Na edição do último dia 21, A VOZ DA SERRA publicou reportagem sobre os problemas da economia brasileira que também afetam a compra de imóveis. O sonho da casa própria está mais longe para alguns candidatos, tendo em vista que a Caixa Econômica Federal apertou as condições do crédito imobiliário este ano, elevando juros e aumentando as exigências do financiamento. A medida atinge os contratos de financiamento de imóveis usados e exige da maioria dos compradores uma entrada de pelo menos metade do valor do imóvel. Antes, a exigência era de 20%.
MOMENTO DELICADO – Para as corretoras de imóveis Sônia Costa e Katiana Fagundes, as mudanças junto à Caixa modificam o gráfico demonstrativo de financiamentos concedidos, porém o crédito concedido com o recurso do FGTS — que é o que deveria atingir grande parte da população friburguense (carta de crédito FGTS) — não foi alterado. Na verdade, as alterações se dão quando se trata de usar os recursos oriundos das cadernetas de poupança (carta de crédito SBPE), pois nesse caso houve elevação das taxas de juros e diminuição do percentual de financiamento.
Sônia e Katiana citam que adquirir imóvel próprio em Nova Friburgo está difícil, por se tratar de um município com renda baixa. Além disto, a falta de emprego formal também atrapalha a aquisição de imóvel, pois a capacidade comprovada de pagamento é o principal fator para a concessão do crédito. E há outro fator importante: imóvel à venda dentro do real poder de compra do cidadão friburguense, pois não há construtores interessados em investir em Nova Friburgo em imóveis que se enquadrem, por exemplo, no programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, ou até em imóveis com valores um pouco menores dos que têm sido praticados.
Para Sônia e Katiana, o mercado imobiliário de Nova Friburgo está em um delicado momento — porém imóvel com valor mais coerente à realidade do cidadão friburguense, certamente atrairá os compradores, que apesar de tudo, não desistem do desejo de ter a casa própria, pois o financiamento está aí.
MUDANÇA DE FOCO – O corretor de imóveis Luiz Cláudio de Oliveira Souza diz que seu movimento caiu mais de 80% por causa desse arrocho que ocorreu. E a maior parte de sua clientela antes usava o financiamento da Caixa de 80% a 90%. No máximo era uma entrada e as despesas, que são à parte. Isto pesa muito em sua opinião. “Eu calculo entre 10% a 12% do valor do imóvel de despesas — cartório, ITBI, foro — e com a agravante de que em Nova Friburgo ainda há laudêmio. Uma escritura de um imóvel no valor de R$ 300 mil, a despesa com cartórios fica em torno de R$ 15 mil”. E o corretor salienta que agora, para obter o financiamento da Caixa, o candidato tem que desembolsar 50% do valor. “Eu acho um absurdo, porque esses recursos, na realidade, são proveniente do FGTS”, salienta ele, que deixa a pergunta no ar sobre o que está ocorrendo em nível nacional.
Diante desse quadro, Luiz Cláudio decidiu mudar o foco. A maior parte dos clientes são pessoas cuja renda dá para comprar imóveis no máximo até R$ 250 mil. Há ainda alguns clientes com recursos próprios que podem comprar imóveis entre R$ 250 mil e R$ 400 mil; e um grupo menor com capacidade acima desse valor. Este último grupo normalmente usa recursos próprios, ou porque vendeu outro imóvel ou juntou o valor. Abaixo desse valor, que era o movimento maior da corretora, a procura caiu muito. “Nós estamos focando agora em lançamentos, que dependo do tipo e do período, a Caixa ainda financia 80%, comenta. Há ofertas, por exemplo, no bairro Nova Suíça, e normalmente são obras boas, observa.
Os imóveis usados, segundo Luiz Cláudio, ainda têm procura por dois fatores: localização (normalmente os candidatos querem imóveis no Centro) e investimento (aplicação do valor disponível), quando o cliente imobiliza o dinheiro aplicado. O corretor também trabalha com terrenos. “Os valores são mais em conta e temos financiamento particular”, frisa. Assim, a pessoa aplica um valor no terreno e constrói quando puder”, finaliza.
MERCADO AINDA É BOM – O corretor de imóveis Ricardo Pedretti comentou que o financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida, em função da Caixa não estar mais financiando 80% a 90% do valor do imóvel, caiu um pouco. Porém, os demais bancos continuam financiando. Ele citou o exemplo do Banco do Brasil, que financia o Minha Casa, Minha Vida para imóveis novos. A Caixa financia para imóveis usados, mas o candidato perde a prerrogativa do desconto.
Para o corretor, Nova Friburgo é um mercado diferenciado. Não há construtoras construindo milhares de imóveis, o que faz com que a procura por imóveis seja restrita. E os preços não caem. O mercado está especulativo. Há muita gente procurando imóveis para ‘guardar’ o dinheiro, com medo de que o dinheiro aplicado perca o valor, ao passo que com imóvel a valorização é garantida e ainda rende aluguel.
“O mercado diminuiu um pouco, mas não parou”, frisa Ricardo. Para ele, o mercado ainda pode ser considerado bom. “Temos que trabalhar. Na crise a gente ganha dinheiro também”, arremata.
Dinheiro para imóveis de até R$ 400 mil é liberado
BB e Caixa já estão emprestando os R$ 5 bi aprovados em maio pelo FGTS
Os trabalhadores que têm conta no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e planejam financiar a casa própria já podem procurar a Caixa Econômica Federal ou o Banco do Brasil. Nas agências da Caixa já estão disponíveis os R$ 4 bilhões para a linha de crédito do Pró-Cotista, voltada para imóveis de até R$ 400 mil. O BB também liberou R$ 1 bilhão para a mesma linha de crédito.
JUROS MENORES – Esses recursos correspondem aos R$ 5 bilhões que foram aprovados em maio pelo Conselho Curador do FGTS para a linha Pró-Cotista, que tem juros mais baixos do que os cobrados nos empréstimos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que usa dinheiro da poupança e financia imóveis de até R$ 750 mil.
Pelo Pró-Cotista a Caixa se dispõe a financiar até 85% do valor do imóvel, ou seja, R$ 340 mil. As taxas de juros variam entre 7,85% e 8,85% ao ano, dependendo do nível de relacionamento do cliente com o banco. E o prazo de pagamento é de até 360 meses, ou 30 anos. No BB, os empréstimos podem chegar a 90% do valor do imóvel. O prazo de pagamento também é de 360 meses. A taxa de juros, porém, é um pouco maior: 9% ao ano.
Para ter acesso à linha, é preciso que os cotistas tenham trabalhado com carteira assinada 36 meses, consecutivos ou não, ou seja, é preciso ter recebido depósitos no fundo durante pelo menos três anos. Além disso, se a conta vinculada ao FGTS estiver inativa — sem receber depósitos — é necessário que o saldo seja de no mínimo 10% do valor do imóvel. O interessado não pode ser proprietário de imóvel no município onde reside ou trabalha, nem em cidades vizinhas ou integrantes da mesma região metropolitana.
PRIORIDADE PARA NOVOS – Segundo resolução do Conselho Curador, 60% dos recursos deverão ser direcionados para o financiamento de imóveis novos. Na reunião de maio, os conselheiros também reduziram de R$ 750 mil para R$ 400 mil o valor máximo do imóvel.
O BB identificou 2,2 milhões de clientes potenciais a financiamento de imóveis dentro dessa modalidade.
DIFERENÇA ENTRE AS LINHAS DE CRÉDITO – A linha de crédito Pró-Cotista é voltada para quem tem conta no FGTS há pelo menos três anos e não possui outro imóvel na mesma cidade. Financia imóveis de até R$ 400 mil com juros máximos de 9% ao ano.
O SFH tem juros maiores — até 12% ao ano — e financia imóveis de até R$ 750 mil. Usa recursos da poupança, mas o comprador pode usar seu FGTS como entrada ou para abater da dívida.
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