Obras no Rio Bengalas completam três anos

Construção atrasa por causa da demora na desocupação dos imóveis construídos às margens do rio
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
por Alerrandre Barros
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

Há pelo menos dois meses o ritmo das obras no Rio Bengalas desacelerou e são poucos os operários vistos trabalhando no trecho que atravessa o distrito de Conselheiro Paulino. A obra não parou, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), mas está atrasada por causa da demora no pagamento de indenizações pelo governo do estado às famílias que tiveram que desocupar suas casas construídas às margens do rio. Por isso, a primeira fase da maior obra realizada em Nova Friburgo não será entregue em abril, conforme previa o cronograma do projeto.

“Em torno de 70% dos serviços já foi concluído no rio. A complexidade do processo de negociação para desocupação das casas e realocação das famílias ribeirinhas interferiu no avanço físico das obras, impactando assim o prazo de conclusão das intervenções. O ritmo normal das obras será retomado até o final de março deste ano”, informou o Inea. O órgão, no entanto, não esclareceu qual o novo prazo de entrega do parque fluvial que margeia a RJ-116.

A demolição de 147 imóveis no trecho de Duas Pedras até Conselheiro Paulino já foram negociados com os proprietários. Deste total, 83 foram indenizados, 40 demolidos, 17 estão desocupados e liberados para demolição e 26 ainda estão ocupados pelas famílias. Outros 57 também tiveram seus cheques solicitados e aguardam liberação do recurso pelo governo, enquanto sete ainda estão em processo de negociação.

Somente no trecho da Avenida Governo Roberto Silveira após a curva do Curral do Sol, mais de 15 imóveis serão demolidos em frente ao posto de gasolina Raça, na altura de Duas Pedras. No local, há alguns pontos comerciais fechados, onde funcionavam oficinas mecânicas e borracharias. Mas há também escombros de três imóveis que já foram derrubados e um prédio residencial desocupado que viraram motivo de dor de cabeça para quem ainda mora ou trabalha no local.

“Retiraram as portas e janelas e o interior do prédio está completamente destruído. Quando chove, o chão dos apartamentos enche de água e formam poças que viram focos para o mosquito da dengue. Vários moradores de rua estão morando no prédio”, denuncia o eletricista de automóveis Marcos Antônio Martins. Ele trabalha no local há mais de 20 anos, e aguarda - há quase três anos - o pagamento da indenização para se mudar para outro lugar em Nova Friburgo. “Depois que começaram a interditar e demolir aqui o movimento na minha oficina caiu 60%”, lamenta.

Enquanto para algumas famílias deixar as margens do Rio Bengalas é uma benção, para outras é um processo doloroso. Eleandro Carvalho, por exemplo, não queria desocupar a borracharia onde trabalha há duas décadas. “Não teve jeito. A pessoa que negociou comigo me pressionou tanto que eu já assinei o papel. Vou receber metade do quanto vale meu imóvel”, reclama o dono da Borracharia do Perninha. “Já que eles querem me tirar daqui, eles deveriam me colocar em um lugar onde eu possa trabalhar. Onde vou encontrar um ponto comercial bom como esse?”, lamenta o borracheiro portador de uma deficiência física na perna direita.

Três anos de obras

A obra realizada na cidade pelo Consórcio Rio Bengalas — formado pela EIT Engenharia e a Ferreira Guedes, empresas vencedoras da licitação — começou em março de 2013. Os governos estadual, por meio da Secretaria de Ambiente e do Inea, e federal, com verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), estão investindo R$ 195 milhões no projeto.

Foram executados serviços de aumento da calha do rio junto com dragagem e desassoreamento para ampliar o escoamento das águas e acabar com as históricas inundações no principal eixo rodoviário de Nova Friburgo. O consórcio também construiu grandes muros de concreto, chamadas de cortinas atirantadas, para garantir a estabilidade das margens do rio. Segundo o projeto, a ocupação desordenada das margens de alguns trechos do Bengalas causou o estrangulamento da calha, além disso, a erosão das margens provocaram degradação e obstruções devido ao grande volume de assoreamento do rio.

No último ano, calçadas adaptadas para portadores de necessidades especiais foram construídas no trecho de Duas Pedras até a altura do Colégio Estadual Rui Barbosa, no Prado. Mas ainda falta calçada às margens do rio até a ponte de acesso ao centro de Conselheiro Paulino. “Isso é uma falta de respeito e de segurança com todas as pessoas que fazem este percurso”, reclama o empresário Roberto Abreu.

Em alguns trechos das novas calçadas há grades de proteção lateral e também foram instalados alguns pontos de ônibus no percurso da Avenida Governador Roberto Silveira. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), no total, 250 árvores serão cortadas até o fim do projeto. Mas, o órgão informou que “para cada árvore retirada serão plantadas cinco como forma de compensação, em uma área de 20 mil metros quadrados no Jardim Califórnia, próximo ao Córrego Dantas”. O órgão não falou sobre o reflorestamento do local, conforme prevê o projeto inicial. Mas confirmou que a construção de ciclovias no entorno do rio não foi totalmente abandonada pelo consórcio. “O Inea e a Prefeitura de Nova Friburgo” estão estudando a viabilidade da implantação de uma ciclofaixa para o uso dos moradores locais”, encerra a nota.

  • Todos os imóveis na curva, às margens do Rio Bengalas, serão demolidos na altura de Duas Pedras. Escombros de alguns ainda estão lá (Foto: Henrique Pinheiro)

    Todos os imóveis na curva, às margens do Rio Bengalas, serão demolidos na altura de Duas Pedras. Escombros de alguns ainda estão lá (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Moradores de rua estão ocupando o prédio desativado no local (Foto: Henrique Pinheiro)

    Moradores de rua estão ocupando o prédio desativado no local (Foto: Henrique Pinheiro)

  •  Obras no rio derrubaram parte de casa (Foto: Henrique Pinheiro)

    Obras no rio derrubaram parte de casa (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Aedes aegypti: sujeira e água parada no vaso sanitário (Foto: Henrique Pinheiro)

    Aedes aegypti: sujeira e água parada no vaso sanitário (Foto: Henrique Pinheiro)

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