Todos os dias, fiscais da empresa Friburgo Auto Ônibus (Faol) impedem que passageiros que não têm direito à gratuidade do transporte público embarquem nos ônibus das linhas urbanas municipais. Os funcionários da empresa atuam em vários pontos da cidade, nos coletivos e também no terminal de integração Cesar Guinle, na Praça Getúlio Vargas. São muitas as irregularidades registradas pela concessionária, e a maioria delas é praticada por idosos. Alguns casos, inclusive, vão parar na polícia.
“Além de documentos adulterados e até falsos, já registramos casos em que o passageiro tentou passar na roleta usando o cartão RioCard Escolar de outra pessoa, quando a biometria ainda não tinha sido implantada nos ônibus. É muito comum também os pais pedirem para que seus filhos mais velhos passem por debaixo da roleta, o que é ilegal”, detalhou o coordenador operacional da Faol, Armando Lopes. “Mas a maior parte dos casos registrados pelos nossos funcionários acontece com idosos que tentam embarcar sem ter a idade certa que garante o direito à gratuidade”, disse.
Na última terça-feira, 25, por exemplo, uma idosa foi levada para a Delegacia Legal de Nova Friburgo após tentar entrar com documento adulterado na rodoviária urbana. Segundo a Polícia Civil, por volta das 14h45, a mulher se aproximou do guichê destinado às pessoas beneficiadas pela gratuidade, entregou o documento ao fiscal da Faol, mas foi impedida de entrar na rodoviária urbana porque o funcionário observou que o ano “1949”, da suposta data de nascimento dela foi datilografado com uma máquina de escrever. A moradora da Chácara do Paraíso negou que houvesse irregularidade no documento e apresentou a certidão de nascimento para provar que ela nasceu há 66 anos. Mas não adiantou, porque o documento também estava adulterado. Na delegacia, foi esclarecido que a idosa tinha completado 64 anos em junho deste ano. A mulher deve responder pelo crime de falsidade de documento.
São dezenas de ocorrências anotadas todos os meses pelos fiscais da Faol, e também é grande a quantidade de documentos, cartões e até crachás que ficam com a empresa durante as fiscalizações. “É importante explicar que os fiscais da Faol não apreendem os documentos dos passageiros. O passageiro, geralmente, fica nervoso quando o fiscal identifica a irregularidade e acaba deixando o documento com o funcionário. A gente faz o registro e o documento fica arquivado na empresa”, explicou Armando. Ele disse ainda que a Faol tem aumentado a fiscalização nos pontos de maior movimento e denunciado os casos à polícia.
A legislação brasileira garante gratuidade no transporte público somente para idosos acima dos 65 anos. Mas isso pode mudar, porque está em andamento na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), desde o ano passado, um projeto de lei que reduz de 65 para 60 anos o limite de idade para uma pessoa ser considerada idosa no estado. O objetivo da proposta, apoiada por ativistas e pela Federação das Associações dos Aposentados e Pensionistas do Estado do Rio (Faaperj) é alterar leis estaduais para adequá-las ao Estatuto do Idoso. “A mudança do limite de idade garantirá benefícios a mais idosos”, defendeu a presidenta da federação Yedda Gaspar.
Para a diarista Flávia da Silva a passagem cobrada pela Faol — R$ 3,30 — é alta, mas isso não justifica a falsificação de documentos. “Eu acho falta de honestidade as pessoas não pagarem, por mais que a passagem esteja cara. Uma vez eu vi uma senhora tentando pegar um ônibus no meu bairro, mas ela não entrou porque o motorista viu que o documento dela era falso. Ela ficou envergonhada e, até onde sei, nunca mais fez isso”, contou a moradora da Fazenda da Laje, enquanto esperava um ônibus no ponto da Rua Duque de Caxias, no Centro.
Além de idosos, estudantes da rede pública, crianças de até cinco anos de idade e portadores de necessidades especiais têm a gratuidade no transporte público garantida por lei.
Gráfica é suspeita de fraudar crachás de empresa de ônibus
A Polícia Civil investiga uma gráfica que estaria fabricando crachás falsos da empresa Auto Viação 1001, que seriam usados para o embarque gratuito nos ônibus das linhas municipais da Faol e nos intermunicipais. “Há um acordo que autoriza rodoviários a embarcar gratuitamente em ônibus de outras empresas desde que apresentem o crachá e também o contracheque”, explicou o coordenador da Faol, Armando Lopes.
Na primeira semana de maio deste ano, dois homens, de 26 e 42 anos, teriam tentado entrar na rodoviária urbana com a identificação da 1001, mas foram impedidos por um fiscal que observou que os documentos eram falsos. Para provar que a gráfica fraudava o documento, um funcionário da Faol teria conseguido fazer um crachá falso no estabelecimento. Ele ainda conseguiu uma nota fiscal da empresa. O caso foi denunciado à 151ª DP.
A VOZ DA SERRA entrou em contato com a Polícia Civil para saber em que fase está o processo envolvendo a gráfica, mas, até o fechamento desta reportagem, não conseguiu informações sobre a investigação. A Auto Viação 1001 também não respondeu o e-mail enviado pelo jornal.
Deixe o seu comentário