Henrique Amorim
Em breve a administração pública de Nova Friburgo receberá um raio X detalhado da maioria das comunidades locais. O mapeamento terá informações importantes. Além da quantidade de moradores, o relatório vai indicar quais programas e atividades sociais estão mais presentes em cada bairro ou loteamento—e como cada um poderá responder em casos de emergência diante de calamidades. O raio X ainda não tem data definida para ser finalizado. O levantamento tem sido um árduo e minucioso trabalho feito nas comunidades pelos membros da ONG criada ano passado em plena turbulência do pós-tragédia das chuvas, “Diálogo por novas relações sociais”.
O trabalho de campo da ONG não tem sido fácil, segundo as coordenadoras Janaína Gralato e Fernanda Milanez—uma, professora de Língua Portuguesa, e a outra, pedagoga—, que deixaram as profissões para se dedicar integralmente à causa proposta pela Diálogo: a busca pela formação de uma rede de integração social no município com valorização da cidadania. Ambas fizeram até consultorias em desenvolvimento social para ir mais fundo na busca pelo conhecimento do perfil de Nova Friburgo. Hoje a Diálogo reúne ao todo 38 voluntários.
“Ao chegar às comunidades ou participar de reuniões de associações de moradores, observamos o desânimo das pessoas. Muitas delas já estão cansadas de dar informações, preencher cadastros e não ver nada de prático. É impressionante como ainda há desconfiança, isolamento, divergências e desconhecimento sobre seus direitos. No período logo após a tragédia, muitas instituições ofereceram assistência, ajuda, fizeram promessas, mas os resultados esperados ainda não chegaram”, observa Janaína.
Fernanda lembra, inclusive, que ao iniciar o mapeamento, denominado pela ONG como “Mirante Social”, descobriram que já existiam iniciativas semelhantes em andamento em algumas comunidades e principalmente logo depois da tragédia cadastros idênticos e os mesmos levantamentos de informações foram realizados por mais de uma instituição. Diante disso, a Diálogo organizou sua principal ação: a edição do manual “Reconstruindo Nova Friburgo”, com a relação de todos os serviços prestados às vítimas e a comunidade no pós-tragédia.
“Queremos, de verdade, agora orientar a população e dar visibilidade às ações sociais que cada uma desenvolve. Num caso de emergência novamente, o poder público já poderá saber, graças ao trabalho que desenvolvemos, quais os aliados têm em cada lugar, sem contar que, ao serem conhecidas as ações sociais nos bairros, poderá se buscar recursos para custeá-las e incrementá-las”, destaca Fernanda.
Um complemento à ação implementada pela Defesa Civil
Janaína e Fernanda explicam ainda que a ideia de criar o “Mirante Social” surgiu após observar-se que o Plano de Apoio Integral (PAI)—para ações de emergência, desenvolvido pela Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros—catalogou apenas o que setores de administração pública e empresas privadas podem oferecer de pronta resposta a ações de urgência.
Com o trabalho da Diálogo, o município vai contar também com a ajuda da própria sociedade organizada através de multiplicadores. É a ação denominada Plano de Emergência da Sociedade Civil (Pesc), desenvolvido em parceria com a Diálogo, e as ONGs Care Brasil, Grupo de Articulação dos Movimentos (GAM) e Ecossocial da Região Serrana.
“O que a Diálogo sonha é que cada bairro tenha o seu próprio plano de ações imediatas com pessoas capacitadas para conter o pânico e centralizar ações de pronta resposta”, completa Janaína satisfeita por já terem sido realizadas encontros do Pesc em 50 comunidades de Nova Friburgo em menos de um mês.
A iniciativa, inclusive, foi aprovada ano passado junto ao Comitê de Gestão Estratégica do município que também elaborou o PAI. Tanto o Pesc como o PAI são resultantes de ações de organização territorial que mobilizam comunidades locais em torno de temas como segurança, prevenção e cidadania.
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