Carlos Emerson Junior
Um belo dia, uma de minhas filhas comentou que a bandeira mais bonita que existia era a do Uruguai e explicou que o sol, ao lado das listras azuis e brancas, sorria. Lembrei essa história quando fazia minha caminhada lá no alto do Parque Santa Elisa, perto da Praça da Criança, debaixo de um sol glorioso, destacando-se no céu azul, sem nuvens. Só faltou o branco para completar a bandeira do país vizinho.
A verdade é que, apesar dos dias frios, somos uma cidade solar! Aliás, o melhor do nosso inverno é a ausência de chuvas, a temperatura tépida durante o dia e o sol querendo nos abraçar e esquentar as manhãs depois das noites geladas. Quando essa mesma filha reclama do frio intenso e da chuva constante do inverno de Vancouver, no Canadá, eu penso nos dias claros do inverno friburguense, onde o sol realmente parece sorrir.
Está bom, nossas montanhas não são cobertas de neve com as da Suíça e, infelizmente, cada ano que passa parece que o frio está cada vez mais raro, mas o contraste das matas verdes com o céu profundamente azul torna nossa estação de meio de ano especial, propícia para longos passeios e pura contemplação. É no inverno que Nova Friburgo fica escandalosa de tão bonita, charmosa e aconchegante. Dá orgulho morar aqui.
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No entanto, nem tudo no inverno é motivo de celebração. Lamentavelmente ainda insistimos com essa prática ultrapassada e criminosa que é a queimada, provocando danos ambientais enormes. De fato, as encostas incendiadas ficam desprotegidas e suscetíveis a desabamentos na época das chuvas. E tem mais, a degradação da qualidade do ar, causada pela emissão de gases tóxicos da combustão, afeta profundamente a saúde da população, principalmente crianças e idosos.
O inverno de 2007, quando a seca atingiu níveis alarmantes e quase todos os morros de Nova Friburgo praticamente arderam ao mesmo tempo, ainda está bem guardado em minha lembrança. O ar ficou irrespirável, o azul deu lugar a uma imensa névoa cor de chumbo e durante as noites vigiávamos os focos de incêndios que, sem parar, consumiam toda a mata. Para quem nunca tinha visto uma coisa dessas de perto, literalmente no morro atrás de sua casa, foi realmente assustador.
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Com ou sem queimadas, adoro o inverno. Claro que sei que é complicado sair da cama quentinha pela manhã, tomar banho, vestir um monte de agasalhos e ir para o batente tal qual uma cebola, tirando peça por peça dos casacos a medida que o dia avança. E olha que nem estou falando na turma que levanta em plena madrugada, com a temperatura em um dígito, para pegar o primeiro ônibus para o Rio, por exemplo. Aliás, vale também para o segundo, terceiro, quarto...
O pessoal da zona rural sofre dobrado. Nossa região é conhecida por geadas, inimigas de sempre das lavouras. Apesar de os serviços meteorológicos emitirem avisos, o que vale mesmo é usar o conhecimento da região e do tempo e ficar de prontidão, quer dizer, semiacordado, preparado para levantar e regar a plantação assim que a geada começa a se formar (perdoem-me se estou errado, mas é que nunca fiz e nem sei que quero ter esse tipo de experiência. Muito aqui entre nós, esse foi um dos principais motivos porque não fui para o campo. Imaginem um carioca friorento numa situação dessas!).
No entanto, sair à noite, é uma delícia e, para quem fica deslumbrado com temperaturas próximas do zero, qualquer motivo vale para ir a um dos ótimos restaurantes, cafés ou bares de Nova Friburgo, mandar abrir um tinto chileno bem encorpado e atacar um fondue de qualquer coisa, de preferência em muito boa companhia. Sem esquecer que, para a turma que está de dieta, temos ótimas sopas bem quentinhas, perfeitas para a ocasião.
Dá até para imaginar como o sol vai sorrir no dia seguinte!
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Mudando um pouco de assunto, que fim levou o nosso Festival de Inverno? É, estou falando daquele mesmo que mobilizava a cidade inteira, tinha um palco flutuante em um dos lagos do Country Clube e ainda por cima trazia a reboque um festival de gastronomia com os mais conhecidos endereços da cidade! O bacana é que todas as manifestações artísticas tinham seu espaço, inclusive o pessoal daqui da terra.
Pois é, quando começaram a falar em festival da Serra Fluminense, de Petrópolis, Teresópolis e outras polis menos votadas, lembrei que Campos do Jordão, em São Paulo, não divide o seu com nenhum outro município, é um evento e marca da cidade. Claro que sei que é isso é caro e que ainda não estamos em condições de bancar nada no momento, mas como dizia o velho comercial do rádio, o mundo gira, a Lusitana roda e se vamos mesmo dar a volta por cima, o Festival de Inverno continua remetendo a Nova Friburgo, pelo menos no imaginário de amigos e conterrâneos cariocas. Será que com o apoio privado não conseguimos retomar o velho brilho? Como acredito que nossa vocação ainda é o turismo, essa ideia não pode morrer.
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E termino aqui deixando uma sugestão: já que o inverno é democrático e esfria igualmente a vida de todos os friburguenses, que tal negociar com a concessionária de ônibus, agora sob nova direção, uma redução nas tarifas nos domingos e feriados, como acontece em várias cidades desse mundão afora? Para estimular os passeios, vamos transformar a Alberto Braune em rua de pedestres, com atividades artísticas e esportivas. É claro que outras praças e parques da cidade também entrariam nesse roteiro de lazer.
Aí sim, não só o sol, mas todos nós vamos sorrir!
carlosemersonjr@gmail.com
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