Texto: Lucas Vieira / Fotos: Amanda Tinoco
Diz a sabedoria popular que cada um lida com as perdas do seu jeito. Após a tragédia de 2011, marcada pelas fortes chuvas em janeiro, muitos moradores da Região Serrana tiveram que descobrir um jeito de conviver com todos seus traumas. Olívia Fátima Martins foi uma dessas pessoas que trocaram a dor por uma forma de ajudar as pessoas.
Olívia nasceu em Euclidelândia — distrito do município de Cantagalo — em 1944, e, quando ainda criança, veio para Nova Friburgo, aos seis anos de idade, onde viveu a maior parte de sua vida, casou e teve três filhos. Em 2011, aos 67 anos, morava no Prado, com seu marido, dois de seus filhos e dois netos. Quando as chuvas vieram, a casa em que moravam foi totalmente destruída e, com ela, a moradora perdeu seu esposo, sua filha e um de seus netos. Com seu outro filho e seu outro neto, que havia perdido a mãe e o irmão, Olívia mudou-se para o Solares tentando começar uma nova vida.
Um ano após tantas perdas, Olívia sentiu que precisava de algo mais em sua vida. "Eu estava com um vazio muito grande dentro de mim, sentia que precisava fazer algo para preencher, que tocasse o meu coração. Eu pedi a Deus que me mostrasse algo forte, pessoas que precisavam de um carinho, de uma palavra. E depois de muito procurar, visitando clínicas, hospitais, eu encontrei o Santa Lúcia”, conta Olívia. "Quando cheguei lá pela primeira vez, o porteiro me perguntou qual era o meu paciente. ‘São todos eles’, respondi’”.
Desde essa época, em 2012, Olívia começou a Corrente do Amor e se tornou a "mamãe noel do Santa Lúcia”. "Meu objetivo com a Corrente é levar a alegria. Eu faço visitas à clínica e confraternizações para os internos. Eu comecei esse projeto entregando doces quando ia visitá-los, mas, um dia, quis fazer um trabalho maior, e comentei com meu filho que queria fazer um grande bolo para os pacientes. E a gente partiu ele no dia que seria aniversário do Bernardo, meu neto que faleceu”, contou a moradora, que ganhou o apelido natalino por se vestir de mamãe noel nas festas de fim de ano, quando costuma levar kits com balas, pirulitos e chocolates como presentes. "No ano passado, eu recebi tantas doações que consegui montar cerca de 600 kits, que fui distribuindo para os internos durante as visitas”.
Segundo a "mamãe noel”, hoje a clínica está com cerca de 150 pacientes, que ela sempre trata com muito carinho e atenção em suas idas. "Eu ajudo eles com a Corrente do Amor, mas quem recebe sou sempre eu. Quando eu chego lá, os internos sempre me recebem com muita alegria, eu fico bastante feliz, é um grande presente essa paz que eu tenho”.
A próxima festa organizada pela Mamãe Noel já está pronta. Ela ocorrerá neste sábado, 6, e já conseguiram todas as doações necessárias para a festa. "Uma amiga que trabalha com festas fez a do ano passado e conseguiu tudo com mais facilidade. Quando eu fui para conversar com ela sobre a festa, ela disse já ter todas as doações, porque quem participou ano passado quis doar outra vez”, disse Olívia. Ela diz também ser muito grata a todos os doadores que a ajudaram nesses dois anos da Corrente do Amor, e que não conseguiria realizar esse trabalho voluntário sem eles: "Meu trabalho é um presente de Deus, sou muito feliz e ele me dá muita paz. Desde o começo eu não tinha recursos e a família e os amigos me ajudaram. Cada um dava um pouco e a gente foi fazendo o que conseguia”.
O auxílio, geralmente, vem de diversas partes, porém, a Corrente do Amor não tem um patrocinador fixo. "Eu não costumo aceitar doações em dinheiro. As pessoas costumam doar, geralmente, doces ou outros materiais para ajudar nas festas”. Olívia comenta que quem quiser doar "pode deixar as doações na loja Estilo Livre, na Galeria São José, no Centro. O que a pessoa der já ajuda e quem quiser ir à festa pode ficar à vontade, já se sinta convidado”.
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