Obituário: Irene Bohrer

Em homenagem a essa querida e agora saudosa personalidade friburguense, republicamos a entrevista que traduz todo o carisma característico de dona Irene.
quinta-feira, 03 de setembro de 2015
por Jornal A Voz da Serra

Faleceu no Hospital São Lucas na tarde de quarta-feira, 2, a senhora Irene Ferreira Bohrer, aos 102 anos, viúva de Lucas Bohrer, funcionário fundador da agência do Banco do Brasil na cidade. Dona Irene era mãe de seis filhos: Sérgio, Ângela Maria Bohrer da Costa, Carlos Alexandre, Maria Clara Bohrer Latini e Lucas Bohrer Filho, além de Nelson Augusto Bohrer, Guguti, como é conhecido, que muito tem se empenhado em prol da digitalização do arquivo Pró-Memória, atualmente da estrutura da Fundação Dom João VI, da Prefeitura. O sepultamento ocorreu na tarde de ontem, 3, no Cemitério São João Batista.

À família enlutada, direção e equipe de A VOZ DA SERRA enviam seu pesar.

Em 2012, o jornal A VOZ DA SERRA publicou uma entrevista concedida por dona Irene, que destacou sua imensa simpatia, bom humor e vitalidade. Na época com 99 anos, ela esbanjou alegria e revelou um dos segredos de sua longevidade: a paixão pelo futebol e seus dois times do coração - Flamengo e Friburguense.

Em homenagem a essa querida e agora saudosa personalidade friburguense, republicamos a entrevista que traduz todo o carisma característico de dona Irene.

"Dona Irene Bohrer: 99 anos muito bem vividos"

Apaixonada por futebol, matriarca revela paixão por Flamengo e Friburguense e conta o segredo de sua longevidade

A família Bohrer em Nova Friburgo está em festa. No último dia 24 de maio, a matriarca dona Irene completou 99 anos. “Estão dizendo que tenho essa idade, né? Eu nem me lembro mais”, brinca, esbanjando bom humor. Apaixonada por futebol, ela revela que atualmente sua principal ocupação é acompanhar muitos jogos, principalmente os do time de coração: o Flamengo. “Adoro futebol, para mim não tem festa melhor que esse esporte. Sempre fui flamenguista. É uma paixão que começou desde pequena”, diz.

E o conhecimento de dona Irene sobre o rubro-negro é de causar inveja em muito flamenguista roxo. Ela conhece os jogadores do elenco atual, sabe quais atletas reforçaram o clube para a disputa do Campeonato Brasileiro e, como grande parte da torcida, alfineta o camisa 10 do time. “O Ronaldinho não está mais com nada. Ele já era, só quer ganhar dinheiro. Admirava quem jogava por amor à camisa, como o Zico e o Júnior, mas hoje em dia isso não existe mais. Gosto do Thiago Neves também, mas, infelizmente, ele voltou para o Fluminense”, lamenta.

Entretanto, se for levado em conta que o “segundo time” de dona Irene é o Tricolor das Laranjeiras, pode-se dizer que ela ainda vibra com seu jogador favorito. “Eu confesso que também torço para o Fluminense. Até mesmo porque tenho dois filhos tricolores. Mas é claro que quando tem um Fla x Flu eu prefiro que vença o Flamengo”, garante. E o coração da matriarca ainda tem espaço para mais um time: o Friburguense. “Costumo dizer que o Flamengo é minha vida e o Friburguense também. Recentemente fui no campo, conheci os jogadores e ganhei uma camisa autografada por todos eles”, conta a torcedora que é presença constante nas partidas disputadas no Estádio Eduardo Guinle.

“Graças a Deus sou uma pessoa muito feliz”

Presente nos áureos tempos do futebol friburguense, ela relembra que sempre foi uma adepta do Friburgo, enquanto seu esposo, o saudoso Lucas Bohrer, atuava pelo Fluminense da cidade. “À noite não se tocava no assunto dentro de casa. Pelo menos ele também era flamenguista”, diverte-se. Questionada sobre o que costuma fazer quando não há jogos na TV, dona Irene afirma que encontrou outras boas opções para se distrair. “As novelas estão muito chatas, não tenho acompanhado. Tenho visto muitos filmes, principalmente os antigos. Além disso, também gosto muito de fazer palavras cruzadas”, conta a sempre ativa matriarca, que nasceu em Niterói e veio para Nova Friburgo com apenas 10 meses. “Eu me considero friburguense. Sempre morei aqui. Só sei que nasci em Niterói porque me contaram. Adoro esse frio que faz nessa cidade. Nunca quis sair daqui”, exclama.

Mas, afinal, qual o segredo da longevidade de dona Irene? “Olha, eu fico um pouco envergonhada de falar. Graças a Deus sou uma pessoa muito feliz. Mas a verdade é que eu gosto de tomar uma purinha de vez em quando”, revela, entre risos. “Aprendi isso com a minha avó, que era espanhola. Ela dizia que isso era o que dava vida. Ela gostava de tomar vinho. Eu prefiro uma cachaça, mas também tomo um vinho vez ou outra”, confessa.

E além do gosto por uma “purinha”, ela também conta que nunca teve uma alimentação, digamos, regrada. “Para mim, quanto mais gordo melhor. Adoro fritura. Penso que se até hoje não fez mal, não vai mais fazer. É claro que de um tempo para cá tive que dar uma diminuída. Às vezes abuso um pouquinho, quando o Flamengo faz um gol, por exemplo”, comenta. Com uma prole de seis filhos, 12 netos e 9 bisnetos, dona Irene revela que está na torcida para vivenciar o nascimento de um tataraneto. “Minha bisneta mais velha está com 17 anos. O pai fala que ela só pode ter filho depois dos 21. Essa minha avó que era espanhola conseguiu completar as cinco gerações, e olha que ela morreu com 90 anos. Vamos ver, né?”, recorda, ansiosa em repetir um feito já alcançado em sua família.

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