O GOVERNADOR em exercício do Rio, Francisco Dornelles, prometeu “medidas duras” para abrandar a crise econômica que levou o estado a declarar calamidade pública nas suas finanças. E culpou como vilãs a baixa arrecadação, as desastradas políticas de governos anteriores e até mesmo a controversa olimpíada que exige investimentos de vulto. Sem falar na massa salarial do funcionalismo público.
EM MEIO À grave crise, que fechou empresas e demitiu empregados, a grande prejudicada acaba sendo a população em geral, que convive com a insuficiência dos serviços públicos, como a educação e a saúde, além de ver, assustada, o aumento da violência sem a respectiva contrapartida da segurança pública. O Rio vive, mesmo, um estado de calamidade pública. Sem emprego e sem dinheiro, quem pagará a conta?
OS CIENTISTAS sociais e economistas costumam dizer que a crise é uma espécie de força motriz do sistema capitalista. Quando uma economia se encontra em estado de crise, abrem-se diversas prerrogativas para a implementação de medidas que, em condições normais, receberiam críticas ferozes. Isso ocorre porque, em grande parte, as medidas mais significativas que se apresentam em tempos de crise têm como objetivo colocar sobre aqueles com menor capital social e financeiro, ou seja, os trabalhadores, o fardo do pagamento dos constantes rombos que aparecem nas contas públicas com regularidade.
SE UMA CRISE está instalada, portanto, é motivo para que “remédios amargos”, “medidas duras” e outras expressões sejam administradas, muito embora a amargura seja maior para muitos e menos significativa para poucos. Em grande parcela, é esta a crise que se apresenta no Brasil: uma prerrogativa para implementar medidas que priorizem a rentabilidade de poucos e o grande mercado financeiro que financia campanhas.
O DADO mais alarmante da crise é o número de empregos formais extintos no país nos últimos meses. O Brasil fechou o primeiro trimestre deste ano com taxa de desemprego de 10,9%, ou seja, um quantitativo de 11,1 milhões de desempregados e renda em baixa, em meio ao cenário de recessão econômica e crise política.
A PESQUISA Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mostrou piora da taxa de desemprego, que havia ficado em 9,0% no quarto trimestre, renovando mais uma vez a máxima da série histórica iniciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012. O quadro de forte deterioração do mercado de trabalho fica ainda mais claro quando se compara com o primeiro trimestre do ano passado, quando a taxa de desemprego foi de 7,9%.
UM TRABALHADOR brasileiro, além de seu rendimento médio de R$ 2 mil, também produz um valor suficiente para cobrir seus encargos trabalhistas e os lucros e tributos pagos pelo empregador. Além disso, gasta seu salário na economia, gerando dividendos ao governo. Imaginemos, então, mais de 11 milhões de pessoas deixando de receber esta renda média, e ainda recebendo o benefício público do seguro-desemprego, e além disso deixando de gerar os demais valores como encargos e lucros empresariais. É a conta da crise. Nada mais afeta um povo do que a crise do trabalho.
NESTE CENÁRIO, a fixação de uma agenda de geração de empregos, especialmente em áreas de maior valor agregado, é essencial para a retomada do crescimento. Os remédios amargos e demais metáforas para definir cortes em áreas essenciais talvez sejam até inevitáveis. No entanto, a reação do país em longo prazo só se dará com investimento massivo na geração de renda, que fará novamente a roda da economia girar para frente.
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