Apesar de uma campanha nacional realizada há menos de seis meses, o sexo sem camisinha é apontado como um dos principais fatores para o crescimento dos casos de sífilis no estado do Rio de Janeiro. Este é um dos dados registrados em fevereiro, em relatório divulgado pelo Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde. Nele está detalhada a escalada dos casos da doença em gestantes e recém-nascidos, desde 2008. E a previsão para 2016 é preocupante, com a expansão da doença.
Em 2008, o número de grávidas infectadas não chegou a dez mil. Já em 2013, houve 21.382 ocorrências, o que levou a uma taxa de 7,4 casos para cada 1.000 nascidos vivos. No ano seguinte, dados preliminares indicaram 28.226 diagnósticos, ou, aproximadamente 9,7 para cada 1.000 nascidos vivos. O avanço da doença em recém-nascidos também assusta. Em 2008, foram pouco mais de cinco mil registros em bebês com menos de um ano de idade. Em 2013, foram 13.704 casos (4,7 para cada 1.000 nascidos vivos), e, no ano seguinte, houve 16.266 ocorrências (5,6 para cada 1.000 nascidos vivos). Tais números apontam para o crescimento de mais de 200% em seis anos. Agora, a previsão é de mais de 22 mil casos de sífilis congênita em 2016.
O atual levantamento reforça o direcionamento da campanha para mulheres grávidas e profissionais da saúde para o diagnóstico da sífilis. O que não significa que o restante da população deva ficar indiferente à questão. Afinal, questões relativas à saúde pública dizem respeito a todos. Portanto, participar da programação do Dia Nacional de Combate à Sífilis, realizada sempre no terceiro sábado de outubro é um dever de cada cidadão responsável: quanto maior for o engajamento mais chances a população terá de evitar a enfermidade. Não só na tal data, mas ao longo de todo o ano. E mais: em tempos de zika, jamais negligenciar a sífilis.
Situação em Nova Friburgo
Em Nova Friburgo, a campanha é promovida pela Secretaria Municiapal de Saúde, através da Subsecretaria de Vigilância em Saúde e do Programa Municipal de DSTs, Aids e Hepatites Virais. Segundo a coordenadora municipal do setor, Teresa Polo, durante a última campanha foram realizados 82 testes rápidos para sífilis, que resultaram em oito testes positivos, sendo que os pacientes recebem o tratamento em seguida ao diagnóstico.
“Todas as terças e quartas-feiras realizamos testes rápidos para o HIV, Sífilis, Hepatite B e C no Programa Municipal de DST/Aids/HV. De outubro de 2015 a fevereiro deste ano, foram realizados 355 testes rápidos para sífilis, sendo 18 positivos. Em janeiro, realizamos 29 exames, com três resultados positivos; em fevereiro, em 30 exames, dois foram positivos. Todos os resultados são confirmados com exame específico e encaminhados para acompanhamento médico e tratamento adequado”, esclareceu.
Segundo a coordenadora, o Plano Municipal de Enfrentamento da Sífilis Congênita funciona em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde. De acordo com a Vigilância Epidemiológica de Nova Friburgo, em 2015 houve notificação de: sífilis na gestação (29 casos, com taxa de detecção de 14,19 casos por 1.000 nascidos vivos); sífilis congênita (dez casos, com taxa de detecção de 4,89 casos por 1.000 nascidos vivos).
“Para tal enfrentamento, estaremos descentralizando a testagem rápida dos agravos acima citados para oito unidades de saúde e descentralizando também o tratamento para sífilis. Embora tenha ocorrido falta da Penicilina G benzatina no país, já estamos com o estoque regularizado para atendimento da demanda do município”, informou Teresa.
O que é sífilis
A sífilis é uma doença sexualmente transmissível (DST), causada pela bactéria Treponema pallidum. Considerada uma doença silenciosa, não apresenta sintomas graves em seus estágios iniciais, mas pode levar a problemas cardíacos, meningite e até à loucura. Inclusive, em casos muito graves pode ser fatal. O Brasil apresenta um alto índice, e o estado do Rio tem o maior número de ocorrências.
Pode ser transmitida para o bebê durante a gravidez ou na hora do parto, na chamada transmissão vertical. Além disso, é possível transmitir a doença através do beijo em pessoa que esteja com uma ferida de sífilis na boca, ou com o contato direto entre esse tipo de ferida e um corte. Como a incidência da sífilis é considerada grave entre gestantes, o teste para a doença faz parte dos exames de rotina do pré-natal, e o ideal é que o parceiro também seja testado.
Sintomas e evolução
Os sintomas variam conforme o estágio da doença e também de pessoa para pessoa. Em alguns casos, os sinais passam despercebidos e a pessoa só descobre que tem a doença quando faz um exame de sangue. No estágio inicial, o sintoma característico é o surgimento de uma (ou mais) ferida indolor e altamente contagiosa, com bordas elevadas, denominada cancro. A ferida surge no lugar em que houve a infecção, normalmente cerca de três semanas depois do contato com a bactéria. O cancro pode ficar dentro da boca e dos órgãos sexuais, e por isso, não são notados. Nessa fase há possibilidade de cura. Num estágio mais avançado, a sífilis pode apresentar vários sintomas, que aparecem semanas ou até meses depois do surgimento da ferida. A maioria das pessoas apresenta uma erupção de pele que não coça, principalmente na sola do pé e na palma da mão, mas às vezes em outros lugares do corpo.
Sem tratamento, os sintomas costumam ir embora em alguns meses, mas a doença permanece ativa, pois a bactéria continua se multiplicando na fase latente. No último estágio, pode provocar anormalidades cardíacas, lesões nos ossos, na pele e em vários órgãos. Cerca de 20% dos doentes nesse estágio apresentam a neurossífilis, ou seja, o sistema nervoso é afetado pela doença. Nos estágios finais, ela pode causar convulsões, cegueira, surdez, demência, problemas na medula espinhal e morte.
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