Passamos por uma fase em que o esquecimento deve ser esquecido. Devemos estar atentos e lembrarmos dos que ainda necessitam do nosso auxílio. Devemos agir e acreditar que conseguiremos ultrapassar os obstáculos e retomar o caminho da evolução, vez que este é o destino de todos nós. Evoluir!
Nós, em algum momento, deixamos de aproveitar a vida e de valorizá-la. Esquecemos de fazer as coisas importantes e de ficar com quem gostamos. Em outros instantes devemos reconhecer que esquecemos facilmente que irmãos nossos experimentaram dor inigualável. Tiveram perdas incalculáveis. Por vezes esquecemos que muitos deles ainda não conseguiram apoio nenhum, uns mesmos não possuem nem condições de pagar o aluguel numa nova moradia e outros nem moradias novas conseguiram. Devemos lembrar que na vida existe uma coisa chamada “rito de passagem”. Quando decidimos mudar, quando estamos prontos para o próximo salto, precisamos ritualizar este momento. Todavia, em alguns momentos de nossa existência somos forçados a cumprir o “rito de passagem”. Creio que nossa cidade está neste segundo caso.
O rito de passagem traz responsabilidade ao ato da mudança. Aqui ressalto que devemos esquecer o esquecimento. Devemos, sim, lembrar dos esquecidos. Cada um de nós é capaz de fazer um pouco. Tomar consciência desta capacidade é uma experiência divina e importante. Lembrarmos dos esquecidos é uma responsabilidade nossa enquanto cidadãos. Auxiliar para que suas perdas e carências sejam supridas é nossa chance de exercitar o bem. Simbolicamente posso comparar como se fosse a um lugar sagrado — uma igreja, um bosque, seja o que for — e entrar em comunhão com o universo. Esse auxílio é análogo a uma prece.
Devemos dedicar os nossos passos e atos ao divino. Devemos lembrar que todos os nossos atos são sagrados e necessários. Somos capazes de fazer o bem e lembrar dos esquecidos. O objetivo do ser humano é fazer o bem. O objetivo das palavras é transmitir as ideias.
Assim os nossos esquecidos serão lembrados e suas mazelas serão amenizadas. As pessoas vitimadas pelo evento climático de janeiro próximo passado devem ser cuidadas. Respeitadas na sua dor. Lembradas em seus pedidos de ajuda. Querem poder recomeçar, mas precisam de possibilidades, oportunidades. Não necessitam de falsas promessas ou algo que possa nutrir mais a angústia e sentimentos de baixa vibração.
Esses cidadãos e eleitores não são marionetes de pano. São seres humanos com vida. Pessoas que buscam um recomeço.
Daria mais valor às coisas não pelo que valem, mas pelo que elas significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendendo que a cada minuto que fechamos os olhos perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detêm, despertariam quando os demais adormecem. Escutaria quando os demais falam, e como desfrutaria um bom sorvete de chocolate!
Se Deus me obsequiasse com um pouco de vida, me vestiria de forma simples, me atiraria de bruços ao sol, desnudando não apenas meu corpo, mas toda a minha alma. Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que saísse o sol. Pintaria sobre as estrelas, como um sonho de Van Gogh, um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat. Seria a serenata que eu ofereceria à lua. Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos e o beijo vermelho de suas pétalas.
Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas que quero, que as quero. Convenceria cada mulher ou homem que eles são meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor. Aos homens lhes provaria o quanto estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A um menino daria asas, mas deixaria que ele mesmo aprendesse a voar. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas sim, com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo mundo quer viver no topo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com seu pequeno punho, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem preso para o resto da vida. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar a um outro abaixo quando precisa ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas que pouco me servirão porque, quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente, estarei morrendo. Sempre diz o que sentes e faz o que pensas. Se eu soubesse que hoje fosse a última vez que iria te ver dormir, te abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião de tua alma. Se eu soubesse que esta seria a última vez que te veria sair pela porta, te daria um abraço, um beijo e te chamaria de novo para dar-te mais. Se eu soubesse que estes são os últimos minutos que te vejo, diria “te amo”, e não assumiria, tolamente, que tu já sabias.
Sempre há um amanhã, e a vida nos dá sempre outra oportunidade para fazer as coisas bem. Mas, se eu estiver enganado, e o dia de hoje for tudo o que nos resta, gostaria de dizer-te o quanto te quero, que nunca te esquecerei. O amanhã não está garantido para ninguém, jovem ou velho. Hoje pode ser a última vez que verás aqueles a quem amas. Por isso, não esperes mais, faz agora, e se o amanhã nunca chegar seguramente lamentarás o dia que não tiveste tempo para um sorriso, um abraço, um beijo, e que estiveste muito ocupado para lhes conceder um último desejo. Mantém os que tu amas perto de ti, diz-lhes no ouvido o tanto que os necessitas, queira-os e trata-os bem, arranja tempo para dizer-lhes “sinto muito”, “perdoa-me”, “por favor”, “obrigado”, e todas as palavras de amor que conheces. Ninguém se lembrará de ti pelos teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor força e sabedoria para poder expressá-los. Demonstra a teus amigos o quanto eles são importantes para ti.”
Fiquem em paz!
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