Ouvir Estrelas
Olavo Bilac
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
(Poesias, Via-Láctea, 1888)
Ana Borges
Nova Friburgo é uma cidade com vocação turística, devido à sua natureza, com densas matas (e ainda um pouco do que restou da Atlântica, inclusive), bosques, montanhas, rios, florestas, o que resulta, diretamente, na qualidade de seu clima, em ar puro. Recentemente, a prestigiada revista científica Galileu convidou um grupo de especialistas para apontar as 10 melhores cidades do país para se observar o céu. Nova Friburgo foi a única cidade escolhida em todo o estado do Rio de Janeiro.
Tal notícia não surpreendeu os moradores que sempre admiraram a nitidez e a luminosidade de nosso céu. Tampouco o diretor do planetário da cidade e professor de ciências e astronomia, Reinaldo Ivanicska, que já havia constatado essa excelência há muitos anos. "Inclusive, a visão que se tem a partir da montanha Caledônia é fantástica, de onde é até possível ver a galáxia de Andrômeda, fato raro no hemisfério sul. Mas de lá é possível graças à sua altura”, esclarece.
O professor Reinaldo Kiss Ivanicska Junior é formado pela Faculdade de Filosofia Santa Doroteia, com pós graduação em física pela UFF. Foi piloto comercial de avião e instrutor de Teoria de Vôo no extinto Aeroclube Regional de Macaé. Fez cursos da área de astronomia e astrofísica na Uerj, Unicamp, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
Em que estágio de civilização estamos?
Em quase 20 anos dedicados ao Clube de Astronomia de Nova Friburgo e quatro ao Planetário, o professor não se cansa de explicar as diferenças entre astronomia e astrologia, ufologia e ficção científica, aos visitantes. E tem sempre as portas do Planetário abertas para especialistas que se dispõem a dar palestras sobre o assunto. Em Nova Friburgo, o ufólogo Américo Ferreira, um estudioso de Óvnis, é um desses assíduos participantes.
A existência destes objetos e de outras civilizações divide opiniões. O planeta Terra tem quatro bilhões de anos e a vida surgiu aqui há uns dois bilhões. São incontáveis as teorias para justificar a falta de contato, de qualquer espécie, entre nós e extraterrestres: a imensidão, o infinito, as distâncias — até onde foi possível calcular até o momento —, e até o desinteresse de outras possíveis formas de vida, no caso de serem tão adiantadas que nos vejam como meras formigas perdidas no espaço. Ou, se é que existe alguma coisa além de "nossa vã filosofia”, talvez esteja aquém de nossa civilização, ainda no limiar de sua evolução e nem pensam — se é que pensam — que haja vida aqui fora.
Segundo o professor há projetos, como o americano Seti, que buscam sinais de rádio emitidos do espaço por qualquer tipo de inteligência usando o radiotelescópio de Arecibo, o maior do mundo, localizado em Porto Rico. "No momento estão sendo instaladas antenas no Chile, país que vem dando total suporte às empresas e associações que querem investir lá. O deserto do Atacama, por exemplo, é atualmente a meca de observação e estudos da radioastronomia mundial, e a meta é ampliar cada vez mais a capacidade de aprofundar as pesquisas com equipamentos de última geração. O Brasil é um dos sócios majoritários deste projeto”, revela Ivanicska.
O Planetário de Nova Friburgo, localizado no Ciep Licínio Teixeira, na Via Expressa, em Olaria, é uma importante opção educacional, cultural e turística de Nova Friburgo. E, apesar de não contar com apoio nem reconhecimento do poder público, em 2014 atendeu mais de mil alunos de dezenas de escolas de Nova Friburgo e cidades vizinhas.
Aos interessados, durante o ano letivo, a cada primeiro sábado do mês o espaço abre para observação do céu, às 18h. No mesmo horário, no último sábado do mês, há exibição de filmes temáticos.
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