Como criaturas encantadas, artistas sobem aos palcos, picadeiros, vão às ruas e praças, para nos divertir e comover. Nos cutucam com suas histórias de amor e dor, nos levam a refletir, ou simplesmente esquecer, ainda que seja por algumas horas. Aplaca nossas aflições, põe sorriso em nossos rostos, faz correr lágrimas emocionadas de nossos olhos.
Através da interpretação de personagens inesquecíveis, seja dizendo, cantando, dançando, pintando, os artistas nos revelam o universo de sentimentos que há dentro dos seres humanos e que a maioria de nós não consegue expressar.
Agradecemos a todos os artistas que tornam nossa rotina mais bonita e mais feliz. Isso e muito mais, que não se expressa só com palavras, porque arte é magia, e como tal, sentimos muito além do que vemos e ouvimos.
Neste 24 de agosto, Dia do Artista, A VOZ DA SERRA abre espaço para que alguns de nossos artistas se manifestem sobre o significado e a importância das artes em suas vidas.
Daniela Santi
“Desde que iniciei minhas atividades teatrais, na década de 1970, como estudante de teatro e, depois, como profissional, ouço dizer que o teatro está em crise. De acordo com os depoimentos atuais de muitos artistas, esta crise perdura! Enfim, desde a Grécia antiga, berço dos primeiros passos em direção à atuação, por meio dos Ditirambos ( procissões em honra ao deus Dionisios, na mitologia grega, ou Baco, na romana), como diziam meus mais renomados professores, a crise teatral existe! Isso comprova que nós artistas, somos um bocado resistentes.
Ignorando esses presságios pessimistas, seguimos em frente, resistindo às intempéries e desgovernos. Em se tratando de artistas do interior do estado do Rio de Janeiro, que durante quase toda a sua vida cênica pouco, ou nenhum apoio tiveram em suas produções, do empresariado local , sem citar os subsidios do poder público, raros e esparsos, podemos dizer que são resistentes e invencíveis.
Sempre temos a esperança de que as coisas melhorem, ou que surja um "mecenas", apaixonado por teatro, mas, enquanto isso não acontece, nos reinventamos e criamos a partir do nada. No meu caso, estou dirigindo, depois de três anos sem fazê-lo, um novo trabalho com o Grupo em Grupo de Artes Cênicas. O texto é uma adaptação, autorizada pela SBAT ( Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), de João Bethencourt, intitulado "Crime Roubado".
A estreia está prevista, no Teatro Municipal Laércio Rangel Ventura, para o final de novembro. Digo prevista, pois tenho que levar em conta que, mesmo sendo profissionais, com registro profissional em carteira de trabalho, os atores não vivem de teatro, nem poderiam dado o retorno financeiro que obtemos. Então, o que temos é o retorno a nível de satisfação.
O prazer em criar e apresentar ao público, o produto de nossos três esforços semanais, de poucas possíveis horas de empenho total. É se sentir capaz de dizer ao outro que é possível uma mudança, que nem tudo está perdido, ou de mostrar sob um prisma diferente, o quanto o ser humano é frágil ou cruel. Sem maniqueísmo, fazer entender o que é ser bom, num mundo tão conturbado e numa sociedade tão heterogênea e dividida.
Mostrar que a arte salva, que a imaginação não tem fronteiras, que a criação artística tem o poder de fazer pensar, divertir e alertar. Afinal, todos viemos do pó, e ao pó voltaremos. Fazer ver que o ser humano tem salvação e que a ética, e o respeito às diferenças e ao mundo em que vivemos, depende de nossas ações, mas também de nossos pensamentos.
Por isso, e por outros motivos, é que resistimos e continuamos em frente, querendo a revolução dos sentimentos, das palavras e dos gestos. Esperamos que o público entenda nossas intenções, que absorva e tome para si, novas ideias e atitudes. Vida longa ao teatro!”
Maria Clara Wermelinger
“Retornar para minha cidade querida, após 20 anos de estrada e diferentes experiências por diversos campos artísticos, foi a melhor escolha que fiz. Chegando aqui, fui me reaproximando dos palcos como atriz e diretora de teatro. Nunca imaginei que, em dois anos, escreveria dois roteiros e uma peça teatral para comemoração de 10 anos da Cia Arteira. Fiquei longos anos afastada do teatro, por necessidade de investigar e aprimorar outras áreas artísticas. Estudei fotografia, arte floral, decoração de interior, figurino e cenografia. Foi um caminho de muito aprendizado como artista e criadora!
Voltando para Nova Friburgo, muitas coisas retornaram para minha vida. Justamente na cidade que me descobri artista. Agora, estou aqui novamente, ensinando arte para crianças, na escola que me incentivou na escolha deste caminho.
Tocar as pessoas e transformá-las é a minha missão e o meu grande objetivo. Comunicar, fazer pensar e refletir. Tenho muito orgulho de ter ex-alunos meus seguindo caminhos pelo teatro, música, tv e brilhando profissionalmente! Sei que tem muito dos meus desejos, sonhos, vontades e lutas neles. Sou cidadã Friburguense e tenho muito orgulho de sobreviver com arte e resistir na arte.
Na semana que vem, a escola que fundei, o grupo de teatro (TEIA), fará um Festival Intercolegial de Teatro (FIT). Tenho orgulho de mencionar aqui este evento, que também ajudei na fundação e continuidade por todos estes anos. Precisamos resistir e continuar fazendo aquilo que acreditamos e nos deixa feliz!”
Jozi Luka
“Logo cedo, ainda criança, descobri que tinha o dom de cantar e surpreender as pessoas quando ouviam. Isso ficou muito claro na escola quando, aos 11 anos, eu cantei em uma aula e a minha professora de Arte ficou emocionada. Naquele momento percebi que a música era o meu caminho nessa vida.
Depois veio a primeira banda do colégio com os meninos, os festivais e o meu primeiro show profissional no Centro de Arte de Nova Friburgo. Desde então minha vida é a minha música.
Fui para o Rio de Janeiro onde trabalhei com grandes nomes da música brasileira. Hoje, com 32 anos de carreira artística, cantora e compositora com cinco álbuns autorais lançados, produtora musical e professora de canto, posso afirmar que aquela menina através do seu sonho cresceu no ambiente que acreditou e conquistou através da sua Arte.”
Lívia Pinaud
“Desde que me formei em Produção, na UFF, trabalho no Rio. Há alguns anos, o diretor Flavio Langoni e eu temos nos dedicado ao segmento da web, que permite a produção e a distribuição do audiovisual de qualquer lugar. Quando eu trouxe o projeto Nomade 7 para ser finalizado aqui em Friburgo, o Flavio se surpreendeu com a quantidade de talentos locais.
Criamos então um projeto dedicado exclusivamente aos artistas e profissionais técnicos da cidade, a websérie antológica Outro Lado. Unimos forças com o Luciano Santos e começamos essa empreitada. E como é bom poder produzir aqui! Cada episódio é falado em português e inglês, e são usados profissionais diferentes.
Estamos trabalhando com artistas incríveis e profissionais técnicos extremamente competentes. Estão reunidas no projeto as produtoras ALL Cine, Montagna Filmes e Replay Video, e pretendemos reunir ainda mais.
Com equipe 100% friburguense, a série já possui 2 prêmios e 11 indicações em festivais internacionais, e o episódio 1 foi exibido por um mês em 30 salas dos cinemas UCI, na Italia. É uma satisfação muito grande poder produzir na minha cidade e ver o resultado desse trabalho ao lado de pessoas tão dedicadas e talentosas!”
Bernardo Dugin
“Teatro é o lugar onde não penso em mais nada, a não ser o fazer teatro, como operário. É um espaço de se descobrir cada dia mais, de se reinventar, construir e, sempre, sempre desconstruir.
Nele sinto-me vivo, sobretudo porque Ele é vivo!
O Teatro é um lugar para se pensar, provocar, para olhar para dentro, mas a partir do outro. É a morada do coletivo. Lá, perguntas interessam mais do que respostas, do que certezas. Há sempre lugar para a dúvida e isso é belo. É onde o caminho sobrepõe-se ao destino. Quem é do ramo sabe disso.
É o templo, onde livre dos julgamentos, é permitido errar e ser quem realmente somos, com a sinceridade da alma. Aliás, a expressão sinceridade vem do teatro romano, no qual os atores, sempre homens mascarados, a exemplo do teatro grego, usavam cera de abelha para colar as máscaras no rosto. Por isso, uma pessoa ‘sine cera’, ou sincera, era uma pessoa sem máscara.
Com máscaras, sem máscaras... o teatro vive! O teatro resiste. E a voz do Teatro há sempre de ecoar.”
Lincoln Vargas
“Trabalhar com aquilo que você realmente gosta é o princípio fundamental para uma realização plena. No meu caso, sou artista. Vivo do que quero, como do que crio. Não tenho hora para trabalhar, trabalho em todas. Me sustento do que sei de melhor, sorte minha, do contrário não me sustentaria. Meu trabalho não tem endereço fixo, tá sempre mudando o cenário. Assim é bom, não cansa, ensina e fortalece.
E mesmo quando na adolescência, fui office-boy no escritório dos meus tios, levei com arte. Na escola, apresentei. No Senai, desenhei. Quando fiz vestibular pra informática, influenciado pela “boa” do momento, tomei bronca do meu pai que sempre disse que eu deveria permanecer na arte. Trabalhar com cultura.
Hoje, trabalho como músico, ator, compositor, produtor, editor, professor e espero continuar assim, artista.
Pra encerrar, uma breve do meu grande mestre Domingos Oliveira, com quem tive a honra de trabalhar durante mais de15 anos: ‘A vida é indomável, mas na arte é possível fazê-la como gostaríamos’.
É isso. Só a arte salva!!!”
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