Roberto Flores é Conselheiro em dependência química há 30 anos e participou da implantação do Credeq/RJ (Centro de Recuperação para Dependentes Químicos ) em 1987, coordenando o Programa Familiar até 1989. Trabalhou no DQ centro como Conselheiro de 1989 até 1992, trabalhou como conselheiro em Vila Serena de 2003 a 2006. Participou da implantação do Citrad (Centro de Intervenção Tratamento e Ressocialização de Adictos) da Casa de Saúde Saint Roman, trabalhando como Conselheiro de 2008 até 2012. Roberto esclarece algumas questões importantes, para o Caderno Light.
Não é fácil para um familiar de um alcoólico ver seu filho, filha, marido ou esposa, pai ou mãe sair de casa sem saber como ele ou ela irá voltar, e quando irá voltar, e se irá voltar. Qualquer toque de telefone na madrugada assusta, apavora.
Visto por este prisma, é natural que o alcoólatra se sinta culpado pelo sofrimento que provoca nas pessoas que o amam. E é natural também que familiares de alcoólatras acreditem piamente que adoeceram por causa dele/dela, culpando-o(a) por tudo que de errado acontece.
Por mais que tente controlar a vida do outro, no caso do alcoolismo, todos fracassam nesse objetivo. Tanto o familiar, que utiliza dos mais variados recursos (chantagem, presentes, ameaças, etc), quanto o próprio alcoólico, quando promete que “aquilo não irá acontecer mais”, que “aprendeu a lição”, que agora ele vai ficar “só na cervejinha”, que ele não usa mais cachaça, etc.
Entender o alcoolismo como uma doença “da família”, em que todos, de forma consciente ou não, colaboram para a perpetuação do problema, provocando uma espécie de espiral de negação, que resulta em loucura, prisão ou morte, se faz necessário.
Quando o alcoólico sofre uma intervenção e é encaminhado para uma clínica de reabilitação, cria-se a oportunidade para que todos — o alcoólatra e quem convive com ele — possam rever seus papéis e iniciar mudança de atitudes que traduzam em relações mais saudáveis e promissoras.
Perguntas mais frequentes
O que é dependência química?
Apesar de ser uma doença crônica do cérebro, a dependência química é passível de tratamento. Pessoas com esse problema não conseguem controlar sua necessidade de consumo de álcool ou outras drogas, mesmo em face de grandes perdas em diversas áreas de sua vidas. A falta de controle é o resultado das mudanças induzidas no cérebro pelo uso de tais substâncias. Tais mudanças, por sua vez, causam alterações de comportamento. Em suma, a dependência química é uma doença cerebral, tratável, e se traduz em um comportamento anormal e destrutivo ligado a incapacidade de controlar o consumo de substâncias químicas a despeito de claros prejuízos pessoais.
O que envolve um tratamento de dependência química?
A maioria dos tratamentos são projetados para fazer mais do que simplesmente reduzir ou remover o consumo de álcool ou outras drogas. Eles se concentram em auxiliar o dependente químico a mudar seu estilo de vida e rever seus valores mais essenciais. Apenas assim, com uma reforma íntima, podemos prevenir a volta ao uso e seus consequentes problemas.
Semelhantemente a outros tratamentos para doenças crônicas, o da dependência química também pode incluir medicamentos e psicoterapias. A utilização de uma equipe multidisciplinar contribui sensivelmente ao tratamento aumentando a chance de recuperação. Dentre estes profissionais podemos citar os conselheiros em dependência química, assistentes sociais, professores de educação física, terapeutas ocupacionais, conselheiros espirituais, entre outros.
Como fazer uma internação?
As internações em saúde mental podem ser voluntárias, involuntárias ou compulsórias. A primeira ocorre quando o paciente, juntamente com um médico psiquiatra, decide pela modalidade de internação para o tratamento de sua doença. Normalmente isso ocorre quando os recursos ambulatoriais e as tentativas anteriores não se mostraram suficientes para mitigar significativamente o sofrimento do doente.
A involuntária se dá quando algum parente ou cônjuge do paciente, percebendo a ameaça que o mesmo pode estar trazendo para si e/ou para terceiros, aciona um psiquiatra ou serviço psiquiátrico que providenciará a remoção do paciente. Ao chegar ao estabelecimento especializado, este paciente será avaliado por um médico psiquiatra e, se houver indicação, ficará internado à revelia. Todo o processo é legal, está respaldado em lei federal (10.216) e visa à proteção do doente que não apresenta condição de tomar decisões por si mesmo.
A internação compulsória se dá quando algum juiz ou vara judicial determina a internação de um indivíduo em clínica especializada por medida cautelar.
Para dependência química, aplicamos métodos reconhecidos pelo National Insitute on Drug Abuse(NIDA), combinando psiquiatria, psicoterapia, aconselhamento, meditação, yoga e atividades físicas. Todas as práticas são voltadas para oferecer novas perspectivas e estimular reais mudanças em seu estilo de vida.
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