O friburguense Sergio Madureira, produtor de televisão e secretário de Turismo de Nova Friburgo, recentemente foi alçado a um cargo estratégico do trade, perante o Fórum de Secretários, no qual foi eleito líder da Região Serra Verde Imperial, na condição de vice-presidente da instituição, representando dez municípios. Ele assumiu o cargo de secretário do novo governo municipal de imediato, com um grande desafio: em pouco mais de um mês, preparar o carnaval de uma das mais importantes cidades fluminenses e ainda assumir a missão de resgatar a condição do festejo como um dos melhores do interior. Por mais de três décadas trabalhando em 37 novelas, programas e especiais (inclusive de Xuxa e de Roberto Carlos), o friburguense trouxe para sua terra natal mais da metade dessas locações, em função das quais pode ser considerado um verdadeiro ‘arquiteto’ das grandes produções brasileiras.
Nesta entrevista para A VOZ DA SERRA, o secretário de Turismo fala não só dos preparativos dos festejos de Momo, como do empenho pessoal, de sua equipe e de todo o governo, especialmente com a integração das secretarias Geral, de Fazenda, Procuradoria, Cultura, Esportes, Comunicação Social e demais setores, no sentido de - alinhadas com o projeto do prefeito Heródoto Bento de Mello - fazer de Nova Friburgo o pólo cultural e turístico do estado do Rio. “Insistimos que turismo é alegria. Só com o resgate da auto-estima do povo friburguense, promovendo lazer, entretenimento, cultura e diversão, vamos estimular as pessoas a saírem de casa para aproveitar as múltiplas oportunidades que a cidade oferece e, assim, disseminar o quanto temos de potencial no contexto turístico”, diz Madureira, ressaltando ainda que turismo é negócio, oportunidades e, por isso, poder de alavancar a economia local e regional, através de novas possibilidades.
A VOZ DA SERRA – Sempre houve um entendimento da comunidade, das pessoas, para que você fosse o secretário de Turismo. Você sente isso também? Como foi o convite para ser secretário?
SERGIO MADUREIRA – É verdade que existe uma receptividade muito grande das pessoas, que sempre me encontram pela rua e falam isso. Depositam uma expectativa muito grande e é exatamente esse anseio popular que me motiva. Quando o prefeito me fez o convite conversamos muito e descobrimos uma grande afinidade de ideais e objetivos. Um deles foi quanto ao padrão de qualidade. Lembro que cheguei a brincar - “Olha, prefeito, é padrão Globo de qualidade” - e logo nos primeiros dias mostramos condições de promover shows como as melhores produções, tanto do ponto de vista da estrutura, do atendimento médico, da segurança, do som, luz e usando basicamente pessoal e equipamentos locais. Tivemos, naquele primeiro momento, uma credibilidade muito grande da população, que nos mostrou também estar ávida ao que estamos propondo. As pessoas carecem e merecem boas atrações e de graça.
AVS – Mas, sem dúvida, assumir e logo enfrentar a organização do carnaval, com pouco mais de mês e meio, é um senhor desafio, ainda mais com as mudanças propostas, não?
MADUREIRA – Como disse um amigo, com o qual eu até nem concordo, para mim, que já enfrentei os mais diferentes tipos de produções complexas e arriscadas, estressantes, em meio ao deserto, em situações limites e, às vezes, envolvendo grandes riscos e tensões, a tarefa é pinto. Mas penso que não chega a ser tão simplista. Talvez esteja mais para um pombo (risos). Entendemos que há muitos anos o carnaval friburguense, nos moldes em que o conhecemos no auge, vem deixando de existir. Perdemos público e credibilidade. Tanto é que migramos para outras cidades próximas, como Bom Jardim, Rios das Ostras, Santa Maria Madalena e mesmo o Rio de Janeiro. Mas acreditamos num carnaval realmente profissional, organizado, com arquibancadas moduladas, camarotes, ensaio técnico, no qual apostamos que seja tão bom quanto o desfile propriamente dito. Tudo vem sendo muito bem estudado, tecnicamente inclusive. Estamos pensando em mudanças e inovações, mas não apenas pelo fato de mudar, mas para dar mais conforto e maior comodidade às pessoas. Então, dá trabalho, sim! Mas também muita satisfação em sabermos que o resultado será do agrado da população. Neste caso, a grande vantagem é o fato de o prefeito ser um carnavalesco nato. É impressionante como ele é respeitado e bem recebido no mundo do samba friburguense e isso ajuda bastante no trânsito do governo junto ao pessoal do carnaval.
AVS – E quanto à polêmica da mudança do dia do desfile das escolas, como você avalia o fato de acabar não passando para a terça-feira?
MADUREIRA – Não houve polêmica alguma. Mantivemos, desde a transição - logo após as eleições -, diversos entendimentos com as agremiações, escolas, blocos e a Liga. Houve sim, um consenso muito grande. As escolas propuseram a manutenção do domingo e o prefeito, que conduziu brilhantemente a questão, entendeu que, como já havíamos avançado com muitas outras modificações, devíamos acatar o pedido. Pelo contrário, acho que nunca o mundo do samba esteve tão unido, realmente preocupado com o resultado final, e tão afinado com o governo. Nunca, nos encontros realizados, algum representante disse um categórico não. Sempre ocorreram conversações, com argumentos muito claros de cada lado. Na verdade, esperamos que ano que vem, com uma preparação mais antecedente, possamos adotar a idéia.
AVS – Mas o fato de não mudar para a terça o desfile das cinco grandes escolas prejudicará algum item do projeto?
MADUREIRA – Nós, de forma muito profissional, tendo estudado bastante a questão, vemos na terça-feira uma possibilidade maior de atrair mais público, e mesmo recuperar o nosso público que, tradicionalmente, tem ido para outras cidades. Pensamos que na terça-feira temos condições de não competir com o Rio de Janeiro e São Paulo, sobretudo pela transmissão da TV. No domingo também temos dificuldades de artistas que poderiam vir para cá, sobretudo atraindo mídia, o que é muito importante neste momento, em que a cidade precisa voltar a ser divulgada em nível nacional. Mesmo assim, já estamos envidando esforços para trazer alguns nomes importantes.
AVS – Você, inclusive, já confirmou alguns nomes. Têm outros que poderão vir? E quanto ao Dudu Braga, por que o interesse dele em estar em Nova Friburgo?
MADUREIRA - Na verdade, logo após a eleição, num dia em que coincidentemente estava junto com o então prefeito eleito, acompanhado de dona Betty, recebi um telefonema do Dudu Braga, de quem sou muito amigo. Ele havia me enviado um CD demo da versão rock de ‘O Portão’, que havia gravado recentemente. Inclusive, coloquei para Dr. Heródoto ouvir. No telefonema coloquei os dois em contato e o prefeito aproveitou para convidá-lo a passar uns dias na cidade, o que deixou Dudu bastante entusiasmado, pois ele, como um atuante das causas dos portadores de deficiências visuais, logo se animou em trazer um projeto de turismo de esportes radicais para pessoas especiais. Ficou acertado, inclusive, que ele terá um encontro com o prefeito na quarta-feira de cinzas, pois ficará o restante da semana na cidade. Dudu tem compromisso de desfile na bateria da Beija-Flor, no Rio.
AVS – Mas esportes radicais para portadores de necessidades especiais? Isso já existe? Como, se o grau de dificuldades é, em certos casos, tamanho?
MADUREIRA – Existe sim, em vários países. No Brasil a experiência de maior êxito é em Foz do Iguaçu, segundo me disse o próprio Dudu. Quanto à possibilidade do projeto, aí é que a gente vê a beleza e, sobretudo, o potencial do turismo. Existem várias vertentes a serem trabalhadas, e esta é apenas uma. Neste caso, tudo é muito mais organizado ainda. Existem equipes específicas, um sistema de monitoramento superprofissional para atendimentos rápidos. E isso é o diferencial, atraindo um público específico, para o qual temos certeza de que nossa cidade poderá ter todas as condições de acolher um grande número de pessoas.
AVS – E sobre o carnaval propriamente, a programação, por exemplo?
MADUREIRA – Não nos preocupamos somente com os desfiles em si. Reconhecemos o bonito trabalho das escolas e blocos, o empenho voluntário de centenas de pessoas abnegadas, que se desdobram pela causa, mas vislumbramos o resgate de várias possibilidades. Sempre foi grande o sucesso do concurso de fantasia, luxo e originalidade. Assim, procuramos convidar para nos ajudar o Belino Mello que, sem dúvida, é um dos melhores de todo o país. Estamos conversando com duas emissoras de TV do Rio para transmitir e teremos ainda uma programação diversificada, procurando atender a todos os gostos. O friburguense também é talentoso. Por exemplo, esse concurso de cães à fantasia, idealizado pelo Eduardinho, encontro todos os dias com muitas pessoas que vêm nos parabenizar pela boa idéia e dizendo que inscreverão seus animais. E tenho visto muita gente dizendo que não vai viajar este ano, dentro daquele espírito, com a sugestão lançada recentemente pelo Marcelo Penha, o Pingüim, em seu programa Bar’t’Papo, que nos propôs uma campanha: “Neste carnaval, lugar de bom friburguense é em Nova Friburgo”. Afinal, o bom sujeito gosta de samba e deve gostar de sua cidade também.
AVS – Como você vê o turismo como um todo?
MADUREIRA – Turismo, além de ser alegria, como venho sustentando, também é geração de riquezas e desenvolvimento. É a forma mais democrática de fazer o dinheiro girar. E dinheiro foi feito exatamente para circular e mover a economia. Mas, para desenvolvermos o turismo em Nova Friburgo, precisamos primeiramente promover o turismo interno. Precisamos do friburguense como uma peça fundamental neste contexto; ele é o ator principal dessa ação. Por isso, buscando elevar a estima das pessoas, trazendo-as para a rua, motivando-as, elas estarão mais receptivas. Temos um entendimento, a partir da linha de pensamento do prefeito, com todo o secretariado e especialmente com alguns secretários, como Roosevelt Concy (Cultura), Frank James (Esportes), Girlan (Comunicação Social) e Braulio Rezende Filho (Geral), de uma atuação realmente integrada, para que, juntos, unidos, possamos, de fato, transformar Nova Friburgo em pólo cultural e turístico. Fazermos competições internacionais de canoagem, motocross e todas as modalidades de esportes em que temos os maiores nomes do país; fazer um festival de inverno realmente à altura da cidade, resgatando aquele evento original que sempre fizemos; promover, por exemplo, um festival internacional de cinema, com filmes argentinos, cubanos e, sobretudo, dos países de nossas colônias. E um pouco plagiando o próprio prefeito, como somos loucos, por que não podemos pensar em convidar um Alan Parker, de filmes como Evita, O expresso da meia-noite, Coração Satânico, Mississipi em Chamas, Pink Floyd e A Vida de David Gole, que dispensa maiores apresentações, para vir presidir o júri, por exemplo? Este ano é o Jubileu de Ouro da Trova e os Jogos Florais devem ser o principal evento. Temos que fazer no mínimo uma festa nos moldes do Oscar, para homenagear toda essa gente talentosa, do Brasil e de vários países e, claro, nossos valores locais. Enfim, faremos eventos de repercussão nacional e internacional. Assim como turismo é alegria, é também cultura. O turista, quando procura uma cidade, quer ver festa, sim. Quer ver os atrativos, a beleza e a história local, mas certamente ele vem em busca das referências culturais também. Por exemplo, o renomado pintor Alberto da Veiga Guignard, que é friburguense, pode e deve ser um ícone nosso. Sua obra está entre as dos maiores do Brasil. Vamos fazer um trabalho de amor pela cidade e por nossa gente. E nunca, em hipótese alguma, advogar no turismo em causa própria, utilizando recursos que são públicos em iniciativas e empresas particulares.
AVS – E essa sua recente eleição como líder da Região Serra Verde Imperial, o que representa?
MADUREIRA – É muito importante. Apesar de representar mais um esforço, mais trabalho, valerá a pena, porque é também o resgate da participação direta do poder público nas decisões do trade. O cargo que estamos assumindo é o de vice-presidente do Fórum de Secretários e equivale ao de presidente na região para dez municípios. Fui muito bem recebido pelo presidente da Turis-Rio, Nilo Sérgio Félix, pelos secretários de Petrópolis, de Teresópolis e de Levy Gasparian, que já conheciam meu trabalho pela mídia. Fui eleito por unanimidade. E isso nos dá um respaldo e uma garantia para trabalhar muito grandes, uma vez que confesso estranhar que venham ocorrendo planejamentos e programações paralelos, sem o conhecimento, a participação e muito menos o aval do governo. Detectamos isso e adiantamos que quaisquer atividades no setor que não tenham a participação da Prefeitura de Nova Friburgo não são verdadeiras. Serão nulas, exatamente por não terem o aval do governo, por ordem do senhor prefeito.
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