Tinha certeza de que, ao aceitar o convite de ordenar o trânsito de nossa cidade, tinha pela frente uma tarefa difícil. Mas agora que estou dentro do fogo, cheguei à conclusão de que é mais difícil ainda, muito mais do que qualquer um pensa.
Pouca gente sabe que a Autarquia, além da enorme responsabilidade com o fluir do trânsito, ainda tem que ordenar: o transporte de táxi, o transporte escolar, o transporte turístico e fretamento, o estacionamento rotativo, campanhas educativas; tudo isso está diretamente atrelado ao trânsito e tem problemas.
Pesquisa da Coppe estima que entre 2016 e 2020, a cidade do Rio de Janeiro terá cerca de 500 automóveis para cada mil habitantes. Ou seja, um carro para cada dois moradores.
Somente para pensarmos: nos últimos dez anos, a frota dos municípios do Rio e de Niterói, segundo estudos, cresceu em média 28%, enquanto Campos dos Goytacases apresentou um aumento de 43% e Duque de Caxias e Nova Iguaçu 38%. Já Nova Friburgo, cresceu 55%. Temos hoje certamente um carro para cada dois moradores. Então 2020 já chegou para nossa cidade.
Em cada esquina que se passa temos um cidadão formado em trânsito, se é que isso existe; todos tem uma reivindicação e uma solução — só que em 90% das situações, a alteração é para proveito próprio, ninguém pensa no conjunto. Todas as alterações feitas pela Autarquia foram consideradas erradas, mesmo aquelas mais evidentes. Já tive até sugestão para fazer um viaduto sobre o Bengalas, para criar mais uma faixa de trânsito nas Av. Galdino do Vale e Comte Bittencourt, mão dupla na Av. Alberto Braune, arrancar a Praça Marcílio Dias, etc...
O trânsito de nossa cidade, sem maiores recursos para investir, tem que passar pelo sério comprometimento de todos, desde o mais abastado dos comerciantes ao mais humilde dos usuários. Temos que nos horrorizar com o que estamos fazendo no nosso dia a dia: avançar sinais, andar pela contramão em ruas absolutamente sinalizadas, parar em fila dupla sem maiores constrangimentos, utilizar sons com volume absolutamente fora da normalidade, fechar propositalmente os cruzamentos, praticar carga e descarga fora de hora, usar as calçadas como quintal de nossas casas, andar em excesso de velocidade, transitar pelos acostamentos, falar ao celular como se fosse a coisa mais normal do mundo, arrancar a sinalização colocada e que não nos agrada, beber e dirigir apesar de todas as advertências — e, após tudo isso, em qualquer roda de conversa, criticar as autoridades municipais e principalmente a de trânsito, que não tomam qualquer providência. Seria cômico se não fosse trágico.
Todos sem exceção devem ser chamados à ordem, para por um pouco mais de ordem nessa coisa que se chama TRÂNSITO. Não adiante cometer todas essa infrações descritas acima e depois vir com a maior cara de pau criticar os outros. Nunca a culpa é minha, sempre de alguém.
Em todas as palestras sobre o desenvolvimento do trânsito que faço, enfatizo sempre que quando se chega a notificar, multar e rebocar — último estágio — é por que alguma coisa falhou ou vem falhando.
A quantidade de multas aplicadas mensalmente em nossa cidade extrapola o permitido, mas se não for feita, a coisa piora ainda mais. Nova Friburgo hoje — e não há a menor razão para isso — entrou numa fase pré-anárquica; todos pensam que podem contrariar as leis em qualquer sentido. O alerta é que os índices de acidentes de trânsito depois de uma queda começam a voltar com intensidade.
Vivemos tempos de imediatismo, de impaciência, de intolerância, por qualquer motivo, a ponto de esquecermos ou fingirmos esquecer que os governantes anteriores, que elegemos, deixaram de investir no trânsito no momento oportuno. Agora, a conta é nossa.
Assim, a Autarquia só pode brincar diuturnamente, com os maus motoristas, de gato e rato; resolver mesmo, só com a parceria de grande parte de nossa sociedade. Sozinhos...
Só multas? É enxugar gelo.
Celso Novaes
Superintendente da Autran
Deixe o seu comentário