É possível um mesmo reino
ter dois reis?
Havia um Rei com uma história de boas realizações para seu povo. Conduzira seu reinado com extremo rigor. Sempre agiu querendo e fazendo tudo para preparar povo e território para os novos tempos. Mas seu reino foi tomado de suas mãos por guerreiros estrangeiros e, a partir de então, durante anos buscou reaver seu território, seu povo e o poder sobre todos e tudo. Para tanto, nessas investidas valeu-se de sua experiência e aliados. Traçou sua estratégia. Conseguiu o apoio de nobres e combatentes aliados, que reforçaram as fileiras de seu exército. O velho rei ainda celebrou mais uma aliança, desta vez com o representante de outra família real — família esta que outrora lutara em lado oposto —, mas em prol do bem daquele reino todos se uniram. À frente desta coalizão, reconquistou seu reino, seu castelo e seu povo. A aliança surgida dessa união inicialmente parecia muito frágil e incapaz de vencer os oponentes. Mas conquistou a vitória!
O monarca retomou seu trono, todavia, decorridos poucos meses, adoeceu, ficando sem condições de exercer seu reinado. Embora muito poderoso, estava impotente diante da enfermidade. Os aliados ficaram preocupados com o fato de o rei não possuir descendência que pudesse ocupar o trono durante sua recuperação. Todos ficaram confusos e resolveram consultar os sábios do reino:
— Como será de agora em diante? Os nobres aliados do rei enfermo assumirão o comando? O reino sucumbirá novamente por falta de comando? Precisamos das respostas.
Os sábios decidiram responder desde que o rei seguisse certas condições, entre elas, que cuidasse da saúde. Os representantes do monarca aceitaram. Então, os sábios responderam:
— O velho rei, durante sua vida, não preparou nenhum sucessor. Não há neste reino alguém que tenha o direito de substituí-lo. Nem entre vós, e nem entre o povo. Mas existe um entre os aliados. O descendente da família real, que se juntou ao exército aliado. Ele deverá assumir, por ser o único habilitado a ocupar o trono real durante a recuperação do velho rei.
Surpresa e insatisfação surgiram entre os nobres. Eles queriam o trono, o poder e o comando do reino. Mas não foi o que aconteceu. E, assim, o descendente da família real adversa assumiu o trono, dando início a seu reinado. Passados poucos meses da saída do velho rei, e sem que notícias concretas chegassem ao povo e ao substituto, os sábios se reuniram com o substituto e um representante do monarca afastado. Explicaram que para a saúde do povo e a prosperidade da terra os reis deveriam ser definidos, pois que não é possível o mesmo reino possuir dois reis. Segundo os sábios, tudo passaria e a verdade sempre triunfaria.
É importante que nos lembremos que tudo é efêmero, que é impossível nos perpetuarmos. Tudo passará, sempre. A falta de respeito, o poder, o medo, a arrogância e a soberba prejudicam nossa observação da realidade de maneira objetiva. É certo que nem sempre é possível, mas, em muitos momentos, precipitamos atitudes que só pioram o que queríamos que melhorasse. A passividade não se caracteriza pelo fato de aceitarmos o tempo, pois há tempo para tudo na vida. Assim, aceitar que o tempo passou e permitir que o tempo siga é, na maioria das vezes, sinal de sabedoria e respeito.
Fiquem em paz!
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