Notícias da Floresta - Os mundos invisíveis e os universos perdidos

Por Valdir Veiga - valdir.veiga@gmail.com
sexta-feira, 03 de agosto de 2012
por Jornal A Voz da Serra

“Uma quantidade enorme de substâncias ainda reside

desconhecida em seres

nunca estudados pela

ciência. Perdê-los pela

ignorância do desmatamento é aumentar o sofrimento e adiar a cura para diversas doenças que assolam a humanidade”

Em algumas regiões de sistemas florestais complexos como a Mata Atlântica ou a Amazônia pode-se caminhar entre grandes árvores com a impressão de estar no meio de gigantes, e apenas deles. Ainda que não sejam facilmente observáveis, não é difícil imaginar que possam existir pequenos macacos procurando por frutos e os grandes bugios utilizando os troncos mais altos como sua casa, alimento e proteção. Tucanos quebrando castanhas e ararinhas fazendo seus ninhos nos troncos. Vemos besouros e também formigas, e o que mais? Além destes mais óbvios e mais alguns outros, na região da copa, chamada de dossel, pode haver milhares de espécies de outros vegetais, animais e micro-organismos em uma única árvore. Um grande número de vegetais habita essa área extremamente ensolarada, espécies que não sobreviveriam na sombra, ao nível do solo, como bromélias, orquídeas e ervas-de-passarinho. Nestes vegetais, micro-organismos epifíticos e endofíticos habitam os tecidos mais externos ou internos, respectivamente. Entre estes vegetais, diversos insetos colocam suas larvas, que alimentam os macacos e pássaros. Apesar de não ser (facilmente) visível, esta gigantesca biodiversidade está lá. Derrubar uma única árvore é destruir tudo isso. Desmatar uma grande área significa perder para sempre diversas dessas espécies, sem nem mesmo conhecê-las.

Uma estratégia comumente utilizada para que populações possam preservar o meio ambiente é por meio de cursos em que se transmite o conhecimento da importância da outra espécie, e como utilizá-la em seu proveito, sem destruí-la. É comum, por exemplo, que cipós que se desenvolvem no dossel fiquem entrelaçados entre os troncos das árvores e com a retirada de uma espécie de interesse comercial diversas outras sejam mortas na derrubada. Saber da existência destes cipós e como retirá-los e aproveitá-los em artesanatos resulta em melhoria da qualidade de vida da família do madeireiro e na proteção das espécies sem valor comercial e de todas as espécies que ali vivem.

A química é a ciência que estuda as moléculas e suas aplicações. Diversas substâncias que utilizamos para a cura de doenças são obtidas de micro-organismos e plantas. Um dos maiores cientistas da química de produtos naturais, Otto Gotlieb, afirmou certa vez que “uma única molécula nova pode ser mais importante para a humanidade do que a descoberta de uma constelação inteira”. Uma quantidade enorme de outras substâncias ainda reside desconhecida em seres nunca estudados pela ciência. Perdê-los pela ignorância do desmatamento é aumentar o sofrimento e adiar a cura para diversas doenças que assolam a humanidade.

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