Tensão continua na saída dos
alunos da escola em Debossan
Eloir Perdigão
Há dois anos a comunidade da Escola Municipal João Vicente Valladares, em Debossan, à margem da RJ-116, viveu uma tragédia com o atropelamento e morte do aluno Wanderlei Freire da Silva Júnior, de 6 anos, quando deixava o educandário e atravessava a pista. Outro menino, Jeffesron Frossard, agora com 9 anos, também envolvido no acidente, recuperou-se e continua estudando. O local já tinha fiscalização eletrônica estipulando a velocidade máxima em 50 km/h. Depois do trágico acidente, também foi colocado pela Autran um sinal luminoso, acionado por botão, e a concessionária Rota 116 pintou faixa de pedestres bem em frente à escola. No entanto, há motoristas que não obedecem nem ao sinal, nem à fiscalização eletrônica e passam em alta velocidade, para desespero de pais e responsáveis pelos alunos. A reivindicação geral é a permanência de guardas de trânsito no local, pelo menos nas horas de entrada e saída dos alunos.
Do lado de dentro do portão,
a satisfação pela boa escola
A diretora da escola, Rosângela Maria de Aguiar Barcelos, falou à reportagem acompanhada das professoras Ilcemar Santos, Leila Reis Fragale, Márcia Monnerat, Maria Jubiara da Silva Barroso e Soraia Pereira Nunes, além da orientadora educacional Viviane Pereira Sargento. Todas salientaram o bom funcionamento da escola, o ensino ali ministrado e as noções sobre prevenção no trânsito, que já constava do currículo mesmo antes do acidente com o menino Wanderlei.
Apesar da instalação do sinal luminoso e da pintura da faixa, a situação de perigo prossegue e os pais têm ido buscar os alunos com frequência. Os que não podem buscar seus filhos organizaram grupos e alguns adultos se responsabilizam por um determinado número de crianças. Além disso, a conscientização sobre trânsito feita pelos professores é contínua, principalmente para que os alunos usem o sinal. Está na grade curricular.
A patrulha rodoviária estadual, após o fatídico acidente, disponibilizou guardas para ajudar a travessia dos alunos durante seis meses. No entanto, este trabalho não teve continuidade. A alegação à direção da escola foi de que não há contingente suficiente para tal. Apelos também foram feitos à Autran para que mantivesse seus agentes nos horários de entrada e saída dos alunos, mas também houve alegação de que não há pessoal para disponibilizar para essa finalidade.
Internamente, o que a direção e professoras puderam fazer, em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação, foi homenagear o menino Wanderlei Freire da Silva Júnior com seu nome na nova biblioteca da escola, inaugurada no dia 14 de junho passado. Segundo a diretora Rosângela, foi também uma homenagem prestada à família.
“Porque uma mãe que sofreu o que ela sofreu (eram quatro filhos, Wanderlei era o penúltimo, o mais novinho estuda aqui ainda), ela não perdeu a confiança na nossa equipe. Ela disse no dia da inauguração da biblioteca que foi aconselhada a tirar o filho daqui, mas não fez isso porque considera esta equipe a melhor. São palavras dela. Então a gente não só homenageia essa criança, como está homenageando essa família, que sempre confiou no nosso trabalho”, disse a diretora.
Ainda de acordo com ela, na ocasião do acidente, todos da escola viveram uma situação crítica. Houve ameaças de linchamento e depredação da escola, foram difamados e insultados, enquanto a mãe do menino vitimado, com toda a sua dor, ficou ao lado da equipe da escola.
Fora do portão, o perigo continua
A diretora Rosângela afirma que os equipamentos posteriormente conseguidos, como o sinal e a faixa, ajudaram bastante na travessia dos alunos. Mas o grande perigo é que há motoristas que não obedecem à sinalização. E este é o grande problema. Internamente, a escola funciona bem. Até o prédio é novo. Os alunos absorvem bem os ensinamentos, inclusive sobre trânsito, e fazem sua parte. Mas, a partir do momento que saem e se deparam com motoristas em velocidade, o perigo continua.
É inacreditável, mas é a pura verdade: as professoras da escola afirmam que boa parte dos motoristas chega a parar para a travessia dos alunos, enquanto outros fazem a ultrapassagem do veículo parado, apressados, a ponto de provocar nova tragédia. Às vezes passam mesmo com o sinal fechado e em velocidade maior que a permitida pela fiscalização eletrônica. Não se incomodam de pagar as multas. E continuam correndo, ou melhor, voando baixo. Ou seja, mesmo com sinal fechado para os carros, toda atenção é pouca na travessia.
As professoras têm responsabilidade sobre os alunos dentro da escola. Do lado de fora é dos pais ou responsáveis. E todos estão conscientes disso. E como o perigo continua, inclusive com freadas bruscas, a reivindicação geral é a permanência de guardas de trânsito no local, pelo menos nos horários de entrada e saída dos alunos, que estudam das 7h30 às 12h e das 13h às 17h, de segunda a sexta-feira.
“Só com a presença dos guardas os motoristas diminuem a velocidade”, afirmam as professoras.
Onice André Alves, avó de aluno, disse que pegar as crianças na saída da escola é uma responsabilidade muito grande. Ela leva consigo várias crianças para atravessar a rodovia em frente à escola, pois os pais não podem buscá-los naquele horário, mesmo sabendo de todo o perigo que essa ação representa. Ela é testemunha que muitos motoristas não param, mesmo vendo que há crianças e adultos querendo atravessar. A atenção tem que ser redobrada sempre.
Adriano Marchon Fontes tem duas filhas estudando na escola. Ele afirma que mesmo com os novos equipamentos – sinal e faixa – a segurança não melhorou. Para ele, a única solução para os motoristas que não obedecem à sinalização é a permanência de guardas de trânsito no local.
“Nós temos que ficar de olho, porque, se não prestar atenção, a gente acaba perdendo um filho de novo aqui. Colocaram guardas logo depois aqui, depois tiraram, não temos mais nada. Eu trabalho fora e tenho que sair correndo do serviço para pegar minhas duas filhas que estudam aqui porque não tenho mais ninguém para vir pegá-las. Nesse asfalto aí eu não deixo elas virem sozinhas, não. A escola é boa, mas a travessia é terrível. Os guardas é que são a solução para maior segurança”, diz Adriano.
Bruna Torres Souza também é mãe de aluno e concorda que a escola é muito boa, mas o problema é a falta de guardas nos horários de entrada e saída das crianças. “Eu moro muito longe e tenho que ficar trazendo e levando meu filho porque tenho muito medo de deixá-lo atravessar sozinho. Se tivesse segurança, se tivesse um guarda, a gente sabia que não teria ninguém avançando sinal e a gente poderia ficar tranquilo”, afirma.
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