Blues, jazz e uma boa cerveja. Com certeza, não se trata exatamente de uma rara combinação. Valney Antonio de Oliveira Jr. e Daniel Rocha bem sabem disso. Na época da faculdade – são formados em Direito – eles costumavam tocar B.B. King enquanto degustavam uma boa cerveja.
Combinação rara mesmo é fabricar cerveja e colocá-la para "ouvir” jazz e blues durante o processo de fermentação. Esta é a "fama” da Rock Valley, produzida em Nova Friburgo pelo guitarrista Daniel e o baterista Valney e que, não só por esse motivo – mas pelo seu sabor –, tem conquistado tanto o mercado local quanto o de outras regiões, inclusive de outros estados.
Se tempos atrás o público ficava limitado às poucas cervejas produzidas em larga escala por grandes empresas ou, no máximo, conseguia alguns rótulos estrangeiros por preços geralmente exorbitantes, atualmente o mercado voltado para as cervejas artesanais tem crescido e se popularizado. Inclusive em Nova Friburgo. Criada por Daniel há três anos, a Rock Valley é um bom exemplo disso.
"Trabalhei durante três anos como advogado. Aí fiz um curso no Rio e aprendi a produzir cerveja. Fazia só nos fins de semana, numa panela. Mas aconteceu de as pessoas começarem a curtir e um bar em Botafogo (zona sul do Rio) passou a encomendar a cerveja. Essa aceitação me obrigou a produzir mais. Cheguei a fazer 600 litros num mês, mas sem estrutura”, conta Daniel, que há cerca de um ano e meio ganhou um sócio, Valney, o que possibilitou a expansão do negócio.
"Hoje, produzimos quatro mil litros mensais e estamos nos preparando para dobrar a quantidade”, diz o baterista Valney. "Nossas cervejas chegam à Região dos Lagos, cidade do Rio, Minas e Espírito Santo”, ressalta Daniel, explicando que o sabor diferenciado das cervejas artesanais se deve a vários fatores, incluindo o tempo de preparo, que fica entre 40 a 55 dias, enquanto as industrializadas, cerca de seis dias.
"Usamos puro malte e respeitamos todo o processo de maturação. O tempo para se fabricar uma cerveja artesanal é grande, o que inviabiliza a produção em larga escala. Por outro lado, temos cervejas e chopes muito saborosos, com receitas de várias escolas, como a alemã, a belga, a americana. Temos como criar, descobrir sabores”, afirma Daniel. "Um dos nossos grandes problemas são os impostos. Enquanto as grandes cervejarias pagam 30% nós arcamos com 60% de impostos, sendo que destes, 35% são pagos no ato da produção”, complementa Valney. "Mas produzir cerveja é a nossa paixão”, garantem.
E por paixão, inclusive por Nova Friburgo, é que eles estão lançando mais uma cerveja, a "1820”, edição especial para comemorar os 200 anos do município.
"Temos seis cervejas no mercado e outras são sazonais. Mas estamos certos de que a ‘1820’ vai cair no gosto do público. É uma homenagem a Friburgo. Na verdade, fazemos questão de identificar toda a linha da Rock Valley como friburguense; tem até o Cão Sentado no logotipo. Sou mineiro, de Viçosa, mas resolvi me mudar para cá e investir aqui. E posso dizer que, depois da tragédia, tenho notado que as pessoas estão se unindo mais, tendo orgulho de sua cidade. Estão sendo criados polos fortes, como de agricultores. Esses polos vão acabar convergindo para um só ponto, o que pode transformar Friburgo numa grande marca. Acreditamos nisso”, afirma Valney.
As cervejas da Rock Valley
Irish – É a "loura” da marca. É uma cerveja irlandesa, com 6% de teor alcoólico.
Scotch – Escocesa. Com parte do malte típico do uísque.
Pumpkin – Nasceu nos EUA, num período em que os americanos estavam com dificuldades de conseguir grãos. Passaram, então, a usar abóbora, que tem bastante açúcar. A Rock Valley é uma das primeiras no Brasil a usar esta receita. "Ficamos dois dias cozinhando a abóbora, mas em termos de empresa, a pumpkin é uma cerveja muito convidativa”, diz Valney.
Imperial IPA (I=India; P=Pale; A=Ale) – Cerveja inglesa por nascimento, mas que segue o padrão americano. A história dessa cerveja vem do tempo em que a Índia era dominada pela Inglaterra. A viagem da bebida até o país asiático era muito demorada, fazendo com que o líquido chegasse azedo, ao seu destino. A solução foi colocar bastante lúpulo, dando origem à IPA.
Witbier – Belga, de trigo, mas com adição de kümmel e cascas de laranja e limão siciliano. Teor alcoólico de 4,5%, ou seja, é fraca.
Milky Stout – Inglesa. Leva muito chocolate e café. É a mais intensa. Teor de 6 %.
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