Pode-se traduzir o projeto Gesamt da seguinte maneira: “Trier define as regras, você cria o material e a diretora Jenle Hallund junta tudo”.
A produtora cultural friburguense Fernanda Vogas e o músico Xabier Monreal, realizadores do curta-metragem brasileiro “Videoscopio X”, foram selecionados para integrar o projeto Gesamt 2012, criado pelo cineasta dinamarquês Lars von Trier. O projeto é baseado no conceito Gesamtkunstwerk (obra-prima da comunidade) que pode também ser resumido como “o trabalho de arte universal”ou “de síntese da arte”. Segundo Fernanda, o projeto foi divulgado pela internet, em setembro, e cada produção deveria ter no máximo cinco minutos de duração.
Lars von Trier—cineasta autor de “Os idiotas”, “Dogville” e “Melancolia”, entre outros—desafiou pessoas dos quatro cantos do planeta a reinterpretarem seis grandes obras de arte através da lente das suas câmaras ou da gravação de som. Foi o próprio von Trier quem definiu as regras deste projeto inovador, designado Gesamt (global, plural, total) e que consiste em desenvolver uma obra de arte. Todo o material foi selecionado e editado pela realizadora Jenle Hallund, uma colaboradora regular do cineasta.
A Agência Dinamarquesa de Cultura salientou que “Gesamt é uma provocação e um convite. Reunindo material de pessoas ao redor do mundo, temos a oportunidade de criar um filme que tem potencial para empurrar os limites do que a arte pode e deve ser. Um filme que examina o que acontece quando nos relacionamos uns com os outros e com o espaço que nos rodeia”.
Jenle Hallung considera que o projeto é interessante “porque é baseado na criatividade das pessoas comuns e em sua imaginação. Por isso, tem o potencial de revelar a saúde de uma civilização, expondo a sua alma. Juntos, podemos tentar criar um testemunho cacofónico das condições humanas. Uma obra de arte é universal, não só criada por muitas diferentes formas de arte, mas também por uma diversidade e multiplicidade de pessoas”.
Foram oferecidas seis opções de obras, todas escolhidas de acordo com a preferência de von Trier. Coube a cada participante trabalhar em cima daquela que mais lhe despertasse inspiração: “Ulisses”, de James Joyce, obra que chegou a ser banida nos Estados Unidos por ser considerada obscena; a famosa peça “O Pai”, de August Strindberg, que ainda permanece como um exemplo notável de uma família disfuncional; o Zeppelinfield, o monumento criado em Nuremberg pelo principal arquiteto de Hitler, Albert Speer; o quadro “De Onde Viemos? Quem Somos? Para Onde Vamos?”, do pintor Paul Gauguin; as improvisações do compositor César Franck; e a fantástica coreografia do sapateado de Sammy Davis Jr.
O resultado final desta experiência cinematográfica que reúne pensamentos, imagens e sons da comunidade global estreia hoje, 12, no Festival de Copenhague, na Dinamarca. A obra escolhida pela dupla brasileira foi Ulisses, de James Joyce.
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