“Não me importo com os bens
materiais que perdi, pois minha filha
de cinco anos não está mais aqui”
Bruno Pedretti
“Perdi tudo, casa, meu ganha pão, que era uma padaria, mas nem penso nos bens materiais neste momento, pois não tenho mais minha filha de cinco anos, que morreu no desabamento juntamente com a mãe dela. Vi o morro desabando, mas estava ilhado e não podia fazer nada. Vemos histórias semelhantes a nossa, porém temos que pensar positivo e ter força para recomeçar de alguma maneira, não sei como, mas fazer o quê? Deus me deu a minha filha e foi ele quem a levou. Nada abaixo deste céu está seguro”.
O depoimento é de Cassiano de Souza Linhares, morador do Jardim Califórnia, que não sabe como reiniciar sua vida. Parece que as tragédias não tem fim. O distrito de Conselheiro Paulino foi um dos mais afetados pelo desastre e o que se vê nas localidades de Jardim Califórnia e Loteamento do Barão são muitas pessoas desorientadas, sem rumo e sem expectativas de um futuro melhor.
Vítimas da maior tragédia natural do Brasil elas demonstram força e começam a deixar os locais afetados, mesmo sem saber para onde ir. Muitos se abrigam na casa de familiares, amigos e vizinhos, mas as moradias destes também ainda correm risco.
Deivison Pinheiro é um desses moradores que não tem opção e lugar para se abrigar. Ele afirma que escutou o barulho da terra cedendo, e imediatamente saiu de casa, procurando um lugar mais seguro. “Perdi meu emprego, pois a fábrica que eu trabalhava também acabou. Minha casa está numa área de risco e não tenho para onde ir. Sempre que começa a chover pego meu filho e vou para o meio da rua”, lamenta o morador. Mesmo atingido pela tragédia, Deivison ainda trabalha como voluntário. Ele continua morando na casa em risco e todos os dias auxilia o trânsito da localidade, satisfeito por não ter perdido a vida.
O morador Devanir de Oliveira explica que a água do córrego que passa pelo Califórnia, salvou a população de um desastre ainda maior. Segundo ele, o nível da água subiu muito, e as pessoas que habitavam a parte baixa do bairro, onde uma grande quantidade de terra ameaçava deslizar, saiu em busca de um local mais seguro para ficar até a chuva passar. Alguns moradores viram o morro desabar em cima das casas.
A população de parte do Jardim Califórnia ainda está sem água para cozinhar, tomar banho e lavar roupas. Muitos aproveitam a água da chuva. Eles reclamam que a Defesa Civil ainda não avaliou o bairro.
Onda de saques no local já preocupa
Outro ponto que vem incomodando a comunidade são os freqüentes saques. “Ainda tem gente que se aproveita da desgraça das outras pessoas. É impressionante”, protesta um grupo de moradoras, que montaram uma tenda para vigiar possíveis saques nas casas atingidas.
No Loteamento Barão cerca de sete casas foram soterradas, e muitas pessoas perderam a vida. “Perdi oito familiares, e mais ou menos 16 pessoas morreram aqui. Ainda tem duas pessoas debaixo da terra e estamos procurando os corpos dia e noite”, comenta Rodrigo Pires.
Apesar de toda tragédia, é perceptível que a população dos diversos bairros atingidos, vem batalhando para que dias melhores surjam. A esperança, mergulhada nos olhos dos atingidos pelas chuvas, é o que impulsiona cada friburguense para buscar alternativas e soluções para o futuro.
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