Obituário — Jorginho Abicalil (19.10.1930 † 14.06.2015)

Considerado o rei do jingle e detentor de uma carreira premiada, Jorginho era também cronista de A Voz da Serra. Ele faleceu no domingo, aos 85
segunda-feira, 15 de junho de 2015
por Jornal A Voz da Serra
O publicitário friburguense Jorginho Abicalil. Ele assinava coluna em A Voz da Serra em que relembrava a Nova Friburgo antiga (Arquivo pessoal)
O publicitário friburguense Jorginho Abicalil. Ele assinava coluna em A Voz da Serra em que relembrava a Nova Friburgo antiga (Arquivo pessoal)

O publicitário friburguense, radicado no Rio de Janeiro, Jorginho Abicalil, faleceu domingo, 14, aos 85 anos. Nascido em 19 de outubro de 1930 em Nova Friburgo, assinava em A VOZ DA SERRA a coluna “Recado de Jorginho Abicalil”, publicada aos sábados, em que relembrava pessoas e fatos de sua juventude em Nova Friburgo. Sua última crônica publicada na edição de 23 a 25 de maio, com o título “As Bandas”, na qual reverenciava as bandas centenárias Euterpe e Campesina Friburguense, numa ocasião em que elas se apresentaram juntas. Jorginho também foi colunista social neste jornal há algumas décadas. Mais tarde, já no Rio, tornou-se profícuo criador de jingles para o Brasil inteiro, tendo sido proprietário da gravadora Tape Spot, considerada uma das maiores produtoras de jingles políticos. Sua carreira foi premiada, tendo produzido milhares de jingles, a maioria com sucesso, tanto para campanhas políticas como para comerciais.

Por ocasião dos 70 anos de A VOZ DA SERRA, transcorridos em 7 de abril deste ano, entre as comemorações a diretora Adriana Ventura decidiu por editar um livro sobre a data, tendo encarregado a jornalista Dalva Ventura e o escritor Ordilei Alves da Costa dessa missão. E Jorginho Abicalil foi um dos convidados a colaborar com um texto. Aceito o desafio, ele enviou o texto logo depois, que transcrevemos como avant-premier do livro a ser lançado em breve, agora tendo Jorginho Abicalil já como uma saudade.

O corpo de Jorginho foi cremado ontem, 15, às 11h30, no Memorial do Carmo, no Caju, na capital Rio de Janeiro.

Para a família enlutada, direção e equipe enviam o seu mais profundo pesar.

Para A Voz da Serra, com amor

Renovando gerações e comandando a vida da cidade

Eu tinha 14 anos e estava no Colégio Modelo quando A Voz da Serra foi para as bancas pela primeira vez (aos 16 veio a Rádio Sociedade de Friburgo) e comecei a acompanhar o jornal. Sua leitura me dava elementos para crescer na profissão que se desenhava.

Tínhamos um grupo que se reunia aos sábados e domingos no Galeria Bar para falar de política, esportes, clubes sociais e generalidades. Era o Venturinha do jornal [Américo Ventura Filho, fundador, primeiro diretor e patrono de A Voz da Serra, juntamente com seu filho Laercio Rangel Ventura] e mais cinco ou seis, na primeira rodada de café. Rolava muito Dante, muito Humberto El-Jaick, muito PSD e muita UDN. Às vezes, silêncio total, e às vezes todos falavam ao mesmo tempo. Na segunda rodada de café, muito Amâncio, Feliciano e PTB.

Falávamos do Heródoto, do Lacerda e do Getúlio, para elevar o nível da conversa. Nos papos rolavam o Friburgo Futebol Clube, o Fluminense e o Esperança. E nessa hora, o Venturinha alterava a voz e fazia verdadeiros editoriais defendendo o seu time do coração. Ele era A Voz da Serra ao vivo. Num daqueles silêncios, o mestre Ventura me saía com essa: “A Dalvinha tá escrevendo umas matérias tão bonitas!”. Era o paizão jornalista vibrando com o DNA.

Ibrahim Sued, Jacinto de Thornes e Zózimo Barroso do Amaral eram a onda do colunismo social. Num domingo de inspiração, mandei ver: “Venturinha, tá de pé escrever uma coluna social?”. Ele me respondeu, de pronto. “Claro, escreve como você fala, escreve a vida que você leva pelos clubes sociais e esportivos. Fuja do lugar comum, busque um diferencial para marcar um estilo, chame o leitor de inteligente, seja verdadeiro”.

Daí, pronto. Virei colunista social. Organizava um concurso de danças no Xadrez e pensava: “Isso vai dar uma coluna”. No Clube dos 50, organizava a “Noite do Pullover”, com as garotas mais charmosas do clube. Dizia os nomes das beldades e quem foi a vencedora.

O carnaval da Sociedade Esportiva merecia um capítulo especial com os sócios cantando com a orquestra. Mas eu queria mais e numa daquelas rodadas com meu guru Ventura falei: “Estou com vontade de falar sobre as famílias friburguenses, dos El-Jaick, dos Boléia, dos Spinelli...”. E como falei!

Muito anos depois, já no Rio, o Henrique Cordeiro e a Laila foram até o Canecão me prestigiar na cerimônia de entrega do prêmio como Jinglista do Ano e ele me vem com essa: “Jorginho, porque você não faz um show no Country contando aquelas suas histórias? A Voz da Serra vai aniversariar e pode dar o patrocínio”. Aconteceu.

No final, o Laercio me aprontou uma peça e me deu todas as colunas já escritas por mim. Não deu pra segurar, desabei. O show terminou com artistas cantando o jingle do Itamar Franco, na ocasião, presidente da República.

Passados muitos anos, não aguentei de saudade do jornal, telefonei, voltei para o meu porto seguro. E aqui estou. Toda noite o Venturinha vem falar comigo e diz: “Escreve como você fala, escreve sobre a vida que você leva”. E aqui estou. Parabéns, 70 mais 70, e assim é a vida de A Voz da Serra. Renovando gerações e comandando a vida da cidade.

Jorginho Abicalil

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