Obra, amores e dissabores de Pagu

sexta-feira, 07 de março de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Escritora, poeta, jornalista, diretora de teatro, tradutora, desenhista. Mais do que tudo isso, Patrícia Rehder Galvão foi uma das figuras mais importantes na conquista dos direitos das mulheres. Nascida em 1910, Pagu — apelido dado a ela pelo poeta Raul Bopp — era uma mulher muito à frente de seu tempo: fumava na rua, usava blusas transparentes, dizia palavrões e usava cabelo bem curtinho, o que chocava não só sua conservadora e tradicional família, como grande parte da sociedade. 

Aos quinze anos, Pagu passou a ser colaboradora do Brás Jornal, assinando Patsy. Aos dezoito, após completar a Escola Normal da Capital (São Paulo), se integra ao "movimento antopofágico”, de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, entre outros. Da convivência com Oswald, surgiu um relacionamento que fez o escritor se separar da esposa, Tarsila, e se casar, em 1930, com Pagu, com quem teve o filho Rudá. As "más línguas”, entretanto, diziam que a jovem já seria amante de Oswald há bastante tempo. 

Oswald e Pagu se tornaram militantes do Partido Comunista Brasileiro e, ao participar da organização de uma greve de estivadores em Santos, foi presa pela primeira vez. Considerada a primeira brasileira presa por motivações políticas, ela foi para a prisão outras 22 vezes. Em 1933, viaja pelo mundo e publica o romance "Parque Industrial”, sob o pseudônimo de Mara Lobo. Dois anos depois, uma nova prisão, dessa vez em Paris, com identidade falsa, sendo repatriada para o Brasil. As brigas puseram fim ao casamento com Oswald e a militância levou-a mais uma vez para a prisão, com direito à tortura das forças de Getúlio Vargas. Foram cinco anos no cárcere. 

Ao ser libertada, rompeu com o Partido Comunista, passando para o socialismo trotskista. Casou-se com Geraldo Ferraz, seu companheiro de redação de A Vanguarda Socialista, com quem teve seu segundo filho. Com o marido, assinou em 1945 seu novo romance, "A Famosa Revista”.

Traduziu a peça de Ionesco, "A Cantora Careca”, e também "Fando e Liz”, de Fernando Arrabal. Se tornou animadora cultural em Santos, incentivando jovens talentos, como o ator e dramaturgo Plínio Marcos. Atuava como crítica de arte quando descobriu um câncer. Se submeteu a uma cirurgia em Paris, mas não obteve resultado positivo, o que a deixou desesperada a ponto de tentar suicídio, o que foi narrado por ela no panfleto Verdade e Liberdade. Voltou para o Brasil e morreu em 12 de dezembro de 1962. 

Pagu retratada no cinema e na MPB

Em 1988, foi lançado o filme "Eternamente Pagu”, dirigido por Norma Bengell e com Carla Camurati no papel-título, Antônio Fagundes como Oswald de Andrade e Esther Góes como Tarsila do Amaral.

Dois documentários também abordam a vida da escritora: "Patrícia Galvão – Livre na Imaginação, no Espaço e no Tempo”, baseado no livro homônimo de Lúcia Maria Teixeira Furlani (Editora Unisanta, 1988) e "Eh, Pagu! Eh!”, do cineasta Ivo Branco. Além disso, Pagu é um dos personagens do filme "O Homem do Pau-Brasil” e também da minissérie da TV Globo, "Um Só Coração”, exibida em 2004, que prestava uma homenagem à cidade de São Paulo. Existe também um blog sobre ela: http://depaguapatricia.blogspot.com.br.

Veja a letra de "Pagu”, música que Rita Lee e Zélia Duncan compuseram em homenagem à escritora. 

 

Pagu

Mexo, remexo na inquisição

Só quem já morreu na fogueira

Sabe o que é ser carvão

Eu sou pau pra toda obra

Deus dá asas à minha cobra

Minha força não é bruta

Não sou freira

Nem sou puta

Porque nem toda feiticeira é corcunda

Nem toda brasileira é bunda

Meu peito não é de silicone

Sou mais macho

Que muito homem

Sou rainha do meu tanque

Sou Pagu indignada no palanque

Fama de porra-louca

Tudo bem!

Minha mãe é Maria Ninguém

Não sou atriz

Modelo, dançarina

Meu buraco é mais em cima

Porque nem toda feiticeira é corcunda

Nem toda brasileira é bunda

Meu peito não é de silicone

Sou mais macho

Que muito homem

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