O Andarilho - Descubra-se e permita-se - 2 a 4 de julho 2011

Por Leonardo Penna
sexta-feira, 01 de julho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Por várias vezes me coloco a ponderar o que faço de bom para mim mesmo. Busco entender o que tenho feito com o intuito de cuidar do meu bem mais precioso, que é a saúde, em suas três esferas — espiritual, mental e física —, e como devo agir para estimular o equilíbrio entre elas. Posso escolher o trabalho, e não a inércia. Posso optar pelo bem, e não pelo mal. Posso escolher o conhecimento, e não a ignorância. Percebo que, de qualquer maneira, eu deverei escolher e ser responsável pela minha escolha.

Com esta breve ponderação, meus pensamentos ficam intensos e minha fisiologia logo se altera. Sinto que fico alerta. Este estado é muito bom e favorável a que nosso íntimo se pronuncie e que estejamos atentos a ouvi-lo. Metaforicamente, é como se fosse aquele instante em que ficamos com nosso travesseiro. Exatamente ali estamos nós e a nossa consciência. Eu e eu. Você e você. Não há como fugir desse momento tão importante. Podemos escolher entre nos ouvir ou ignorar o que temos a aprender com nossas próprias experiências. Podemos analisar nosso dia e verificar o quanto poderíamos ter feito e optamos por não fazer. Temos a chance de lembrar de nossos pensamentos e perceber se agimos bem ou de maneira errada. Enfim, as escolhas nos são apresentadas novamente.

Recentemente passei por uma cirurgia e fiquei dois dias em um centro de tratamento intensivo. Naquele período não pude fugir, não tinha opção a não ser ficar comigo mesmo. Conscientemente iniciei uma análise de tudo que até ali me fora permitido experimentar, e o que havia escolhido nessas permissões. Busquei descobrir meu maior defeito e entender como poderia me dispor a corrigi-lo. Para tanto, decidi elencar pessoas que admiro e escolhi apreciar o estilo de vida de cada uma delas. Um exercício diferente, mas poderoso. Logo me deparei com uma face que covardemente escondo e fujo. Cheguei diante dela e não havia maneira de fugir ou me esconder. Então foquei nos exemplos de vida que elencara antes. Lembrei-me de como uma pessoa me ensinara tantas coisas em apenas 15 dias de intensa convivência, muito embora, antes mesmo de nascer, já fora tão importante para mim.

Nos últimos dias de permanência do meu pai neste plano, comunguei com ele preciosos instantes. Estava em férias e, por essa razão, ficávamos direto juntos. Fazia sua barba, tomávamos café da manhã, ficávamos pegando sol na varanda e conversando sobre tudo. Percebi que ele, nos momentos em que adormecia, na verdade buscava “aquele momento com o travesseiro”, para por em ordem as coisas antes de “viajar”. Quando acordava me dava exemplo de força e sabedoria para resistir às provações que a vida apresentava. Expunha suas fraquezas por preconceitos que teve ao longo da sua existência. Enfrentava as consequências de vícios que sustentou por um período da vida.

Mas ele também cultivou a tolerância, de forma a compreender, aceitar, assumir responsabilidades, ter determinação e melhorar as circunstâncias externas. Então, como prova de amor, aceitou todos os tratamentos para que minha mãe, eu e minha irmã não sofrêssemos ao vê-lo tão frágil. Cultivou a beleza da vida mesmo tão próximo da morte. Exaltou sempre o amor pelo próximo. No sepultamento de seu corpo estavam presentes desde os mais humildes amigos até aqueles que ocupavam cargos de expressão na sociedade, num resumo do que foi sua vida.

Com essas lembranças, constatei que o meu maior defeito estava identificado e era importante começar a polir aquela massa bruta interna, aprendendo a me adaptar à pressão externa, sem deixar que ela interferisse em minhas atitudes. Percebi que devo ser pró-ativo, mas pensando antes de agir, buscando conhecer o que me torna ignorante, impuro e rude. Devo fazer com habitualidade algo que toque o coração das pessoas. Agir de forma livre e com alegria no coração.

Todas essas ações, na verdade, compõem uma lista que deverá me acompanhar ao longo da vida. Devo a cada dia buscar o melhor de mim, e a cada oportunidade que tiver de estar diante da face que covardemente escondia, perceber sua mudança, reconhecer quando isso não ocorrer e me empenhar para que a evolução seja uma constante. E esse exercício deve ser cotidiano e consciente.

Fiquem em paz!

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