Por Cid Pitombo (*)
Acaba de ser divulgada portaria do Ministério da Saúde que autoriza o pagamento em hospitais públicos de cirurgia de redução de estômago para adolescentes entre 16 e 18 anos. Agora, se indicado, o hospital poderá receber do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo procedimento e o paciente terá o direito de ser operado. Na verdade, resolução do Conselho Federal de Medicina já autorizava que os médicos operassem esta faixa etária. Mas a principal pergunta diante desta autorização é: de que forma operar?
Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Governo Federal revelam que 13% da população adolescente de 10 a 19 anos está com sobrepeso e 3% com obesidade. E a expectativa é que esse percentual cresça ao longo dos anos. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, constata isso: 40% da população brasileira está acima do peso.
A cirurgia bariátrica é a última estância no tratamento do portador de obesidade. O Programa de Cirurgias Bariátricas do Estado do Rio de Janeiro tem a maior produtividade do país e já operou gratuitamente pelo SUS mais de 400 pacientes. E atendeu outros 700, demonstrando que, mesmo em adultos, a opção pela cirurgia de redução de peso não é imediata.
Julgar que um adolescente chegou neste patamar deve, obviamente, ser decidido de forma bastante criteriosa. É consenso mundial de que adolescentes portadores de obesidade mórbida só devem ser indicados para a cirurgia em situações muito específicas e, somente após extensas avaliações que envolvem o paciente, uma experiente equipe multiprofissional de médicos, psicólogos, nutricionistas, além da participação fundamental dos familiares.
É de conhecimento de todos que a adolescência é uma fase importante e muitas vezes difícil para esses meninos e meninas. Consequências psicológicas, bem como o crescimento ósseo nesta faixa etária, estão envolvidos nesta decisão de operar ou não operar. Cobranças futuras sobre os pais que autorizaram a cirurgia bariátrica também se incluem neste “pacote de decisões”.
Com um Programa de Cirurgias Bariátricas desde 2010, o Governo do Estado do Rio de Janeiro é pioneiro no tratamento de adolescentes obesos. Antes mesmo da portaria do Ministério da Saúde, cerca de 10 pacientes entre 16 e 18 anos já estão sendo acompanhados em um projeto-piloto por uma equipe multidisciplinar; formada por médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros. A ideia do projeto do Rio de Janeiro é focar em atendimento especializado e preventivo para os adolescentes nesta faixa etária. Ou seja, redução do peso com dietas. O motivo da opção prioritária pela não intervenção cirúrgica de imediato está relacionado aos eventuais danos psicológicos em pessoas tão jovens.
Neste período de acompanhamento, os adolescentes são orientados a promover uma severa reeducação alimentar e, para isso, recebem ajuda e orientação. Caso não consigam emagrecer, a cirurgia bariátrica é, então, discutida como opção ao paciente e com a sua família.
Que seja bem-vinda esta nova portaria para aqueles que necessitam.
Que tenham cuidado pais e equipes médicas para aqueles que ainda não necessitam.
Que, apesar da portaria, cada um de nós entenda que a prevenção é sempre a melhor opção.
(*) médico, mestre e doutor em cirurgia, e coordenador do Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. É também membro do Comitê de Educação Continuada da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
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