Henrique Amorim
Na fatídica madrugada do último 12 de janeiro, Adriana da Rosa e sua mãe, Quezia Gonçalves da Rosa, viram o sonho de uma vida nova se esvair com a perda do ganha-pão da família: uma confecção de moda íntima que funcionava improvisada e informalmente na varanda da casa de Adriana, no Jardim Marajói, distrito de Conselheiro Paulino, foi totalmente destruída pelo deslizamento de uma encosta que destruiu o imóvel. Por milagre, ela, o marido e um casal de filhos escaparam da fúria da avalanche. Do local foram retirados pelo menos 18 caminhões de lama e entulho e a família teve que mudar-se para uma casa alugada. Adriana e Quezia deixaram de produzir cerca de duas mil peças por semana devido à perda das três máquinas e amargam um prejuízo de aproximadamente R$ 10 mil.
Drama semelhante enfrenta a costureira Simone da Silva Araújo, que produzia até quatro mil peças por semana, com mais sete amigas, em sua casa, na localidade de Conquista, distrito de Campo do Coelho. A casa onde também funcionava a confecção foi atingida por uma enchente e as cinco máquinas de costura que tinham tiveram perda total, inviabilizando a única fonte de renda do grupo de mulheres. Diante do prejuízo e a sensação de impotência ante às consequências da catástrofe, Adriana, Simone e mais 59 empreendedoras do setor de moda íntima — a maioria informais — que costuravam em casa e foram diretamente atingidas pela tempestade de janeiro, enfim, viram esta semana a chance de se reerguerem.
Graças a uma iniciativa da concessionária de energia elétrica de Nova Friburgo, Energisa — com a ajuda dos parceiros Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf), loja Big Máquinas de Costura e transportadora Frilog — 61 costureiras, a maioria informais, retomarão seu negócios com a aquisição de três máquinas de costura industrial modelos colarete, overlock e 20-U, da loja Big Máquinas. Cada kit orçado em R$ 5,5 mil será quase totalmente custeado pelo projeto social Energisa Solidária, que arrecadou no primeiro trimestre desse ano pouco mais de R$ 254 mil em doações de clientes para as vítimas da tragédia através das contas de energia elétrica de sua área de concessão nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Sergipe.
Cada empreendedor e microempresário de moda íntima indicado pela Acianf e a loja Big Máquinas terá que financiar somente R$ 1.333,33 por cada kit de três máquinas. Os R$ 4.166,66 restantes serão doados pela Energisa graças às doações dos clientes no pós-tragédia. Em cerimônia na noite de terça-feira, 3, numa churrascaria do Centro, os beneficiados receberam simbolicamente os kits de máquinas de costura e assinaram um termo de compromisso para o financiamento do restante do valor devido com a loja Big Máquinas.
“É uma oportunidade de ouro que não podemos desperdiçar. Com certeza, há a mão de Deus nisso. Se não fosse essa ajuda, jamais poderíamos comprar máquinas novas e tentarmos recomeçar”, disse Quézia Gonçalves, emocionada e ávida por voltar rapidamente à ativa. As máquinas serão entregues nas casas ou locais de trabalho dos beneficiados gratuitamente pela transportadora Frilog, conforme garantiu o diretor Jefferson Thedin. “Não podíamos ficar imunes a esse trágico acontecimento e percebemos que podíamos e devíamos fazer algo. Com a entrega desses kits de costura estamos fornecendo a vara de pescar a esses empreendedores que com seu talento e força de vontade irão se reerguer e, com certeza, crescerem”, observou o diretor superintendente da Energisa Nova Friburgo, Amaury Damiance, acreditando que “se cada um fizer a sua parte, a reconstrução virá e o município ficará ainda melhor”.
“Com essa força para o recomeço, em breve poderemos até exportar”
A declaração de otimismo e crença no setor de moda íntima que responde por 20% da economia friburguense e é um dos maiores geradores de emprego e renda no município é do proprietário da loja Big Máquinas de Costura/Capital da Lingerie, Agnello de la Belle, que admitiu ter visto no desespero de seu filho de 15 anos que passava as férias escolares com ele em Nova Friburgo no dia da tragédia, a chance do município reerguer-se e o setor de moda íntima — que já aquece a economia — tornar-se ainda mais pujante.
“Inicialmente eu e meu filho só pensávamos como faríamos para sair daqui, mas depois vi a oportunidade desse setor se levantar e tornar-se ainda mais forte, graças a parceira inédita com a Energisa e os parceiros. São os pequenos empreendedores, os que lutam em casa, que ajudam a fazer a diferença. Com essa ajuda, eles poderão se tornar ainda mais fortes e em breve as mercadorias de qualidade feitas aqui estarão também no exterior”, destacou Agnello.
O diretor presidente do grupo Energisa (Minas Gerais e Nova Friburgo), Gabriel Alves Pereira Júnior, lembrou que a empresa sensibilizou-se com o drama dos friburguenses e o presidente do grupo, Ricardo Botelho, teve a ideia de utilizar o poder de penetração da concessionária presente no dia a dia da população para estimular a retomada da economia local. “Sabemos da força do polo local de moda íntima e por isso escolhemos este setor para ajudar Nova Friburgo a se alavancar”, observou. Ricardo Botelho destacou que a Energisa tem a função de levar energia à população, mas também tem sua função social.
Ele lembrou ainda a força-tarefa implementada pela concessionária logo após a catástrofe com 350 funcionários, muitos deles vindos de outros estados para ajudar a restabelecer o fornecimento de energia. “Precisávamos fazer algo a mais por esse povo que precisa ter uma nova chance e poder crescer”, frisou o presidente na solenidade que contou com a presença ainda do vice-presidente da Acianf, o empresário Júlio Cordeiro.
Deixe o seu comentário