O verdadeiro retrato da educação no Estado

quarta-feira, 29 de junho de 2011
por Jornal A Voz da Serra
O verdadeiro retrato da educação no Estado
O verdadeiro retrato da educação no Estado

Greve dos professores estaduais continua sem perspectivas de negociação

Categoria hostiliza governador com “Judas” em frente à escola no Centro

Henrique Amorim

Já são 23 dias de paralisação. Sem reajuste há 12 anos, os professores da rede estadual de ensino permanecem de braços cruzados em prol do aumento imediato de 26% nos salários, incorporação das gratificações do projeto Nova Escola, descongelamento do plano de carreira e melhores condições de trabalho, com vistas à elevação do ensino público do Estado, que precisa muito melhorar a nota. No ranking do Índice do Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ano passado, o Rio de Janeiro classificou-se em 27º lugar, à frente apenas do Piauí. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ) anuncia que pelo menos 70% dos professores aderiram à greve. Já o Estado insiste que apenas 1,5% da categoria “não está trabalhando” e sequer apresentou uma contraproposta aos grevistas, mas já determinou o corte do ponto dos dias parados.

Hoje, 29, no Rio de Janeiro, os professores realizam mais uma assembleia para decidir pela continuidade ou não da greve. Já houve até vigília em frente à Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão e a Assembleia Legislativa (Alerj), sem êxito. Antes de licenciar-se por conta do abalo emocional sofrido com a morte da namorada do filho na queda de um helicóptero no Sul da Bahia há cerca de dez dias, o governador Sérgio Cabral revelou à imprensa carioca que teria que fazer um levantamento para saber se o orçamento da Educação no segundo semestre suportaria a concessão de algum percentual de reajuste aos 51 mil professores de 1.652 escolas do Estado.

Sem perspectivas de negociação, a classe tem ido às ruas denunciar à população absurdos na educação estadual, como piso inicial de R$ 610 para uma matrícula e o pagamento mensal de R$ 800 à empresa de manutenção do sistema de refrigeração com ar-condicionado nas salas de aula das escolas. Em Nova Friburgo, o Instituto de Educação (Ienf) na Praça Dermeval Barbosa Moreira centraliza as ações dos grevistas que recolhem assinaturas para manifestos populares de adesão à greve com apoio de alunos e até fizeram um “memorial da greve” com fotografias de passeatas e manifestos do movimento nas ruas de Nova Friburgo.

Um “Judas” na porta da escola simboliza o real estado da educação pública com chapéu na mão e de luto ladeado por faixas que cobram de Cabral uma solução para o impasse com mensagens irônicas como “Governo que mata aula não tem recuperação” e “Cabral, cumpra suas promessas”.

Alunos prejudicados temem pelo comprometimento do ano letivo

Com a greve já na terceira semana de duração, os alunos da rede estadual já sabem que as férias de julho automaticamente já estão suspensas para a reposição das aulas que deverão acontecer também nos fins de semana, se necessário, com possibilidade de estender-se o ano letivo em dezembro. Os alunos do 3º ano do ensino médio que irão submeter-se ao Enem em outubro são os mais prejudicados com a falta de aulas. “Quem não tem dinheiro para pagar um cursinho como irá fazer? Os professores ganham mal, têm o direito de reivindicar, mas e os alunos, como ficam? Como sempre nós é que seremos os mais prejudicados, pois a reposição das aulas nunca acontece como deveria. Teremos que engolir sábados letivos com eventos ao invés de aulas”, garante um aluno do Colégio Estadual Jamil El-Jaick, no Centro.

Outra aluna do Colégio Estadual Zélia dos Santos Cortes, na Vila Amélia, teme que após a greve os professores tenham que correr com o conteúdo para cumprir o currículo e as aulas percam a já pouca qualidade que tinham. “Não será novidade termos que fazer provas sobre matérias que não terão tempo de serem explicadas direito pelos professores”, observa a adolescente do ensino médio.

Em diversas escolas estaduais em Nova Friburgo, alguns professores que não aderiram à greve têm ministrado aulas em seus horários habituais com realização de avaliações, mesmo com a frequência reduzida de alunos. Aulas têm acontecido com até cinco alunos em sala. “É um absurdo ter que ir à escola às 7h para assistir a apenas um tempo de aula e ser liberado 50 minutos depois. Duvido que os 200 anos letivos sejam cumpridos. Depois o estado quer bom resultado no Enem”, reclama um aluno.

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