OPINIÕES - Nova Friburgo também deveria multar quem é flagrado jogando lixo nas ruas?

segunda-feira, 26 de agosto de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Márcio Madeira

Além de ser um ato de profundo desrespeito social, jogar lixo nas ruas é também uma atitude que gera graves consequências econômicas e sanitárias. O aspecto de sujeira e descaso espanta turistas com a mesma intensidade com que atrai animais ligados à transmissão de diversas zoonoses, ao mesmo tempo em que afeta a autoestima da população, desestimula o cuidado com as áreas públicas e agrava a propensão a enchentes.

No Rio de Janeiro, às vésperas da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o quadro é grave o bastante para inspirar uma grande operação de combate ao lixo nas ruas, evocando uma lei de limpeza urbana que data de 2001, mas que jamais foi cumprida a contento. Com o início da operação Lixo Zero, desde o dia 20 de agosto quem é flagrado jogando lixo nas ruas da capital fluminense pode ser multado em valores que vão de R$ 157 a R$ 3 mil, a depender do volume observado. Outra multa menor, no valor de R$ 98,00, está sendo aplicada a quem não recolhe as fezes de seus animais de estimação durante passeios. No primeiro dia da operação, 121 pessoas foram multadas por esse tipo de atitude — 90% delas por conta do descarte inadequado de guimbas de cigarro. Somente crianças não acompanhadas ou moradores de rua estão sendo poupados.

Em Nova Friburgo, A VOZ DA SERRA foi às ruas ouvir o que a população pensa a respeito da aplicação de multas a quem joga lixo no chão, e a viabilidade de algo semelhante ser aplicado por aqui.


"Eu sou a favor. É muito lixo sendo jogado no chão, está tudo muito abandonado. Friburgo poderia pensar em algo semelhante sim. A cidade está cheia de papel de bala, de pontas de cigarro... É muito lixo no chão.”

Romeu Noé, trabalhador da construção civil, São Pedro da Serra

 

 

 

 


"Eu acho que infelizmente é preciso partir para esse tipo de fiscalização sim, porque as pessoas estão muito mal-educadas. Eu tenho um filho de vinte e poucos anos, e não consegui passar para ele metade da educação que eu recebi dos meus pais. Talvez seja o reflexo da correria de nosso tempo, as pessoas trabalhando muito e sem tempo para participarem ativamente da educação dos filhos... Então a gente acaba tendo que partir para esse tipo de lei, para que as pessoas aprendam o que já deveriam ter aprendido em casa. Minha profissão me obriga a viajar muito, e eu vejo com nitidez como o turismo está relacionado à limpeza e à beleza dos lugares. E nós sabemos que essas virtudes nascem a partir da educação, e do convívio com a família.”

Paulo Henrique, representante de vendas, Olaria

 

"Com certeza, eu acho muito importante haver uma fiscalização. Só que eu entendo que seria necessário haver um tempo maior de preparação, especialmente com campanhas de educação para a população. Eu penso que Friburgo deveria encarar a Avenida Alberto Braune como um shopping a céu aberto, e a partir daí adotar normas, estabelecer um regimento interno. Ter hora para colocar lixo, hora para recolher, adotar um padrão de calçamento. Estabelecer regras, enfim, sobre como cada pessoa irá utilizar a Alberto Braune. E o segundo ponto é a educação. Não é mais aceitável que pessoas joguem lixo no chão. Isso deve ser ensinado desde o colégio, preparando os cidadãos para daqui a alguns anos serem aplicadas as multas. Não acho que seja possível começar imediatamente com elas, sem essa etapa de preparação através de campanhas de educação. Acho que o caminho está invertido, você primeiro precisa ensinar, para depois multar.”

Flavio Stern, presidente do Nova Friburgo Convention & Visitors Bureau, Mury


"Com certeza, esse tipo de lei deveria ser aplicada em todas as cidades. A limpeza urbana é muito importante, fazer o descarte correto do lixo. Qualquer atitude que contribua para que as pessoas sejam mais educadas tem meu apoio sim. Infelizmente muitas pessoas só aprendem com esse tipo de repreensão, e mesmo assim as mudanças levam tempo.”

Henrique Mendonça, cuteleiro, Nova Suíça

 

 


"Sou favorável sim. Principalmente por multar quem joga lixo no rio. Esse tipo de coisa tem que acabar.” 

Luizinho Brasil, músico e militar reformado, Centro

 

 

 

 

 


"Eu acredito que Friburgo poderia ter esse tipo de fiscalização, mas ela só pode ocorrer a partir do momento em que houver uma quantidade mínima de lixeiras e caçambas. E isso também passa pela conservação das que já existem, que parte da população ainda destrói. No caso de Friburgo, é preciso ressaltar que todo esse lixo jogado nas ruas acaba agravando também o problema das enchentes no período das chuvas. Então eu acho realmente que essa lei poderia ser aplicada aqui, desde que as pessoas tenham e conservem a estrutura necessária para descartar o lixo da forma correta. E também penso que seria preciso investir na conscientização das pessoas, antes de multar por esse tipo de comportamento.”

Marcelo Gripp, locutor, Lagoinha


"Eu acho válida uma lei como essa, mas acho difícil algo semelhante ser aplicado por aqui. Primeiro, pela falta de educação geral. Depois, pelas dificuldades para que seja feita a fiscalização. Mesmo no Rio de Janeiro, a experiência inicial ficou limitada somente ao Centro, e no futuro serão visitados bairros específicos. Por mais que concorde com a ideia, e ache que esse tipo de hábito deva ser martelado o tempo todo, não posso dizer se essa lei seria viável por aqui.”

Rogério Turque de Oliveira, funcionário público, Amparo

 


"Claro que essa lei pode ser aplicada aqui. Pode e deve. Porque existem lixeiras na rua, e ninguém tem a necessidade de jogar no chão. Essa é uma questão de bom senso e educação. Um dos serviços que mais funciona em Nova Friburgo é a coleta do lixo, então quem joga na rua é por falta de educação mesmo.”

Ilton Henrique Paluccio, funcionário de condomínio, Riograndina

 

 

 


"A aplicação de uma lei como essa dependeria da formação de equipes como as que estão trabalhando no Rio de Janeiro, com a presença de um policial destacado para obter a identificação dos infratores. Também é importante discutir detalhes como o comportamento de crianças, que ainda estão em processo de educação, estão aprendendo, e mesmo com a presença dos pais podem cometer esse tipo de atitude. Não parece justo que elas provoquem multas. Agora, a ação em si eu acho muito válida. Inclusive, se eu fosse prefeito eu deixaria a cidade uma semana inteira sem o trabalho dos garis, só para mostrar a todos a quantidade de lixo que é jogada todos os dias nas ruas. Porque as pessoas não têm essa noção, não imaginam o impacto que causam com esse tipo de atitude. Mas claro que existe o outro lado. Antes de aplicar multas é preciso promover uma campanha de conscientização e garantir toda a estrutura para que as pessoas possam descartar o lixo de maneira correta. Nada justifica que se jogue lixo no chão, mas para que se possa multar, então antes é preciso dar as opções certas. E a população, por sua vez, precisa conservar essa estrutura. É uma questão cultural, como no trânsito. Se as placas fossem respeitadas, o governo não teria como justificar os investimentos em radares ou quebra-molas. Certos hábitos se tornam tão naturais que a pessoa nem se dá mais conta de que são errados. Infelizmente, os números indicam que muitas vezes você só consegue educar punindo.”

Anderson Silveira, empresário, Centro


"Eu acho que pode haver uma lei no futuro sim. A educação é muito importante. Há muitos anos eu já não consigo jogar nada no chão, simplesmente não consigo. Fico com o que tiver na mão, mas pelo menos aqui no Centro não é difícil encontrar lixeira não. O que eu ainda sinto dificuldade é na hora de descartar pilhas. Aqui na empresa a gente juntou uma sacola de pilhas e baterias, e não sabemos como descartar tudo isso. Esse ponto pode melhorar sim. Em relação ao Rio, Friburgo ainda é uma cidade muito mais limpa. Eu tinha 20 anos quando me mudei de lá para cá, e uma coisa que me marcou naquela época foi andar pela Alberto Braune e sentir um cheiro de limpeza que era uma coisa indescritível para mim. Eu não sei se as pessoas passavam desinfetante na rua, mas eu sei que era cheiroso. Estávamos em 1995, e essa foi uma impressão que eu tive, mas que foi se perdendo com o tempo. Por outro lado, eu vejo uma mudança muito forte nas crianças. Minha esposa é diretora de uma escola e eu acompanho as aulas que elas têm sobre educação ambiental, a forma como professores as levam para tirar sujeira do rio... Então eu sinto que a consciência nas crianças já é muito mais forte do que nos adultos. Não é tão raro a gente ver uma criança dando bronca no pai, porque não jogou lixo no lugar certo. A criança já tem isso na cabeça, e eu acho que essa é uma esperança para todos nós.”

André Tafuri, empresário, Braunes

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