Nova Friburgo, a cidade das bicicletas

segunda-feira, 09 de julho de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Nova Friburgo, a cidade das bicicletas
Nova Friburgo, a cidade das bicicletas

Dalva Ventura

Uma Nova Friburgo calma, florida, bucólica, onde quase não havia automóveis e muito menos ônibus. Não podia dar outra. A bicicleta logo se tornou o principal, senão o único meio de transporte da população e também uma das maiores fontes de lazer dos friburguenses.

Hoje, não há mais lugar para os ciclistas na cidade, o que é lamentável. Este veículo tão antigo, não poluidor e que ainda por cima traz tantos benefícios para a saúde, poderia vir a representar, num futuro próximo, a solução para deslocamentos relativamente curtos. Seria ou não seria o caso de Nova Friburgo?

Muito oportuna, portanto, a iniciativa dos ciclistas locais que aderiram ao movimento internacional “Bicicletada”, que busca viabilizar o retorno ao saudável hábito de andar de bicicleta. Muitas cidades estão conseguindo implementar programas neste sentido. Quem sabe não chegamos lá?

O passado não volta jamais, porém sempre é bom recordar aqueles tempos dourados. As bicicletas estão presentes de forma indelével na nossa história e nas memórias dos friburguenses. As corridas de bicicletas, por exemplo, evocam boas lembranças nos mais antigos. Desde o fim do século XIX elas eram uma grande atração no verão. Em artigo publicado na edição de quinta-feira 28, aqui de A VOZ DA SERRA, Janaína Botelho nos conta que a Praça 15 de Novembro (atual Getúlio Vargas) se transformava no Velódromo Friburguense. “Eduardo Salusse, de tradicional família da cidade, criou em 9 de abril de 1899 o Bicyclette Club Friburguense, destinado a competições desse veículo”, relatou.

Já naquela época, continua, a cidade deveria possuir muitos ciclistas, pois Janaína encontrou um anúncio de conserto de bicicletas em um jornal da época, além de uma reclamação sobre a necessidade de o Código de Posturas regular o trânsito das mesmas, que já vinham causando atropelamentos de pedestres.

Alguns anos depois, quando Nova Friburgo já tinha se transformado numa cidade industrial, a bicicleta passou a ser o principal, senão o único meio de locomoção dos operários e classes populares. Imaginem o que representou a bicicleta para o trabalhador friburguense, que até então não contava com serviço de transporte urbano. O sonho de todo operário friburguense era comprar uma bicicletinha para ir e voltar das fábricas. Mas este bem de consumo de primeira necessidade, então, custava caro demais. Os industriais alemães, então, deram uma mãozinha financiando a compra do veículo.

Os mais antigos se lembram desta época. “Aos poucos fomos deixando de ouvir o barulho dos tamancos nas calçadas, pois todo mundo passou a ter a sua bicicleta”, conta Thereza de Albuquerque e Lima.

Se, no início do século XX, as bicicletas ainda eram um luxo, no final dos anos 30 elas já haviam se popularizado bastante e se incorporado à paisagem de Nova Friburgo. “Eu não me lembro de ninguém que não tivesse bicicleta”, diz Thereza.

Ela se recorda da loja do senhor Moisés Oliva, na Rua Moisés Amélio, que alugava bicicletas, muito procurado pelos turistas e também pelos raros friburguenses que ainda não tinham podido adquirir este almejado veículo.

Imaginem como devia ser gostoso passear de bicicleta por uma das alamedas da Catedral dos Eucaliptos no final da tarde ou circular sem correr riscos pelas ruas da cidade, já que eram raríssimos os automóveis. Detalhe: naquela época praticamente não havia roubo de bicicletas. “Quantas vezes eu esqueci a minha encostada no meio-fio e quando fui buscar, já no dia seguinte, a encontrei no mesmo lugar, encostada no meio-fio ou na calçada, embaixo da marquise. Bons tempos aqueles”, recorda-se Thereza, com saudade.

A vida em Nova Friburgo seguiu assim até que veio o progresso de vez. Junto com ele e em sem nome, demoliram-se prédios históricos que jamais poderiam ter ido abaixo, os automóveis tomaram conta de nossas ruas, expulsando de vez as bicicletas. Saudosismos à parte, está mais do que na hora de pensarmos seriamente em incorporar de novo as bicicletas a nossa paisagem. De uma forma renovada, de acordo com os novos tempos e às normas de trânsito. Os friburguenses bem que mereciam este presente. Não custa nada sonhar.

Mobilidade e saúde em nome da sustentabilidade

Henrique Amorim

Nada mais irritante que enfrentar os já corriqueiros congestionamentos de todo início e fim de tarde no eixo rodoviário de Nova Friburgo e suas transversais, principalmente nos acessos ao Centro e ao Paissandu. Mais raiva se tem ainda quando os motociclistas utilizam-se dos corredores (espaço entre as filas de carros) e dão poeira em quem padece no engarrafamento de quase todo santo dia. E olha que essa situação poderia ser bem mais amenizada se houvesse maiores investimentos em engenharia de trânsito e também na conscientização de quem precisa se deslocar neste vale de montanhas. Sabe como? Com a utilização de bicicletas.

Muita gente já aderiu a este meio de transporte de fácil mobilidade, saudável, não poluente, econômico e sustentável que já foi uma característica de outrora no município, mas a “turma do pedal” atualmente enfrenta dificuldades com a falta de ciclovias, ciclofaixas e incentivo ao ciclismo não só como esporte, mas como meio de mobilidade. Um passo, ou melhor, uma pedalada a frente nesta bandeira se deu semana passada com a adesão de ciclistas de Nova Friburgo ao movimento desencadeado via rede sociais “Bicicletada”.

A iniciativa pretendeu chamar a atenção das autoridades para a necessidade da adaptação de ciclovias no município, principalmente nos trechos planos e também construção de bicicletários (estacionamentos de bicicletas). Para isso, será preciso a criação e aprovação de leis municipais no próximo dia 15 tem mais uma edição do movimento. O aposentado Roberto Valle, 61 anos, é um dos entusiastas do movimento e admite ser bastante prejudicado todos os dias quando sai de casa, no bairro Cônego, para praticar seu hobby predileto: pedalar. Roberto orgulha-se de percorrer de bicicleta cerca de 20 quilômetros diariamente.

“Não utilizo ônibus para nada. O tempo de 15, 20 minutos que levo esperando por um ônibus consigo chegar ao meu destino de bicicleta. Até mesmo para ir ao Centro, num banco ou no comércio, vou de bicicleta. Chegando lá, amarro a bicicleta nos postes e não me preocupo com a falta de vagas para estacionar e nem com os engarrafamentos”, conta ele, que também usa a “magrela” para atividades esportivas. “Minha bicicleta é de marcha e não me canso quando tenho que subir ladeiras. Vou do Cônego a Cascatinha sem nenhum problema”, conta.

Outro que também não dispensa a bicicleta e faz dela seu exclusivo meio de transporte é o ator Nelmo Ricardo. Todos os dias ele sai do bairro Debossan, onde mora, e percorre cerca de 15 quilômetros até o Centro. Como não há bicicletários na cidade ele guarda seu meio de transporte num espaço próximo ao Paissandu. Essa rotina já dura pelo menos uns 17 anos. “Minha atividade exige que eu tenha que ficar várias vezes na cidade até mais tarde e se dependesse dos ônibus tinha que partir às 23h, pagar caro num táxi, ou ainda ir a pé mesmo. O jeito, então, é pedalar. Virou um hobby saudável. Pena que em Nova Friburgo o ciclismo seja tão prejudicado”, observa ele, que apoia o incentivo às ciclovias.

Gilberto Ribeiro, 52 anos, também não dispensa a bicicleta e toda vez que precisa marcar consulta médica para ele próprio ou seus familiares nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) no município, vale-se da boa e velha Monark, que tem há uns 20 anos. “Moro em Riograndina e o primeiro ônibus que sai de lá para o Centro é às quatro da madrugada e essa hora já estou no Hospital Raul Sertã ou no posto do Suspiro (o Sylvio Henrique Braune). Aí descanso na fila”, ironiza ele, que evita vir sempre à cidade pedalando devido à falta de espaços próprios para os ciclistas.

Tanto Gilberto como Roberto Valle aprovam a ideia de adaptação de uma ciclovia do Centro do distrito de Conselheiro Paulino ao Cônego, um trecho de pouco mais de 12 quilômetros, todo plano. Há também quem defenda a construção de ciclovia do bairro Theodoro de Oliveira ao Centro, que inclusive conta com longo trecho da antiga linha férrea que poderia ser facilmente aproveitado para tal finalidade também. “Nos trechos onde não for possível adaptar-se uma ciclovia, basta pintar ciclofaixas. Caberá aos motoristas também mudarem seus hábitos e respeitarem os ciclistas, pois, hoje, se pedalamos nas calçadas, ouvimos reclamações dos pedestres; se pedalamos nas ruas, corremos o risco de sermos atropelados”, diz Roberto.

Ciclistas farão pedaladas dias 14 e 15 pela construção de ciclovias em Nova Friburgo

Ciclistas e entusiastas da bicicleta em Nova Friburgo têm novo encontro marcado para os próximos dias 14 e 15, como parte do movimento mundial denominado Bicicletada (Critical Mass).

Na reunião realizada no último dia 27, junto ao chafariz da Praça Getúlio Vargas, os participantes decidiram por novos encontros para chamar atenção da população à causa. Desta forma, uma nova pedalada foi marcada para os dias 14 e 15, às 15, na Praça Dermeval Barbosa Moreira, em frente ao Centro de Turismo.

“Chame os amigos, leve a família e tire as bicicletas da garagem! A proposta é a mesma: pedalar e conhecer os ciclistas que, aos poucos, estamos reunindo neste movimento. A ideia é manter o tema da mobilidade sustentável na pauta da cidade. A roda não pode parar”, diz Eduardo Serrão, um dos participantes à frente do movimento na cidade.

Na Suíça, bicicletas são fiéis aliadas dos cidadãos

Enquanto aqui na Suíça Brasileira o uso de bicicletas ainda é tímido no dia a dia, resumindo-se quase que somente ao esporte, na Suíça e em demais países europeus a utilização das “magrelas” ou “camelos”, como as bicicletas são chamadas pelos jovens daqui, vêm tornando-se cada vez mais comum e já são consideradas alternativas ao transporte público. Tanto é que na região de Genebra o número de ciclistas aumentou 70% nos últimos cinco anos, mesmo sendo a cidade sede do Comitê Olímpico Internacional de relevo bastante acidentado como Nova Friburgo e, consequentemente, pouco propícia à bicicleta. Que nada.

Os europeus apoiam as bicicletas e são entusiastas da proliferação de ciclovias pelos mesmos motivos que o movimento Bicicletada tenta incentivar a criação de espaços para as pedaladas por aqui. Com as cidades de porte médio e grande cada vez mais cheias de veículos nas ruas, a bicicleta tornou-se a alternativa mais viável para deslocamentos entre dois e quatro quilômetros em média, observam as autoridades europeias. As bicicletas por lá economizam o tempo para se chegar ao trabalho e para estacionar.

Outra vantagem é que no deslocamento por bicicletas atinge-se velocidades médias entre 16 e 30 quilômetros por hora, enquanto um veículo em meio a um congestionamento oscila a velocidade entre cinco e 20 quilômetros por hora. A bicicleta é tão valorizada na Europa também por conta do quesito saúde. Além de não poluir, o uso das magrelas por meia hora diária aumenta a esperança de vida com a redução de dois terços da probabilidade de doenças cardíacas, atesta o órgão aglutinador das associações helvéticas de ciclismo, Pro Vélo Suisse.

Em Paris, o governo incentiva o uso de bicicletas com a disponibilização de dez mil bicicletas para os moradores da capital francesa que possui cerca de 400 quilômetros de ciclovias. Os interessados têm que se dirigir a 750 locais apropriados e pagar uma licença anual de 29 euros (R$ 75) para ter direito a utilizar as bicicletas por períodos pré-determinados e em percursos menores. Nas capitais brasileiras e cidades de porte médio, as ciclovias já começam a fazer parte dos cenários urbanos.

Mais segurança para os ciclistas

O movimento Bicicletada chama atenção da população para o uso da bicicleta como meio de transporte ecológico e sustentável. A iniciativa também aborda questões como a necessidade de implantação de ciclovias e ciclofaixas nas ruas de Nova Friburgo e de mais atenção aos ciclistas. O evento mostra aos motoristas que a bicicleta é mais um componente da mobilidade urbana e que merece o devido respeito, já que é um meio de transporte que deve ter o seu espaço na cidade. Dicas importantes para quem trafega de bicicleta são destacadas, confira.

Se você é ciclista, estas são dicas importantes:

– Respeite a sinalização. Pedale no mesmo sentido do fluxo dos carros, do lado direito da faixa

– Não pedale na contramão. É bem mais perigoso que você imagina

– Não pedale na calçada

– Para virar a direita ou esquerda, sinalize antes com o braço. Isso ajuda a evitar acidentes

– Fique bem visível no trânsito. Use roupas de cores chamativas, principalmente à noite.

– Evite ziguezague e movimentos bruscos

– Cuidado com buracos, valetas, bueiros e outros obstáculos. Antecipe sua ação olhando para frente

– Mantenha a bicicleta e seus equipamentos sempre em perfeitas condições

– Não utilize fones de ouvido, pois eles podem afetar a sua percepção externa, importante para circular nas ruas

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