A construção do novo prédio está em fase final e os operários dão os últimos retoques nos acabamentos. Em meados de julho, mas já garantindo que antes do início das Olimpíadas, Geraldo Simplício, o Nêgo, vai inaugurar novo empreendimento em seu jardim de esculturas naturais: um museu, agora em ambiente fechado.
O novo prédio vai abrigar suas peças em madeira, obras de parentes igualmente talentosos, fotos mostrando o artista em atividade - da criação, evolução a alterações dos projetos, muitas vezes sujeitos aos caprichos da natureza -, e finalmente, ser também um lugar para receber os visitantes em um ambiente com jeito de sala de estar. A frente da sala, envidraçada do teto ao chão, proporcionará ao público uma atração a mais: a paisagem, composta de majestosas montanhas. Um ambiente perfeito, em sua conjunção de arte produzida pelas mãos do homem e de um ser divino.
Mas a novidade não se restringe ao museu, considerando que o artista vive um momento de expansão não só “territorial” mas “mental” também. Aos dez primeiros mil metros adquiridos há mais de 30 anos, Nêgo acrescentou há alguns anos mais dez, do lado esquerdo. E, depois do cataclismo de 2011, adquiriu outro tanto do vizinho à direita, somando, hoje, os 30 mil metros de terreno. Para realizar tudo que o artista pretende para este ano, é preciso espaço para seus novos empreendimentos:
“O principal está na minha cabeça. É onde fica a minha usina primária, onde vislumbro as ideias, onde fico gestando cada nova descoberta que surgem. E elas têm vindo o tempo todo. O momento é bom, sei o que e como fazer. Se encontro “obstáculos” no caminho, esteja em cima ou em baixo da terra, sejam pedras ou o que for, de obstáculos passam a ser matéria para criação”, explicou. E assim, conjugando arte com sua integração à natureza, o homem e seu habitat, o artista expressa da maneira mais visceral o que lhe vai na alma.
Devastação fortalece o instinto criador
O Jardim do Nêgo, localizado no Campo do Coelho, 3º distrito de Nova Friburgo, é, em si, um museu a céu aberto. Suas obras parecem brotar da terra, na verdade, dos barrancos que serpenteiam os vários níveis de seu sítio. No entanto, o visitante não tem ideia do que esse trabalho exige, mental, intelectual e fisicamente falando. Para produzir, por exemplo, uma escultura que pode atingir até dez metros de altura, como a Índia Potira, Nêgo levou dois anos. Por volta de 2011, antes da fatídica madrugada de 12 de janeiro, o jardim chegou a ter 30 esculturas. Independente de tragédias como aquela, esse número sofre alterações ao longo dos anos, sujeito que está aos eventos climáticos naturais.
A tragédia que se abateu sobre a cidade cinco anos atrás provocou deslizamentos de terra que destruíram boa parte das esculturas: foram cerca de dez obras, entre totalmente destruídas e interrompidas. O famoso ponto turístico da cidade teve que fechar as portas e assim ficou durante meses. A visão do município devastado despertou no artista uma força criativa que o levou a restaurar e realçar detalhes, antes quase imperceptíveis. É o caso das esculturas de uma pastora com um terço entre os dedos, de uma tartaruga, e uma família de retirantes, que ganharam novas formas e movimentos redimensionados após a restauração.
Cerca de 500 pessoas, por mês, visitam o Jardim do Nêgo. Em seu livro de assinaturas estão registradas mais de 100 mil visitas. O sítio fica no quilômetro 55 da RJ-130 (Tere-Fri) e está aberto todos os dias, de 8h às 17h. A entrada custa R$ 15 para os adultos e crianças até 12 anos não pagam ingresso. Tel: (22) 2543 2253.
Deixe o seu comentário