O Andarilho - O teste do rei da verdade - 30 de abril a 2 de maio 2011

Por Leonardo Penna
sexta-feira, 29 de abril de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Certo dia, em casa, descansando de mais uma semana de andanças e aprendizado, resolvi ler. Fui buscar em meus arquivos textos que ao longo da estrada ganhei dos que encontrei, e os que escrevi sobre minhas experiências nos lugares que andei, tal como fosse um diário.

Foi quando encontrei o escrito sobre um teste que o grande rei decidira submeter seu povo. Escolheu, entre as pessoas de sua confiança, duas mulheres. Uma delas recebeu o nome de Parábola; a outra de Verdade. Ordenou-as visitar cada povoado de seu reino: Parábola seguiu para o norte; Verdade para o sul.

Uma não sabia da outra. A Verdade foi vestida com trapos, sem nenhum adorno para visitar os homens: tão pura como seu próprio nome. Chegava aos povoados e sempre que a viam a maioria lhe virava as costas por indiferença, vergonha ou medo. Nunca recebia boas-vindas. E, assim, a Verdade percorria os confins do reino respeitando a ordem real, mesmo que longe dos olhos do rei. Continuava a ser criticada, rejeitada e desprezada. Certa noite, justamente no centro do reino, a Verdade encontrou Parábola.

A Verdade estava desconsolada, triste, suja, maltrapilha; Parábola estava alegre, empolgada, cantarolando, trajando belas vestes, e perguntou:

— Verdade, por que você está tão tristonha?

— Porque devo ser muito feia e antipática, pois nenhum dos homens dos povoados que visitei me receberam bem, todos me evitaram!

Isto foi uma surpresa da Parábola, que fora muito bem-recebida em todos os povoados aos quais visitou.

Retornando à presença do grande rei, ambas deram satisfação de suas missões. E o rei ponderou:

— Verdade, não é pelos motivos alegados por ti que os homens a evitaram. O real motivo é que os seres humanos não gostam de encará-la sem adornos. Eles preferem-na disfarçada.

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Por este motivo é que sempre devemos manter a verdade viva, mesmo que por vezes seja necessário disfarçá-la, mas nunca omiti-la. Todo povo merece saber a verdade. Todo rei que estiver na condução de um povo deve estimular a verdade. Nada pode ficar escondido, pois, do contrário, a incerteza contaminará todo o reino. A Verdade, mesmo que disfarçada, é melhor que a covardia da omissão.

Pois todo povo é livre, desde que consiga ter domínio sobre si mesmo. A verdade é a ferramenta para este objetivo. Importante deixar claro que o que fala semeia; o que escuta, recolhe, então, que seja semeada a verdade. A verdade nos conduz à ordem e, com o tempo, todo o povo encontra o segredo para fazer o que é certo e necessário, pois os limites são redimensionados.

Busquemos a verdade!

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