Operação de corte e poda é adiantada e causa alvoroço

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
por Karine Knust
Operação de corte e poda é adiantada e causa alvoroço (Foto: Marcos Paulo Jr)
Operação de corte e poda é adiantada e causa alvoroço (Foto: Marcos Paulo Jr)

Apesar das controvérsias e polêmicas que envolvem o caso, mais uma fase da operação de corte e poda de eucaliptos foi realizada na Praça Getúlio Vargas. Desta vez, o governo municipal não esperou o fim de semana para dar continuidade ao trabalho. Ao coro de "Assassinos! Covardes!”, de alguns friburguenses contrários ao corte dos eucaliptos, mais uma árvore foi ao chão na manhã desta quarta-feira, 28. De acordo com o secretário da Defesa Civil, coronel João Paulo Mori, a ação, que inicialmente estava programada para os sábados e domingos, teve a data alterada com a justificativa de diminuir o transtorno causado aos feirantes, aos motoristas que circulam pelo entorno da praça e para finalizar o serviço antes da chegada do carnaval.

"O processo de corte de cada árvore é bastante demorado, é preciso prendê-las, colocar ganchos. Nosso objetivo inicial era o de realizar todo o trabalho no fim de semana para amenizar o transtorno no trânsito das vias ao redor da praça. No entanto, depois de concluir as duas primeiras fases, resolvemos continuar com a operação durante a semana, porque não precisaremos mais interromper o trânsito, diminuiremos os prejuízos causados aos feirantes que utilizam a praça, principalmente nos fins de semana, e teremos mais tempo para concluir o processo antes que chegue o carnaval”, afirmou Mori. 

Na tentativa de manter uma das mais frondosas árvores da praça em pé, alguns manifestantes tentaram impedir a operação. "Hoje está sendo enterrado o último cartão-postal da cidade. A praça está sendo deteriorada e totalmente descaracterizada. Estão jogando nossa história no lixo. As podas periódicas que deveriam ter sido feitas há muito tempo, ninguém fez. O Iphan não parece acompanhar a situação da praça como deveria. Agora temos que assistir a um desastre como esse. Isso é um absurdo. Estão destruindo nossa praça”, protesta Jorge Rodrigues Gastin, um dos manifestantes presentes no local.

Para Gilberto Nader, engenheiro da Defesa Civil, é preciso que haja compreensão por parte da população: "Sabemos muito bem que se tivesse sido feito o tratamento regular dessas árvores centenárias, provavelmente o que vemos hoje não estaria acontecendo. Mas precisamos trabalhar com a triste realidade de que, atualmente, muitas árvores que aparentam estar saudáveis nas extremidades ou até mesmo próximo a raiz estão podres e até ocas por dentro. Não fico feliz em relação ao que está acontecendo, mas foi preciso iniciar uma intervenção antes que o pior acontecesse a algum transeunte que estivesse passando pela praça. O friburguense precisa, a partir de agora, criar uma nova mentalidade em relação à Praça Getúlio Vargas”.

Prefeito convoca coletiva 

Durante a tarde de ontem, 28, o prefeito Rogério Cabral, junto a representantes das pastas envolvidas no assunto, concedeu entrevista coletiva à imprensa para prestar informações sobre o corte e poda dos eucaliptos. Na ocasião, foram apresentados os laudos enviados tanto pela Universidade Estácio de Sá, quanto pelo Instituto Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), que constatam a necessidade da ação, além de um projeto de revitalização encaminhado pelo instituto e orçado em R$ 8 milhões, que envolve um trabalho arqueológico de recuperação de detalhes da praça em sua arquitetura original.

 "É com muita tristeza que falo desse tema, mas além de ser uma medida necessária, estamos fazendo essa operação principalmente por medida de segurança. Não estamos cortando as árvores de forma aleatória, seguimos um projeto criado por engenheiros e autorizado pelo Iphan e fizemos uma audiência pública em 2013 sobre o assunto. Por mais que isso doa à nossa população, iremos continuar com o trabalho. E se eu tiver que ser punido por alguma ação, será por algo positivo e não por uma falta de atitude do governo. Queremos uma praça bonita e vamos ter, mas acima de tudo, queremos uma praça segura”, afirmou o prefeito Rogério Cabral. 

Enquanto o projeto principal não é realizado, o governo municipal fará um serviço de limpeza e plantação de mudas. "Não queremos e nem vamos deixar a praça com um aspecto feio como está agora. Vamos limpá-la, recolocar os bancos e plantar flores nos canteiros para que possamos receber os turistas e friburguenses em um lugar bonito”, explicou Rogério. 

Quanto aos troncos já cortados, a Defesa Civil e a Secretaria de Meio Ambiente informam que parte deles está sendo enviada para o horto municipal e os demais para a Serraria Melodia, por falta de espaço para armazenamento. Também segundo a Prefeitura, as madeiras serão utilizadas na decoração da própria praça: "Estamos trabalhando com os arquitetos a possibilidade de criamos uma alameda em torno da praça com os troncos retirados e viabilizar com a madeireira a produção de madeira para os bancos, que é o indicado pelo Iphan. Nosso objetivo é colocar uma placa informando que a madeira dos bancos é fruto do plantio de Glaziou e durante anos serviu de sombra para os friburguenses; outras madeiras serão entregues a artistas para produção de peças de arte que irão ornamentar a praça”, afirma Edson Lisboa, secretário do Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP) da Prefeitura. 

"Se a manutenção das árvores tivesse sido realizada periodicamente, hoje teríamos eucaliptos de diversas idades sem a necessidade de corte radical. Esse problema atual nos ensina que é preciso haver a manutenção sem ser necessário usar de radicalismos. O poder público, conhecendo o risco, tem que fazer essa operação”, finaliza o secretário municipal de Meio Ambiente, Ivison Soares Macedo.

Entenda o caso

Há anos, os antigos eucaliptos da Praça Getúlio Vargas têm causado apreensão. Em 2012, a queda de um deles com mais de 30 metros de altura assustou os moradores da redondeza. No ano passado, alguns galhos das árvores caíram nos arredores e dentro da praça, machucando transeuntes. Por causa disso, a Defesa Civil emitiu um comunicado pedindo que a população evitasse passar pelo local em dias de mau tempo. 

No fim do ano passado, a Prefeitura Municipal de Nova Friburgo enviou um ofício ao Instituto Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), responsável pela praça, alertando para o risco de acidentes que poderim ser causados pela queda de galhos ou dos próprios eucaliptos centenários da Praça Getúlio Vargas. No entanto, de acordo com a Prefeitura, o órgão não se posicionou a respeito. 

Sem a autorização do Iphan, mas com um estudo realizado pela Universidade Estácio de Sá (Unesa) — que constatou que das quase 200 árvores do local, um número considerável corria o risco de cair — o governo municipal optou por iniciar a operação de corte e poda das árvores da praça em 17 de janeiro deste ano. Até o último domingo, 25, vinte e cinco eucaliptos — de um total de 40 identificados como condenados — já foram derrubados. Segundo o estudo, pelo menos outras 44 deverão ser podadas.  

Na semana passada, dois dias depois do início da operação, o Iphan, enfim, entregou um estudo técnico ao município, sugerindo corte radical de 102 árvores e a poda de outras 35. Porém, em declaração enviada através da Secretaria de Comunicação, a Prefeitura afirmou que continuará seguindo o estudo disponibilizado pela Unesa.

De acordo com o governo municipal, a diferença entre os números necessários de cortes radicais entre os laudos do Iphan e da Unesa se deve ao fato de que no relatório enviado pelo Instituto também foram incluídas as árvores que deverão ser retiradas para que possa ser feito o projeto de revitalização, que por enquanto não será seguido pela Prefeitura devido ao alto valor em que o empreendimento está orçado. 

Especialistas falam sobre o relatório

"Como friburguense, confesso que olhei para os eucaliptos, que sempre convivi, e me deu muita pena de recomendar o corte”, afirmou a engenheira agrônoma, formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Juliana Winter Gago, que, junto com o engenheiro mecânico industrial e mestre em Engenharia de Produção, Mário Roberto Pedroso Valpaços, e também com o doutor em Biologia (UFRJ) Ricardo Finotti, assinou o "Relatório Técnico – Análise da Composição Florística e da Condição de Indivíduos Arbóreos da Praça Getúlio Vargas”.

"O Mori [coronel João Paulo Mori, coordenador da Defesa Civil de Nova Friburgo] estava preocupado com as condições dos eucaliptos. Desde 2011 já vinham acontecendo alguns acidentes por conta de queda de galhos. Fizemos uma avaliação em 2013, mas as árvores não foram cortadas nem podadas”, conta Mário, que é também coordenador do curso de Engenharia Civil e de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Estácio de Sá. "Das 196 árvores da praça, recomendamos o corte e poda de mais de 60. O Iphan não se pronunciou, apesar da gravidade. Nada foi feito. Até que, no ano passado, o Mori me pediu uma nova avaliação. O número aumentou para cerca de 80”.

Juliana conta que o estudo seguiu critérios internacionais da Associação de Parques de Florestas de Michigan, sendo avaliados itens como condições do tronco, vitalidade das árvores, doenças, pragas e parasitas, entre outros. Na verdade, a praça precisa ser totalmente revitalizada. Muitos daqueles eucaliptos pareciam saudáveis, mas estavam podres por dentro, fragilizados e com risco de causar acidentes”, afirma a engenheira. "Eles poderiam ter sido tratados anos atrás, mas não foram”.

Os especialistas contam ainda que o relatório foi enviado para a Coreia do Sul, passando a fazer parte dos anais do "The 4th International Conference of Urban Biodiversity e Design – Urbio”. O professor Mário se dispôs a esclarecer mais sobre o assunto no próximo Ponto de Vista, coluna publicada aos sábados em A VOZ DA SERRA.

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