Segundo o diretor do ensino fundamental do Colégio Ceffa Flores de Nova Friburgo, em Vargem Alta, professor Guilherme Moraes da Silveira, o título de “Cidade dos Cravos”, ou “Cidade das Flores”, ostentado pelo município em passado nem tão remoto, foi perdido pela “imposição do mercado e os custos de sua produção”. O cravo desapareceu das floriculturas, o consumidor se conformou, e simplesmente passou a levar para casa outros tipos de flores. Não se falou mais no assunto.
“No imaginário brasileiro, tudo o que está relacionado ao mundo rural é taxado de caipira e atrasado, visão distorcida da realidade aliada à falta de oportunidades que leva ao esvaziamento do campo e à falência das grandes cidades”, avaliou Guilherme. Segundo ele, para reverter o processo histórico de desvalorização do campo, o Ceffa, criado em 2002, já formou aproximadamente 200 alunos desde então, através de uma pedagogia voltada para o meio rural, que visa fixar sua população na região. “A grande maioria dos estudantes são filhos de produtores, e a agricultura familiar predomina na região”, ressaltou.
Nova Friburgo é o maior produtor fluminense de flores de corte, com destaque na produção de rosas, hortênsias, astromélias, crisântemos, lírios, gérberas, palmas, entre outras. O município concentra metade de toda a área cultivada na Região Serrana, a maior produtora do estado, com cerca de 500 floricultores. Segundo o IBGE, dos nove milhões de maços/dúzias de flores produzidos por ano na região, 4,5 milhões são plantadas pelos 220 floricultores de Friburgo.
No total, a Região Serrana, concentra 60% dos produtores de flores de corte do estado, posição que se mantém no quesito consumo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Flores (Ibraflor). Vargem Alta, localidade do distrito de São Pedro da Serra, a dez quilômetros do centro de Nova Friburgo, é o principal polo de produção. Estes números colocam o município como o segundo maior produtor de flores do Brasil, atrás apenas de Holambra-SP.
Em 2014, o setor movimentou cerca de R$ 650 milhões em todo o Rio de Janeiro. Atualmente, 1.074 profissionais cultivam uma área superior a 950 hectares, uma demonstração do pleno desenvolvimento do setor no estado. O montante gera 10% do total de faturamento no país, ficando atrás apenas de São Paulo, responsável por 35%.
Potencial não se reflete na paisagem da cidade
No entanto, onde estão as flores que deveriam enfeitar nossas ruas, canteiros, praças e jardins? Grande parte é despachada para os grandes centros (capitais), onde existe uma demanda certa. Os moradores e turistas que nos visitam encontram flores no comércio local, mas não na paisagem urbana. “Desta forma, como cidadãos, estamos negando nossas riquezas naturais, apesar do crescimento do segmento de turismo rural e ecológico. ‘Cidade das Flores’ deveria ser o destino natural de nosso município. Mas esta é uma proposta que precisa ser abraçada por todos, sociedade civil e poder público. Uma cidade mais florida é sempre um charme maior para seus visitantes. Talvez estejamos diante de um dos raros produtos que não têm rejeição: a flor é a nossa melhor ferramenta de marketing”, defende o professor Guilherme.
De acordo com ele, muitos alegam que nossas praças e jardins costumam ser saqueados pela própria população, que não resiste em cortar flores, ou até arrancar as mudas de plantas. “Creio que tal atitude poderia ser evitada com uma campanha educativa. A formação de novas gerações voltadas para o setor também pode ajudar a mudar essa mentalidade. Afinal, quem não gostaria de viver num lugar cheio de flores?”
Por tudo isso, o desenvolvimento do setor é um norte constante nos projetos do Ceffa, como um dos pilares de sua pedagogia. “Em breve, vamos inaugurar nas instalações do colégio um restaurante voltado inicialmente para atender e unir a comunidade e fortalecer um turismo local ainda incipiente. Em parceria com a Uerj e a Secretaria de Ciência e Tecnologia, também vamos inaugurar um laboratório para enriquecer as práticas dos alunos e oferecer aos produtores análises de solo e folhear. Evoluir é um projeto permanente do Ceffa”, concluiu Guilherme.
Antigamente...
“Como era Nova Friburgo nas décadas de 30 e 40 do século 20? Encantadoramente bela era a cidade dos cravos rubros, das camélias brancas, fascinante, bonita por si mesma, sem atavios, na beleza encantadora de sua simplicidade. As ruas eram mais floridas, o lindo coreto bolo de noiva, onde as bandas se apresentavam... e que foi destruído sem qualquer justificativa. As residências, divididas por cercas de bambu...” (Janaína Botelho, em História e Memória de Nova Friburgo)
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