O rock como movimento de integração entre os jovens

"O fortalecimento da cena musical é extremamente positivo para o desenvolvimento da juventude", diz Guilherme Isnard, da banda Zero
sábado, 14 de julho de 2018
por Paula Valviesse (paula@avozdaserra.com.br)
Guilherme Isnard no palco (Foro: Nem Queiroz)
Guilherme Isnard no palco (Foro: Nem Queiroz)

Líder da banda ZerØ e com uma trajetória musical pra lá de brilhante, além de uma história de vida cheia de conhecimento, encontros e conquistas, Guilherme Isnard foi o convidado do Caderno Z desta semana para homenagear o rock’n’roll e suas vertentes, pelo Dia Mundial do Rock, celebrado em 13 de julho.

O músico, nascido no Rio de Janeiro, filho de pai francês e mãe brasileira, escolheu Nova Friburgo para morar com a família. Atualmente ele está em turnê com a formação ativa da banda ZerØ, que completou 35 anos em 2018, com o CD “Quinto Elemento”, seu trabalho mais recente, com músicas inéditas produzidas por Nilo Romero e JP Mendonça.

E foi em Nova Friburgo que Guilherme teve o seu primeiro contato com o rock: “Meu pai ouvia música francesa, minha MPB. Rock and roll na minha casa não rolava, o que eles ouviam de rock era Elvis Presley. O rock entrou nos meus ouvidos em Nova Friburgo. Eu era aluno interno da antiga Fundação em 1968 e aqui tocava muito “Hello, Goodbye”, dos Beatles, que era o ritmo que estava em alta na época”, conta.

Ao se mudar da cidade, ele levou junto o interesse pelo rock e ao se juntar com um grupo de talento formou sua primeira banda: “Aos 10, 11 anos eu voltei para o Rio, mas com Beatles na cabeça e fui estudar em um colégio em que na minha turma eram todos artísticas: Lobão, Cláudio Nucci e Zé Renato (do Boca Livre) e o Guilherme Karam. Já no segundo ano eu montei a primeira banda com o Lobão, que chamava Grêmio Recreativo Nádegas a Declarar. Do ginásio o Lobão foi direto para a carreira na música e eu me dediquei ao design de moda, só voltamos a nos encontrar nos anos 80, nos camarins do Chacrinha”.

E Isnard seguiu a carreira de designer, ilustrador, ator e poeta. Trabalhou como designer gráfico, estilista de moda, arquiteto, decorador de interiores, até se reencontrar com a música, no início dos anos 80. E desde então ele não se separou mais dessa grande paixão. Em 1983 Guilherme fundou a banda ZerØ e começou a escrever e cantar as próprias canções.

E é com essa bagagem emocional e experiência de vida que o músico comenta sobre o rock no cenário musical atual e em Nova Friburgo: “O rock não tem mais a abertura que deveria ter. Digo isso porque ele preenche um espaço importante na cultura jovem, como espaço de contestação, protesto, mas principalmente de socialização. Friburgo já foi a cidade da música, dos festivais… das domingueiras do Cantina Camping, do Cêfel… e esse espaço desapareceu. E a consequência direta disso, é que o jovem fica sem foco, sem ter o que fazer”, diz Guilherme.

E ele explica como essa representatividade do rock transforma: “O rock ocupa, porque você precisa ensaiar com a sua banda, se apresentar, tem dentro do repertório um espaço para colocar as suas opiniões e encontrar eco no seu grupo. Então eu acho que, não só para Friburgo, mas para qualquer outra cidade do interior, o fortalecimento da cena rock’n’roll é extremamente positivo para o desenvolvimento da juventude”.

O rock de volta às escolas e espaços públicos

Apaixonado por Nova Friburgo, Guilherme é membro dos conselhos municipais de Políticas Culturais, Turismo, Desenvolvimento Econômico, de Moda; diretor cultural do Nova Friburgo Convention & Visitors Bureau e diretor vogal da Associação Friburguense de Preservação da Memória Ferroviária. E em sua militância pelo desenvolvimento turístico e cultural enxerga no rock uma alternativa simples, mas que pode ser bastante efetiva no combate às drogas e para a socialização dos jovens friburguenses.

“Hoje estou numa cruzada junto com as secretarias de Políticas Sobre Drogas, de Turismo, de Cultura para a construção de um futuro melhor para a nossa juventude. Estou tentando de alguma forma articular um reaquecimento dessa cena musical justamente para que os jovens tenham um canal não só de expressão, mas de socialização, em torno de uma atividade produtiva”, conta Isnard.

E uma forma de colocar em prática esse cenário seria, de acordo com ele, o investimento em equipamentos e a liberação de espaços públicos, como o coreto da praça, por exemplo, para eventos musicais, apresentação das bandas de rock, que são várias na cidade, e a volta dos festivais nas escolas.

“O coreto, por exemplo, não representaria nada em termos de custo para se ter um equipamento que permitisse que as bandas tocassem nas tardes de sábado e/ou domingo. Mas não precisa ser exatamente na praça, pode ser qualquer outro espaço, nas escolas. Mas o importante nisso é vontade política para fazer o investimento necessário e organizar, porque também não adianta juntar os jovens para fazerem e ouvirem música e se embebedarem e se drogarem nesses locais. Tem que ter ordem! Podemos fomentar os festivais nas escolas municipais, que é algo que já deu tão certo em outros tempos”, afirma o músico.

 

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