Número de casos de dengue na última semana supera os de todo o ano de 2015 em Friburgo

8ª atualização do boletim epidemiológico foi divulgada nesta quarta-feira; especialistas ensinam a combater o mosquito
quinta-feira, 03 de março de 2016
por Márcio Madeira
Pessoas aguardam atendimento na recém-inaugurada sala de hidratação do Hospital Municipal Raul Sertã (Foto: Lúcio Cesar Pereira)
Pessoas aguardam atendimento na recém-inaugurada sala de hidratação do Hospital Municipal Raul Sertã (Foto: Lúcio Cesar Pereira)

A oitava atualização do boletim epidemiológico deste ano de 2016, divulgada nesta quarta-feira, 2, pela Coordenação de Vigilância Epidemiológica em Nova Friburgo, apresentou números alarmantes com relação às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Somente no período compreendido entre os dias 3 de janeiro e 27 de fevereiro de 2016 a cidade registrou 855 casos confirmados de dengue, e também 36 grávidas com suspeita de vírus da zika.

De acordo com parâmetros definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) trata-se de um quadro de epidemia, e sua dimensão fica evidente ao constatar que entre os dias 4 de janeiro de 2015 e 2 de janeiro de 2016, num intervalo que engloba todas as 53 semanas epidemiológicas do ano passado, 180 casos de dengue foram confirmados na cidade. Número este sensivelmente inferior aos 234 novos casos da doença, registrados apenas na última semana.

Quanto às suspeitas de zika entre grávidas, o número subiu de 29 para 36 no mesmo período. A Secretaria de Saúde informou ainda que os exames foram enviados para o laboratório de referência estadual, mas ainda aguardam a devida conclusão para que possam ser confirmados ou descartados. Para casos confirmados, o protocolo prevê acompanhamento e investigação, bem como isolamento da área onde os pacientes residem. Os pacientes com dengue, por sua vez, recebem medicação e fazem o tratamento em casa.

Hidratação

Em resposta ao grande número de casos, começou a funcionar nesta terça-feira, 1º de março, a Sala de Hidratação viabilizada pelas secretarias municipal e estadual de Saúde para atender pacientes com dengue no Hospital Municipal Raul Sertã. Até o mês de abril, quando tradicionalmente começa a diminuir a incidência da doença, cerca de 15 profissionais farão exames para confirmar o diagnóstico, e também irão medicar com soro os pacientes.

Como combater o mosquito

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, conhecer os dados científicos sobre as principais características e o comportamento do Aedes aegypti é fundamental para orientar a população sobre a eliminação dos focos de reprodução do mosquito, bem como para evitar sua picada. Confira, portanto, algumas informações relevantes levantadas por pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, que há mais de 10 anos se dedica à investigação do Aedes.

O A. aegypti adulto é fácil de reconhecer: as listras brancas nas patas são visíveis sem dificuldades. Outra informação importante é que o mosquito tem fotofobia (ou seja: ele tem grande aversão a luz). As larvas do A. aegypti fogem da luz, diferentemente das larvas de outros mosquitos urbanos. Por isso, quando a pessoa está em dúvida se a larva que foi encontrada é de A. aegypti ou não, uma saída eficiente é usar uma lanterna para iluminar as larvas, ou produzir sombra sobre a água em que há larvas junto à superfície em local claro. Se elas fugirem, fica confirmado que é A. aegypti. O mosquito adulto também tem esta característica e é muito ágil, se desloca com muita velocidade.

O A. aegypti é doméstico: ele vive dentro da casa das pessoas ou dos ambientes de trabalho. Ele não vive em locais de mata fechada, diferentemente de outros mosquitos silvestres. Dentro do ambiente doméstico, os mosquitos adultos foram encontrados com frequência em lugares como atrás de cortinas, em nichos de estantes e embaixo de mesas.

Eliminar focos de água parada é fácil: desobstruir calhas, eliminar lixo a céu aberto que possa acumular água, virar garrafas com a boca para baixo são medidas que qualquer um pode e deve fazer todos os dias. Mas o que fazer com caixas d’água, tonéis e pratinhos de plantas, que não podem ser simplesmente eliminados, mas que são muito mais importantes que estes outros? Primeiro, caixas d’água e tonéis devem ser vedados (não apenas tampados, mas totalmente vedados, já que o A. aegypti consegue entrar mesmo em frestas muito pequenas e depositar seus ovos).

Para os pratinhos dos vasos de plantas e qualquer outro reservatório de água que não possa ser eliminado, o importante é trocar a água e lavar bem as paredes do recipiente, no mínimo uma vez por semana. É fácil entender o porquê: os ovos não são depositados sobre a superfície da água, mas nas áreas úmidas da parede do depósito, junto à superfície da água. Eles ficam, por exemplo, grudados nas paredes dos vasos de plantas ou das caixas d’água. Por isso, é indispensável limpar as paredes onde os ovos podem estar grudados. Para saber de quanto em quanto tempo é preciso realizar a limpeza também é fácil: desde a eclosão do ovo (quando ele rompe para virar uma larva) até o surgimento de um mosquito adulto, são necessários cerca de dez dias. Esse desenvolvimento pode ser influenciado por diversos fatores, como quantidade de alimento disponível no criadouro, densidade da população de larvas e temperatura (o aumento da temperatura acelera o processo).

Por isso, se a troca da água acompanhada de lavagem for realizada uma vez por semana, mesmo que esteja muito quente, o tempo de ciclo de vida do mosquito será sempre interrompido. Uma dica é definir um dia na semana para realizar a troca de água e a lavagem dos reservatórios de água que não podem ser eliminados. Fixar este compromisso semanal com a saúde torna mais fácil lembrar do combate à dengue.

Pesquisas realizadas pelo IOC em diversos bairros do Rio de Janeiro mostram que os grandes reservatórios, como caixas d’água e tonéis, são os criadouros que geram maior número de mosquitos. Por isso, é fundamental vedar totalmente esses focos – sem descuidar dos pratinhos de planta, calhas e outros recipientes menores que podem acumular água.

Estudos do IOC analisaram mais de 30 mil larvas e pupas no Rio de Janeiro. Apenas 0,48% deste total estavam presentes em bromélias. Isso indica que elas não são bons criadouros do A. aepypti. Mas todo cuidado é pouco: a recomendação é trocar a água que fica empoçada dentro das bromélias no mínimo uma vez por semana. Assim, se houver larvas ali, elas serão eliminadas antes de se transformar em mosquitos adultos.

Na natureza, dos ovos do A. aegypti podem sobreviver até um ano fora da água. Esta sobrevivência é maior quanto maior for a umidade relativa do ar. Por isso, é muito importante eliminar os focos da dengue o ano inteiro.

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TAGS: Dengue | Zika | Aedes Aegypti
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