Emancipação político-administrativa é o termo para o desmembramento de parte de um território ou região para constituir outro município. A maioria das Cidades brasileiras comemora aniversários em datas emancipadas de outras localidades. Atualmente pouco usado, o processo de separação de municípios só é possível mediante plebiscito, decidido pela própria população.
Antigamente, com vastos territórios a serem ocupados, de dimensão continental, o Brasil teve municípios e cidades criados a partir de diferentes mecanismos, a exemplo das concessões de terras das capitanias hereditárias (1534).
Os Sertões Lestes do Macacu - como era conhecida toda a região em que hoje se localiza o centro-norte fluminense - incluía o atual território de Nova Friburgo, então denominado Fazenda do Morro Queimado, pertencente à Sesmaria de Cantagalo. Dez anos depois de chegar ao país, em 1808, quando a Família Real Portuguesa transferiu-se para o Brasil, o rei Dom João VI pretendia ampliar o Reino, ao mesmo tempo que, pressionado pela Inglaterra - sua parceira contra o imperador Napoleão Bonaparte - precisava conter o tráfico negreiro e optaria por um projeto de europeização do país.
Tradicionalmente Nação de imigrantes, que desde tempos idos fornecia colonos - quer como mão de obra ou soldados mercenários - para diversos outros países, não demoraria muito a Suíça ser atraída ao projeto da colônia no alto das serranias de mata ainda virgens na porção onde hoje existe Nova Friburgo e seu entorno.
Vimos em artigo anterior, o Rei autorizar a vinda dos primeiros suíços, fundando assim a NOVA Friburgo (16/5/1818), cujo bicentenário celebramos há três meses.
No entanto, ao responder a interrogação “quantos 200 anos Nova Friburgo tem?”, 03 de janeiro de 1820 - defendido pelo jornalista e historiador Pedro Cúrio como dia oficial de Nova Friburgo, - não pode ser menosprezado.
Tão logo os suíços iniciaram a viagem entre julho a novembro de 1819, a Coroa Portuguesa mandara adotar as providências de instalação oficial da nova colônia. Quando os colonos galgaram a serra da Boa Vista (na época do caminho pela atual Fazenda do Cônego) e chegaram à vila, as casas já estavam construídas, mas os lotes agrícolas não poderiam ser distribuídos até a chegada dos últimos colonos, a 30 de abril de 1820, segundo nos conta o abade Jacob Joye em seu diário de bordo.
Assim, por Alvará Real daquele início de janeiro, nascia a Vila de Nova Friburgo da Freguesia de São João Batista - nome escolhido pelo próprio Rei, em honra ao Santo padroeiro e seu homônimo. O ato também desmembrava a Fazenda do Morro Queimado da Sesmaria de Cantagalo, nomeando a administração colonial diretamente subordinada à Corte, tendo como seu diretor o tenente-coronel João de Moraes Almeida Peçanha, sob inspeção do monsenhor Pedro Machado de Miranda Malheiros.
200 anos de novo
Portanto, daqui a dois anos e cinco meses, a Vila de Nova Friburgo completará seus 200 anos de emancipação dos domínios cantagalenses, sendo ainda que a 17 de abril daquele mesmo ano, uma festa que os próprios suíços organizaram, marcava a inauguração oficial da nova comuna, com direito a instalação de sua Casa Legislativa, desfile, procissão e um portentoso baile, que atravessaria a madrugada confraternizando os neo-friburguenses, apesar dos dissabores registrados ao longo de toda a viagem do total de sete meses, contabilizando saldo negativo de mais de 400 mortes.
O bicentenário da Vila merece igualmente toda comemoração. Nova Friburgo entrava para o hall das comunidades brasileiras, começando a ganhar formatação de cidade, embora só teria esse status 70 anos depois, em 1890, um ano após a proclamação da República, com sua elevação à foros de Comarca.
No entanto, polêmica sobre a data certa para se comemorar o Dia de Nova Friburgo perdurou por muitos anos. Embora somente a partir do seu centenário, em 1918, os festejos de maio ganharam projeção e destaque, por mais de meio século o tema dominava o debate, até que em meados da década de 1960, quando se aproximava a celebração do sesquicentenário (1968) de fundação, uma comissão especial composta por notáveis e membros do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro optou pelo 16/5, data do Decreto Real, destacando ainda a pioneira imigração helvética e considerada mais propícia ao clima frio da época do ano, mais próximo ao europeu, ao qual se buscava ligar à Suíça Brasileira.
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