Na edição do dia 9 de julho de 2012, o jornal A VOZ DA SERRA publicou a matéria "Nova Friburgo, a cidade das bicicletas”, redigida pelos jornalistas Dalva Ventura e Henrique Amorim, e fotos do arquivo digital de Osmar Castro. O texto fala sobre o hábito dos friburguenses de pedalar, citando que "se, no início do século XX, as bicicletas ainda eram um luxo, no final dos anos 30 elas já haviam se popularizado bastante e se incorporado à paisagem de Nova Friburgo”.
A historiadora Janaína Botelho, em sua coluna "História e Memória de Nova Friburgo”, da edição de A VOZ DA SERRA de 28 de julho do ano passado, conta que as bicicletas – embora sendo consideradas um luxo na época – já eram vistas nas ruas do município no final do século XIX. À noite, os ciclistas tinham que andar em marcha moderada e lanterna acesa, uma vez que "a população friburguense ainda não se habituara aos novos tempos”. A historiadora relata também que, com a chegada dos veranistas no começo do ano, vários eventos eram programados, inclusive as corridas de bicicleta, o que resultou em 1899 na criação, por Eduardo Salusse, do Bicyclette Club Friburguense, destinado a competições desse veículo. Quando Nova Friburgo passa a ser uma cidade industrial, anos mais tarde, as bicicletas se tornam um meio de locomoção para os operários, sendo financiadas pelos próprios industriais alemães. Janaína conta ainda que, na década de 50, era autorizado o tráfego de bicicletas em uma das alamedas da Praça Getúlio Vargas, "o que demonstra como esse meio de transporte estava inserido no espaço de sociabilidade da cidade”, como explica ela.
Apesar deste histórico das bicicletas em Nova Friburgo, querer que esse veículo volte a ter a mesma importância aqui não é uma tentativa de retorno ao passado, um túnel do tempo, um saudosismo utópico. Na verdade, várias nações com alto desenvolvimento social e econômico investem em infraestrutura para incentivar o uso das bicicletas. É o caso da Holanda, Alemanha e Dinamarca. O caos nos trânsito das grandes cidades, aliado ao aumento de CO2, tem feito com que os veículos automotivos percam pontos na preferência de governos e população de diversos países.
Capital mundial da bicicleta, a Holanda tem uma invejável cultura e infraestrutura voltada para o uso desse veículo e serve de exemplo para muitas nações. Outros países, principalmente os da Europa, também tem tradição no uso da bicicleta como meio de transporte diário. A lista de alguns países "bike-friendly” pode ser conferida na página 4.
No Brasil, apesar de haver alguns movimentos para incentivar o uso desse veículo saudável e sustentável, o sucesso dessa aspiração esbarra em problemas de infraestrutura, vontade política e de educação da população: existem poucas ciclovias no país e as que tem, na maioria das vezes são invadidas por pedestres, estão em condições precárias e sem sinalização adequada. A prática do "salve-se quem puder”, característica de muitos motoristas, motociclistas e ciclistas também é prejudicial, além das infindáveis promessas não cumpridas a favor do ciclismo pelos governantes.
Bicicletas podem ser a salvação do trânsito de Nova Friburgo
Se Nova Friburgo já teve nas bicicletas seu principal meio de transporte, hoje o que se vê são ruas entupidas de automóveis e motocicletas, que disputam poucas vagas, dão um nó no trânsito e poluem a cidade. O movimento Bicicletadas de Nova Friburgo vem tentando reverter esse quadro.
"Começamos no meio do ano passado, antes das campanhas eleitorais. Os candidatos prometeram construir uma ciclovia que possibilitasse a população ir trabalhar, estudar e passear de bicicleta em grande parte da cidade”, conta o funcionário público Eduardo Seixas Serrão dos Santos, um dos participantes do movimento, que é mundial. "Acreditamos que Nova Friburgo ainda tem condições de corrigir seu trânsito, principalmente quando as pessoas evitarem usar os carros em curtas distâncias. É claro que isso é uma política de longo prazo e é necessário que os friburguenses voltem a ter o hábito de pedalar”, diz ele, lembrando que além de ciclovia, é preciso ter ciclofaixas e bicicletários para se guardar os veículos. "Os municípios precisam ter uma política pública pela mobilidade urbana. E nisso, a bicicleta é fundamental”, finaliza Serrão, que, não raro, costuma ir pedalando para o trabalho.
A bicicleta de Nelmo
Não era difícil ver o ator Nelmo Ricardo pedalando sua bicicleta pelas ruas de Nova Friburgo. Recém-falecido, ele se tornou uma figura inesquecível em todos os sentidos e também quando o assunto é o uso da bicicleta como meio preferencial de transporte. Morador do bairro de Debossan, Nelmo percorria os cerca de 15 quilômetros até o centro da cidade, todos os dias e a qualquer hora. "Não posso depender do ônibus. Pedalar virou um hobby saudável”, dizia ele.
Velo-City
Iniciado em 1980, na cidade alemã de Bremen, esta série de conferências é um dos principais fóruns do mundo voltado para a troca de experiências em relação às bicicletas. Dentre os objetivos está o incentivo ao reconhecimento da bicicleta como um modo saudável, eficiente e ecológico de transporte e a promoção de sua maior utilização. Além disso, as conferências buscam integrar o planejamento do ciclo em outros setores políticos relevantes, onde andar de bicicleta desempenhe um papel importante de transporte, planejamento e uso do solo e também difundir as boas políticas voltadas para o ciclismo, mostrando os benefícios que elas proporcionam a seus cidadãos.
O Velo-City levou à fundação da Federação Europeia de Ciclistas (ECF), em 1983 e inspirou a cidade de Paris a lançar em 2007, o Vélib, o maior programa público de aluguel de bicicletas do mundo.
(Foto) Se o projeto da ciclovia em Nova Friburgo sair do papel, a Avenida Alberto Braune ganhará um espaço para os que optarem por pedalar
Projeto para a construção de ciclovia existe, mas carece de recursos para sair do papel
Vinicius Gastin
O projeto para a construção de uma ciclovia em Nova Friburgo existe. O trajeto entre Olaria, Conselheiro Paulino e Riograndina – passando às margens do Rio Bengalas, Paissandu e Ponte da Saudade (seguindo o caminho da antiga Estrada de Ferro) – totalizam 25,7 km, com 2,20 m de largura, e podem ser ampliados até Mury. Até mesmo a Avenida Alberto Braune será contemplada: a pista deverá ser construída no nível mais baixo da calçada, em direção à rua, e contará com recuos em alguns pontos para a implantação de bicicletários. A proposta faz parte do plano de Mobilidade Urbana, traçado pelo governo municipal, mas ainda não há recursos definidos para sair do papel e deixar de ser apenas um sonho. Resta esperar por verbas federais para materializar as ideias.
"Acreditamos em uma mudança no orçamento da União depois dessa mobilização nacional. O Ministério das Cidades deve orientar e incentivar a construção de ciclovias, e nós estaremos preparados, com o projeto pronto para pleitear os recursos”, explica o secretário municipal Edson Lisboa, do Escritório de Projetos Especiais.
O novo orçamento da União foi enviado para o Congresso recentemente, e ainda precisa de aprovação dos deputados para vigorar. Portanto, apesar da luz no fim do túnel para os ciclistas, ainda não existem prazos concretos. Contudo, Edson Lisboa mantém as esperanças de iniciar as obras em 2014. "Resta aguardar a aprovação. Alguns espaços serão pistas de fato, outros, apenas demarcações. Tudo isso vai exigir um grande trabalho de educação no trânsito para a boa convivência entre motoristas, ciclistas e pedestres. Com os bicicletários, a tendência é facilitar o processo.”
Enquanto aguarda pelas verbas, o município espera inaugurar a primeira parte da malha cicloviária após a conclusão da cobertura do Córrego do Relógio, na Vila Amélia, com a inclusão uma via exclusiva para a circulação das bicicletas. Da mesma forma, a Avenida Brasil – entre Conselheiro Paulino e Duas Pedras – contará com uma ciclovia em sua extensão. De acordo com Lisboa, a prefeitura já dispõe de todos os laudos necessários por parte do Inea e de outros órgãos. Em alguns casos, inclusive, as ciclovias estão incluídas no projeto original das obras.
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