O Andarilho - A busca pela vida - 25 a 27 de junho 2011

Por Leonardo Penna
sexta-feira, 24 de junho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Curioso como passamos por tantos experimentos em nossa existência e a poucos damos real atenção. Temos a oportunidade de experimentar o gosto, o cheiro, o toque, o belo e o feio. Nos é permitido escolher, mas não nos damos conta disso. Este cenário é um terreno fértil para o tédio. Por mais que tenhamos a sensação de satisfação, sempre é possível ir além. Devemos sempre buscar o nosso melhor, pois assim conquistaremos tudo que é nosso por direito divino.

Certa vez ouvi a lenda de um poderoso e rico fazendeiro, herdeiro de uma fortuna material incalculável, proprietário de uma inimaginável extensão de terra, senhor de vários empregados. Era tão rico que não conseguia pensar em alguma coisa que não pudesse ter. Sua esposa era uma senhora íntegra e zelosa pela casa e educação dos filhos. Ele se considerava uma pessoa plenamente realizada.

Mas, nem tudo era tão belo como se podia imaginar. O próspero senhor, sempre ao final de seu dia, nutria uma sensação de tristeza e vazio. Ao chegar a sua casa e ser recebido pela mulher e filhos, quando se sentava em sua sala de leitura era tomado por um sentimento que o deixava desconfortável. Sentimento este que não conseguia evitar. Tinha tudo o que o dinheiro podia comprar. Seus desejos e dos familiares eram sempre atendidos de maneira breve e ágil, sem esforço.

Sentia-se como se estivesse concluído o seu tempo de vida. Por ser poderoso e rico, pensava que poderia determinar a duração de sua existência, assim como controlava seus empregados e negócios. Na verdade, estava sem vontade de viver, pois fundava seu intento sob a ótica exclusivamente material e, como tudo já possuía, perdera a conexão com a conquista, que era o que o mantinha estimulado. Sentiu-se tomado pelo amargor da inutilidade, delirou achando-se completamente dispensável e o medo da loucura se instalou.

Decidiu embriagar-se para conseguir dormir. Na manhã seguinte, acordou juntamente com o sol. Vestiu-se e mandou que preparassem seu melhor cavalo para ir até a cidade. Não esperou seu capataz, partiu solitário. Estava decidido a pedir que alguém lhe tirasse a vida. Durante a cavalgada foi tomado pelo sentimento de inutilidade que tanto o assombrava. Uma sensação de vazio o deixou tonto, e caiu do cavalo. A queda ocorreu justamente num lugar pouco habitado, mas ainda dentro dos limites de sua propriedade.

Foi socorrido por um jovem que caminhava pela estrada em direção ao trabalho. O jovem lhe deu água, tirou de seu embornal um pedaço de pão e o alimentou. O senhor da fazenda aos poucos foi retomando a consciência e percebeu que aquele jovem que o socorrera e o deixara repousando sob uma árvore, protegido do sol, o devolvera à vida. O rico senhor lembrou-se do nascer do sol que presenciara naquela manhã, deitado sob aquela árvore, observando os verdes tons da mata. Recordou-se do frescor da água com que fora lavado seu rosto após a queda e o sabor do pão que o revigorou.

Levantou-se, montou seu cavalo, seguiu viagem até a cidade. Durante o trajeto seus ouvidos foram tocados pelo canto dos pássaros e viu como eram imponentes e cheios de força os rios que cortavam suas propriedades. Com isso novamente sentiu-se integrado ao mundo. O vazio fora preenchido de vida.

Só assim percebeu o óbvio, que por muitos anos ignorou: sempre acontecem coisas comoventes e essenciais a nos mostrar o quanto é importante o equilíbrio entre o divino e o material.

Fiquem em paz!

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