Escritora, poeta, jornalista, diretora de teatro, tradutora, desenhista. Mais do que tudo isso, Patrícia Rehder Galvão foi uma das figuras mais importantes na conquista dos direitos das mulheres. Nascida em 1910, Pagu — apelido dado a ela pelo poeta Raul Bopp — era uma mulher muito à frente de seu tempo: fumava na rua, usava blusas transparentes, dizia palavrões e usava cabelo bem curtinho, o que chocava não só sua conservadora e tradicional família, como grande parte da sociedade.
Aos quinze anos, Pagu passou a ser colaboradora do Brás Jornal, assinando Patsy. Aos dezoito, após completar a Escola Normal da Capital (São Paulo), se integra ao "movimento antopofágico”, de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, entre outros. Da convivência com Oswald, surgiu um relacionamento que fez o escritor se separar da esposa, Tarsila, e se casar, em 1930, com Pagu, com quem teve o filho Rudá. As "más línguas”, entretanto, diziam que a jovem já seria amante de Oswald há bastante tempo.
Oswald e Pagu se tornaram militantes do Partido Comunista Brasileiro e, ao participar da organização de uma greve de estivadores em Santos, foi presa pela primeira vez. Considerada a primeira brasileira presa por motivações políticas, ela foi para a prisão outras 22 vezes. Em 1933, viaja pelo mundo e publica o romance "Parque Industrial”, sob o pseudônimo de Mara Lobo. Dois anos depois, uma nova prisão, dessa vez em Paris, com identidade falsa, sendo repatriada para o Brasil. As brigas puseram fim ao casamento com Oswald e a militância levou-a mais uma vez para a prisão, com direito à tortura das forças de Getúlio Vargas. Foram cinco anos no cárcere.
Ao ser libertada, rompeu com o Partido Comunista, passando para o socialismo trotskista. Casou-se com Geraldo Ferraz, seu companheiro de redação de A Vanguarda Socialista, com quem teve seu segundo filho. Com o marido, assinou em 1945 seu novo romance, "A Famosa Revista”.
Traduziu a peça de Ionesco, "A Cantora Careca”, e também "Fando e Liz”, de Fernando Arrabal. Se tornou animadora cultural em Santos, incentivando jovens talentos, como o ator e dramaturgo Plínio Marcos. Atuava como crítica de arte quando descobriu um câncer. Se submeteu a uma cirurgia em Paris, mas não obteve resultado positivo, o que a deixou desesperada a ponto de tentar suicídio, o que foi narrado por ela no panfleto Verdade e Liberdade. Voltou para o Brasil e morreu em 12 de dezembro de 1962.
Pagu retratada no cinema e na MPB
Em 1988, foi lançado o filme "Eternamente Pagu”, dirigido por Norma Bengell e com Carla Camurati no papel-título, Antônio Fagundes como Oswald de Andrade e Esther Góes como Tarsila do Amaral.
Dois documentários também abordam a vida da escritora: "Patrícia Galvão – Livre na Imaginação, no Espaço e no Tempo”, baseado no livro homônimo de Lúcia Maria Teixeira Furlani (Editora Unisanta, 1988) e "Eh, Pagu! Eh!”, do cineasta Ivo Branco. Além disso, Pagu é um dos personagens do filme "O Homem do Pau-Brasil” e também da minissérie da TV Globo, "Um Só Coração”, exibida em 2004, que prestava uma homenagem à cidade de São Paulo. Existe também um blog sobre ela: http://depaguapatricia.blogspot.com.br.
Veja a letra de "Pagu”, música que Rita Lee e Zélia Duncan compuseram em homenagem à escritora.
Pagu
Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira
Nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca
Tudo bem!
Minha mãe é Maria Ninguém
Não sou atriz
Modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho
Que muito homem
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