Carlos Emerson Junior - carlosemersonjr@gmail.com
E eu achando que nada de novo tinha acontecido neste começo de ano... É o que dá não prestar atenção aos detalhes e entrelinhas, sempre a postos para nos pregarem uma peça logo adiante! Exageros à parte, o que mais me chamou a atenção até agora foi um prosaico e discreto aviso do banco onde tenho conta: o extrato de papel acabou!
Aliás, vamos ser justos, nem é uma novidade tão momentosa assim, já que o correntista tinha a opção de receber seu extrato por e-mail. A audácia foi cortar radicalmente uma tradição de anos, aquele envelope mensal com folhas e mais folhas mostrando por A mais B que você não sabe gastar e adora pagar uns jurinhos básicos.
E aproveitando a morte do extrato de papel, abrimos os trabalhos desta crônica: o futuro do papel é eletrônico? O que acontecerá com a informação impressa? E quem garante que daqui a uns cinquenta ou cem anos, ao invés de letrinhas, não vamos “ler” (entre aspas mesmo) diretamente dos autores através de ondas cerebrais? Em resumo, o que será do livro amanhã?
Antes de seguir com essa alucinação toda, é bom lembrar que o homem vem utilizando alguma forma de se comunicar desde a era das cavernas. A escrita mesmo surgiu a uns seis mil anos atrás, na antiga Mesopotâmia. Já usamos pedras, placas de barro, placas de cerâmica, couro, tecidos, casca de árvores, pergaminhos e assim foi até 1450, quando foi inventada a imprensa e o mundo mudou. Mas isso é história e fica para outro dia.
Não sei vocês, mas aprendi a escrever com as mãos, por mais engraçado que isso possa parecer! Pois é, quando eu era criança não existiam computadores, smartphones e similares. Íamos para escola apenas com cadernos, lápis e uma borracha, para corrigir os erros. Éramos felizes? Com certeza, apesar de não ter nem um pouco de saudades!
Hoje, apesar de praticamente só usamos alguns dedos para dedilhar em um teclado, o ato de escrever, colocar as letras em ordem inteligível e expressar ideias, está em nosso DNA. Os atuais editores de texto eletrônicos não passam de uma cópia do velho papel e lápis do meu tempo de garoto. E por mais recursos que ofereçam, ainda não podem criar nada sozinhos, para alívio de jornalistas, escritores e poetas. Ufa!
Voltando para o futuro mais próximo, não há como ignorar o advento da digitalização e a invenção dos leitores eletrônicos, que permitem o arquivamento de milhares de livros em um aparelho com peso e dimensões reduzidas, que pode ser levado dentro de uma bolsa ou pasta.
Sem dúvida, vamos assistir a mais uma revolução. Vocês se recordam dos discos de vinil, os bolachões? O som era fantástico, quase real, desde que fosse ouvido em um equipamento apropriadamente chamado de “alta fidelidade”. Pois é, mas os novos tempos pedem urgência e mobilidade e um belo dia alguém inventou um aparelho que tocava a música em um formato digital e você podia ouvir onde quisesse, com um simples fone de ouvido. A qualidade sonora foi pro brejo, claro, mas a praticidade...
Agora imagine que você está lendo um romance sensacional, com umas 800 páginas e não quer desgrudar do livro de maneira alguma! Seus problemas acabaram, minha querida amiga e meu caro amigo: com um mero aparelho, fininho e do tamanho de um livro, você continua sua leitura onde quer que vá, sem o incômodo de carregar para cima e para baixo um verdadeiro tijolão.
O que quero dizer é que a era digital mudou completamente nossa maneira de ler e ouvir e está mudando a de escrever e tocar também. Perguntem aos músicos o que eles acham de um programa de gravação chamado ProTools? A mesma facilidade e rapidez que eles têm para gravar suas músicas e distribuí-las em formato digital, também está acessível a quem vive da escrita.
Voltemos ao futuro do papel. Pesquisadores americanos concluíram que a maior parte das pessoas ainda prefere ler assuntos de seu interesse em forma de papel impresso. Mas tem o lado obscuro: cada cidadão imprime, em média, cerca de dez mil folhas de papel por ano e a maior parte deste material é jogada no lixo no mesmo dia de sua impressão.
O desperdício de recursos é uma marca registrada da nossa civilização, mas tudo tem um limite. Corremos o risco de esgotar nossas reservas de energia, alimentos e água se continuarmos no ritmo atual e sabemos que a escassez de um produto significa, no mínimo, preços altos. Além do mais, como justificar a derrubada de árvores para fazer papel que será jogado fora?
Estamos nos adaptando, sem dúvida. Jornais já têm suas edições eletrônicas e até mesmo duas redações, uma para cada tipo de mídia. É claro que a maneira como os assuntos são abordados é completamente diferente e ganha audiência quem oferece a notícia de forma mais rápida, concisa e confiável. A participação dos leitores é estimulada e tem sido muito importante. Em tempos de smartphones, filmes, fotos e depoimentos online é que não faltam.
No entanto, a grande discussão é sobre o futuro dos livros e a turma que adora os exemplares impressos fica horrorizada com a ideia de ver seus amados companheiros transformados em reles arquivos digitais! Calma gente, vamos parar a briga e achar um consenso. O que é mais importante em um livro, a capa, a qualidade da impressão ou o conteúdo?
Vocês se lembram do filme “Fahrenheit 451” do François Truffaut? Baseado em um romance do escritor americano Ray Bradbury, mostra um futuro onde ler ou possuir livros era um crime hediondo, passível de duras penas. No entanto, os livros continuaram existindo na forma de “homens-livros”, pessoas que memorizavam uma obra, palavra por palavra, queimando-a em seguida para que não fosse descoberta.
Pois é, não importa se ele foi escrito em tecido, papiro, pergaminho, papel reciclado ou gravado em um microchip. Um dos feitos mais importantes para o entendimento do nosso passado foi a descoberta da Pedra de Roseta, um pedaço de rocha entalhada separadamente em três línguas diferentes, hieróglifos, demótico e grego, que possibilitou a compreensão e estudo do Egito Antigo. Aliás, o grande legado do ser humano é sua capacidade de registrar e transmitir o conhecimento, seja de que forma for.
Sinceramente não sei o que o futuro nos reserva mas tenho certeza que continuarei lendo e escrevendo meus contos e crônicas, da maneira que for possível, até onde a cabeça permitir. No fim das contas, o livro ainda é o futuro.
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