Ofélia já dizia, sem cumprir o dito: “Só abro a boca quando tenho certeza”. O apresentador domingueiro Fausto Silva parece seguir a linha Ofélia, abrindo a boca quando julga ter certeza e errando feio no que diz. No domingo passado, 3 de abril, perdeu a grande e sábia oportunidade de ficar calado ao dizer que Nova Friburgo, depois de um ano (?) da tragédia, está totalmente reconstruída. Faço ideia de como está chovendo indignação na horta do apresentador.
Ora, já se sabia que Faustão não prima pela inteligência. Que o seu estilo é aquele de ser “otimista” até quando se está, em pleno alto-mar, na boca de um tubarão. Que desfila adjetivos perante seus convidados, sempre o maior isto, o mais isso, o hiper aquilo. Que parece viver no fantástico mundo de Bob e não no planeta Terra, assolado por tanta coisa braba, que só Jesus na causa!
No caso, errou feio também a produção do programa, que deveria ter mais cuidado ao orientar o moço na sua fala — e fazê-lo consertar, no instante seguinte, a imensa besteira que estava dizendo a milhões de brasileiros. Como desfazer agora o erro, é a pergunta que não terá resposta. Definitivamente, esses caras que abrem a boca na tevê não têm a menor noção da responsabilidade que cabe a quem está do lado de dentro da telinha. Ainda mais na Globo que, quer queiram, quer não, é a mais assistida do Brasil. Ainda mais num domingo à tarde, quando se fica em casa curtindo a preguiça pós-almoço ao lado da família. Sem crítica a quem usa o seu poder de escolha, sou dos que se recusam a ambas as opções no primeiro dia da semana: a Globo e o Domingão do Faustão.
Luan Santana, pivô da bola fora, que saía de lá para vir fazer show aqui, deve ter visto que a cidade está muito longe de estar reconstruída. Um percurso de carro por Nova Friburgo vai dar conta de que há quase tudo a ser feito (e refeito). Estamos, há perto de três meses da catástrofe climática que se abateu sobre nós, apenas engatinhando em direção a uma desejada reconstrução. E as iniciativas mais importantes neste sentido estão partindo da própria população, como o mutirão dos moradores de Córrego Dantas, bairro arrasado no 12 de janeiro e um dos que ainda estão com a aparência de um cenário cinematográfico de guerra.
Ser otimista é uma coisa, tapar o sol com a peneira é outra bem diferente (e uma coisa pra lá de nociva). Ser otimista não é se iludir e tentar iludir o outro, dizendo que está tudo bem, está tudo voltando ao normal, “está tudo totalmente reconstruído”. Ser otimista é concluir que está tudo mal, sim, mas pode ficar melhor com o esforço, o trabalho e a vontade de cada um, a começar pelos nossos políticos. Que estes não se ausentem e sejam os primeiros a encarar a realidade: renascer das cinzas é preciso e urgente. É um compromisso que eles têm o dever moral de assumir com o povo e as próprias consciências, antes que Bob (ou o Faustão) os convença mesmo de que este mundo real é pura fantasia.
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