Mario de Moraes
sabido que a boa leitura enriquece a cultura de uma pessoa. Hoje em dia, no entanto, devido ao avanço tecnológico, os jovens lêem muito pouco, principalmente livros. A culpa, no entanto, não lhes cabe totalmente. Em tempos idos, quando não existia a televisão, o computador e, principalmente, a internet, havia mais tempo para a leitura e os estudantes tomavam conhecimento dos grandes escritores brasileiros. Coleções como as de Monteiro Lobato eram lidas com o maior prazer. Hoje, se indagarmos à maioria dos jovens quem foi João Guimarães Rosa, poucos – para sermos otimistas – saberão responder. E, no entanto, ele foi o autor de Grande sertão – veredas, uma das obras-primas mais importantes da nossa literatura do século 20.
Se vivo fosse, João Guimarães Rosa faria 100 anos no dia 27 de junho. Ele nasceu num lugarejo mineiro denominado Cordisburgo (“cidade do coração”, como costumava chamar), no dia 27 de junho de 1908, primeiro dos seis filhos de dona Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Floduardo Pinto, mais conhecido como seu Fulô, comerciante, juiz de paz, caçador de onças e contador de histórias.
Com 7 anos Guimarães Rosa começou a estudar francês por conta própria. Pouco depois, já com o auxílio de um frade holandês, aperfeiçoou-se em francês e aprendeu holandês. Aos 9 anos mudou-se para Belo Horizonte e foi morar com os avós. No Colégio Arnaldo, de padres alemães, em pouco tempo falava no idioma germânico. Poliglota, disse numa entrevista dessa época: “Falo português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto e um pouco de russo; leio sueco, holandês, latim e grego”. Com apenas 16 anos, Guimarães Rosa ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. No enterro de um colega, vítima da febre amarela, Guimarães Rosa disse uma frase (“As pessoas não morrem, ficam encantadas”) que ficou famosa e que ele pronunciou 41 anos depois, quando tomou posse na Academia Brasileira de Letras (concorreu duas vezes à ABL. Na primeira não teve os votos necessários, mas, na segunda, foi eleito por unanimidade).
Foi médico por pouco tempo, trocando a Medicina pela diplomacia, mas preferia permanecer o maior tempo possível no Brasil. De sua vida diplomática cabe lembrar que Guimarães Rosa foi cônsul adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, e ajudou muitos judeus a fugirem para o Brasil. Percorreu a zona rural de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia. Nessas viagens levava um pequeno caderno atado a um fio de arame em volta do pescoço, onde anotava as expressões populares e os nomes de plantas e animais da região. Grande sertão: veredas (publicado em 1956) é sua obra mais conhecida e importante. Nela, Guimarães Rosa coloca diversos neologismos, por ele inventados, termos arcaicos eruditos lusitanos, palavras estrangeiras e onomatopaicas. A história do jagunço Riobaldo que se apaixona por seu companheiro Diadorim, que ele acredita ser coisa do demônio, foi levada à televisão com sucesso. Só no fim fica-se sabendo que Diadorim é uma moça disfarçada de cangaceiro. Entre os diversos livros escritos por Guimarães Rosa, para melhor compreensão do seu estilo, é preciso ler, também, Sagarana, de 1946.
Guimarães Rosa foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1963, adiando sua posse por quatro anos. Segundo ele acreditava, morreria logo em seguida. Assumiu em 1967 e faleceu exatamente três dias após ser empossado.
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