Uma das mudanças mais percebidas pelos brasileiros nos últimos 9 anos foi na área de petróleo. Em 2002, o Brasil já tinha razoáveis reservas provadas (em torno de 10 bilhões de barris) e a Petrobras, uma empresa controlada pelo governo federal, já era líder de tecnologia de exploração em águas profundas. Uma posição relevante. Mas desde então a situação melhorou profundamente. Hoje temos reservas provadas de 14 bilhões de barris, reservas totais (provadas, prováveis e possíveis) de quase 30 bilhões de barris e seremos, em alguns anos, um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Esta história tem um marco: a descoberta do pré-sal.
O pré-sal é uma camada de rochas do subsolo brasileiro que está no mar, a quilômetros de profundidade da lâmina d’água. As rochas recebem este nome pois, antes delas, há uma espessa camada de sal. Em 2006 a Petrobras anunciou a comprovação de uma província de petróleo e gás no pré-sal e esta descoberta foi considerada a maior dos últimos 50 anos da indústria mundial de petróleo. Em algumas versões, especula-se que as reservas totais deste campo gigante têm entre 100 bilhões e 300 bilhões barris de óleo. Numa conta grosseira, se multiplicarmos este número pelo preço de um barril de petróleo a 100 dólares, teremos o resultado aproximado de algo entre 10 trilhões e 30 trilhões de dólares em petróleo no pré-sal. Por isso, é possível afirmar que a exploração do pré-sal mudará, e muito, a realidade social brasileira.
A campanha para esta exploração não é e nem será fácil. Primeiro, porque serão necessários altos investimentos. Segundo, porque não há tecnologia madura para extrair petróleo a 300 km da costa e a profundidades entre 5 mil e 7 mil metros (considerando a lâmina d’água, rochas submarinas e a camada de sal). Porém, a empreitada é perfeitamente factível.
Acredito que a dificuldade financeira é a menos preocupante. A taxa média de sucesso exploratório da indústria mundial de petróleo é de 20%. Ou seja, a cada 10 poços, dois apresentam resultados. No caso do pré-sal, esta taxa está em 40%. Somando este dado ao grande volume existente de óleo e gás, concluímos que a exploração do pré-sal é algo altamente lucrativo. Por este motivo, o mundo quer investir no projeto. Não à toa, os chineses já emprestaram 10 bilhões de dólares à Petrobras (que será a operadora exclusiva do pré-sal) para receber daqui a muitos anos. Além disto, a engenharia financeira da companhia e do governo permitiu uma capitalização da empresa para prepará-la adequadamente para o desafio. Dinheiro não faltará.
Na área tecnológica, vale lembrar que, nos anos 70, enfrentamos desafio relativamente comparável, quando em curto espaço de tempo, a Petrobras foi obrigada a criar tecnologia para explorar águas profundas na Bacia de Campos. E deu tudo certo. Por esta experiência, o Brasil é o país com as tecnologias mais avançadas em prospecção no mar. Especificamente sobre o pré-sal, as coisas estão avançando, e muito. A cada mês, dezenas de pesquisas são realizadas, soluções são encontradas e passos são dados. Vale lembrar que em maio de 2009, numa cerimônia a qual tive o prazer de assistir juntamente com o amigo Cláudio Damião (PT), o presidente Lula recebeu o primeiro óleo do pré-sal, fruto de testes na área Tupi, com exploração a 5 mil metros de profundidade.
Com a exploração do pré-sal, na área financeira nossa economia receberá centenas de bilhões de dólares em investimentos; na área tecnológica haverá frutos em inovação e no sistema produtivo nacional.
Após ler este artigo, o leitor poderá perguntar: afinal o pré-sal só tem benefícios e, como costumava dizer o ex-presidente Lula, é um bilhete de loteria premiado?
Penso que não. Financiamento e tecnologia, com muito trabalho, não faltarão. Mas existe uma grande dificuldade, que é garantir para a sociedade brasileira a canalização da riqueza e do poder que a exploração do pré-sal deverá gerar. Corremos o risco de tornar o país um grande campo exportador de petróleo sem que isto signifique dividendos otimizados para nossa população. Esta equação só fechará se investirmos em autonomia institucional, tecnológica e industrial para o Brasil.
Mas isto é papo para outro artigo.
* Rodrigo Garcia é mestrando em ciência política (UFF) e apresentou no Fórum do Mercosul (FoMerco), em setembro, o trabalho "O Pré-Sal e os direitos sociais".
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