mundo inteiro, irá surgir apenas no final do século 19. Já a historiografia brasileira tem uma nova tendência de colocar nossa independência a partir de 1808, com a vinda da família real. A médio e longo prazo vai se tirar cada vez mais o foco do Sete de Setembro. No período da ditadura militar a bandeira não poderia ser utilizada pela população em nenhuma manifestação e isso nos afastou desse símbolo nacional. Mas o sentimento de nacionalidade tem vindo à tona com os debates entre a população, a exemplo do impeachment de Dilma Rousseff. Porém, a bandeira vem sendo utilizada mais pela direita do que pela esquerda, pois essa última ostenta as bandeiras partidárias. Logo, o patriotismo e a bandeira nacional vêm sendo associados aos setores conservadores da sociedade, o que não é nada positivo. Se fosse dar uma nota ao brasileiro daria zero. Ser patriota é valorizar a sua história, a memória, o patrimônio histórico material e imaterial. Estamos muito longe disso, e ainda somos, infelizmente, ‘A pátria de chuteiras’, como preconizou Nelson Rodrigues.” 
Janaína Botelho, professora e historiadora

Sentimento de nacionalismo apesar do cenário do país


“A conclusão do processo de impeachment me deixou mais otimista com relação ao futuro do país. Ultrapassamos um dos capítulos mais difíceis de nossa história. E agora vamos buscar as medidas necessárias para a economia voltar a crescer e a gerar empregos. Confio muito nos meus filhos, que estão chegando cheios de novas ideias. E estendo este sentimento de confiança ao Brasil, à sua população tão heterogênea, de múltiplas possibilidades. Vamos reconstruir o país.” 
Joel Wermelinger Araújo, presidente da Representação Regional Firjan/CIRJ no Centro-Norte Fluminense

Ser patriota e o significado de ser brasileiro


“Ser parte ou estar à parte. Ser brasileiro nos últimos tempos parece que virou isso. Estamos, como conjunto, mais críticos, mas nem por isso menos brasileiros. O Brasil cresceu e nessa evolução aumentou a percepção de tudo e do todo. Temos defeitos coletivos graves, ainda que seja mais fácil renegar apontando o dedo. Ao mesmo tempo, abandonamos o espírito de vira-lata. Não nos tornamos mais ou menos brasileiros, também não acredito que nos tornamos mais sábios. De repente, nos vemos na obrigação de olhar para o espelho como povo e ainda não concluímos a imagem que vemos, tampouco seu reflexo. São tempos de profunda reflexão para quem sabe uma mobilização de afeto que busque uma nova definição para o que é ser patriota e o significado de ser brasileiro.” 
Wanderson Nogueira, deputado estadual

Não devemos permitir que a ‘tempestade perfeita’ impeça a retomada

 
“Técnicos e economistas vislumbram o que tacham de ‘tempestade perfeita’ quando a política fica de costas para a economia. O desenlace do impeachment, a busca pela saída da crise política, o andamento da operação Lava-Jato, as manifestações, tudo isso nos leva a ter melhores perspectivas e ser mais otimistas. Não creio que a economia possa ir mais fundo ainda no poço e penso que o caminho  da recuperação é a retomada a curto e médio prazos. Acredito na tendência de reversão do quadro negativo em 2017, com o mercado externo e interno, em conjunto, restabelecendo o equilíbrio econômico. Somos uma democracia jovem, e o processo democrático é lento, muitas vezes turbulento, o que leva a confrontos  previsíveis, mas desnecessários. A manifestação é livre e assim deve continuar, mas não vamos misturar as causas, as coisas. Devemos estar atentos à soberania, à nossa identidade e diversidade, e aproveitar momentos de crises, como estas que temos vivido, para crescer, construir e nos fortalecer. Portanto, longe de nos deixar abater, vamos extirpar de vez esse tal complexo de ‘vira-lata’, que algum infeliz nos imputou, e rejeitar o conceito de que somos um país de ‘gambiarras’. Somos uma nação de pessoas valentes e resistentes, orgulhosos do país que construímos.” 
Roosevelt Concy, diretor Universidade Candido Mendes, campus Nova Friburgo   

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